Mundo velho sem fronteira

(*) Carlos Brickmann –

O Supremo Tribunal Federal determinou a apreensão do passaporte dos condenados no processo do Mensalão. A Polícia Federal foi informada de que os condenados só podem deixar o país com conhecimento e autorização da Justiça.

Então, tá. O Brasil não produz fuzis AR-15, as bazucas e metralhadoras antiaéreas encontradas com bandidos são fabricadas no Exterior, a maior parte da cocaína aqui consumida vem de outros países. Nada disso, reafirme-se, é importado legalmente: entra numa boa, e em fartas quantidades, apesar das proibições. Um único avião sem piloto comprado para patrulhar a fronteira seca do Brasil foi apresentado à imprensa e em seguida alojado num confortável hangar, onde passa sua vida útil sem ter dado, em mais de um ano, um simples e singelo voo. Por que? Não se sabe; mas tudo que não devia continua cruzando a fronteira.

Se cruza para dentro, por que não para fora? O médico Roger Abdelmassih, condenado a muitos e muitos anos de prisão, está desaparecido. Pode estar fora do país, conforme se especula; talvez esteja em algum lugar desse nosso imenso território, livre, leve, solto e bem protegido. Fora ou dentro, é a mesma coisa: nossa Polícia não tem a menor ideia de onde esteja, com ou sem passaporte.

Como disse o médico de Carlos Lacerda para convencê-lo a suspender uma greve de fome, tenta-se representar Shakespeare no país de Dercy Gonçalves. Baixam-se normas como se por aqui tudo funcionasse. Mas aqui é Brasil.

Se não querem que os condenados fujam, não são proibições que vão impedi-los.

Comida de milionário

O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, enviou resposta à nota Maldita Aritmética, de 4 de novembro. A coluna mostrava que, de acordo com a Justiça Eleitoral, o patrimônio do prefeito Luiz Marinho era de R$ 42.165,10, o que não o impediu de doar R$ 1.175.000,00 ao Comitê Financeiro do PT de São Bernardo.

Diz a resposta, assinada por seu secretário de Comunicação, Raimundo Silva: “O valor de R$ 1.175.000,00 doado pelo prefeito Luiz Marinho ao Comitê Financeiro do PT de São Bernardo refere-se a parte do valor arrecadado em almoço com empresários, realizado no dia 22 de agosto, em restaurante na cidade de São Bernardo do Campo. Participaram desse encontro 81 empresários, contribuindo cada um com R$ 25 mil, totalizando uma arrecadação de R$ 2.025.000,00. Desse valor R$ 1.175.000,00 foi depositado na conta de campanha do então candidato Luiz Marinho (o restante foi depositado direto na conta do Comitê Financeiro do PT), que repassou imediatamente o recurso ao Comitê para custear a campanha majoritária e dos candidatos proporcionais. Portanto, essa doação não foi da pessoa física Luiz Marinho, mas sim do candidato Luiz Marinho, e como se vê acima fruto de um almoço para arrecadação de recursos”.

O Brasil vai bem: tem 81 empresários que, desinteressadamente, se dispuseram a pagar R$ 25 mil, cada um, por um almoço. O Baile de Gala da Brazil Foundation, em Nova York, com leilão de joias e sorteio de bens exclusivos, rendeu US$ 650 mil. Pobrezinhos: pouco mais que a metade do almoço eleitoral.

Primo pobre

O PT deu uma festa no Opera Hall em homenagem ao governador de Brasília, Agnelo Queiroz. A entrada custou R$ 10,00, e cada um pagou o que consumiu.

É festa

É injusto reclamar da anuidade da Ordem dos Advogados. As despesas são muitas. Por exemplo, de acordo com o site da OAB-SP, veja o custo da alimentação: http://www.oabsp.org.br/controladoria/2012/Orcamento%202012%20-%20Despesa%20Anual.pdf.

Quase R$ 2,5 milhões, só em 2012. Exige receita alta!

Vivos, enfim

E agora, chega de coisas esquisitas: jornalistas, intelectuais, boêmios e até políticos organizam o Almoço do Fim do Mundo, num dos restaurantes mais agradáveis e charmosos de Brasília: o Stella Grill. No almoço, dia 21 de dezembro, vão comemorar o fracasso das profecias da moda de que o mundo iria acabar.

Para alguns, até que acabou. Mas aí já não é profecia, é sentença judicial.

Feliz aniversário

Esta segunda-feira merece ser comemorada: o 40º aniversário da Comissão Justiça e Paz, um dos mais importantes instrumentos da redemocratização do país e da luta pelos direitos humanos. A festa também é de trabalho: depoimentos, debates, perspectivas, em dois horários, das 9 às 12h30 e das 19 às 22h30, sempre no Tuquinha – o auditório ao lado da PUC, na Rua Bartira, esquina da Rua Monte Alegre – com entrada livre e gratuita.

O encontro, proposto por Margarida Genevois ao cardeal d. Odilo Scherer, terá gente que vale a pena ver e ouvir: Antônio Cândido, José Gregori, Juliana Santoro, Dalmo Dallari, Mário Simas, Plínio de Arruda Sampaio e outros, que discutirão segurança pública e demais temas. A Comissão Justiça e Paz, criada por D. Paulo Evaristo Arns, então cardeal-arcebispo de São Paulo, desde o início lutou com eficiência pela preservação dos direitos humanos, atingidos pela violência da ditadura militar.

Bob Dylan, a vítima

Tiririca e Suplicy uniram-se para, em dueto, maltratar Blowin’ in the Wind.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.