De economista, técnico de futebol e louco todo mundo tem um pouco

(*) Do Editor –

A última vez que no Brasil um presidente ingeriu nos assuntos da seleção brasileira de futebol, o comunista João Saldanha foi colocado para escanteio e o onze canarinho foi campeão no México sob o comando do sempre competente Mário Jorge Lobo Zagallo. O ano era 1970 e o palpiteiro, Emílio Garrastazu Médici, exalava o olor do totalitarismo.

De lá para cá, alguns governantes deram os seus palpites, pois afinal o Brasil é um país com quase 200 milhões de técnicos de futebol, mas tudo não passou de ufanismo obrigatório. Cada brasileiro tem uma solução para a nossa seleção, uma fórmula mágica, mas na verdade todos são especialistas em criticar.

No sábado (1), durante o sorteio dos grupos da Copa das Confederações, a presidente Dilma Rousseff, que participou do evento em São Paulo, afirmou que a equipe brasileira tem a conquista do torneio como missão. “Para nós, vencer a Copa das Confederações dentro de campo será uma missão”, disse a presidente, que evitou a palavra obrigação para não ser comparada a Médici.

A seleção brasileira tem a obrigação de apresentar um bom futebol para fazer jus à tradição que a envolve, mas vencer é outro assunto. Futebol não é ciência exata e na competição do próximo ano não virão barnabés da bola. Que vença aquele que for mais competente.

Antes de se preocupar com a seleção brasileira e as copas vindouras, Dilma Rousseff deveria dar um jeito na economia nacional, não sem antes de abrir mão de desculpas vergonhosas. Alegar que o crítico momento da economia brasileira é reflexo da crise europeia é, no mínimo, um atentado contra a própria consciência. A presidente sabe que a economia nacional está na marca do pênalti e que a solução é doméstica, mas apela à paixão do povo pelo futebol para enganá-lo.

Esse script o País já viu como funciona à época daquela fatídica marchinha encomendada pelos militares – “90 milhões em ação, pra frente Brasil…” – ou, então, com a frase de efeito, também sob encomenda, “Brasil: Ame-o ou Deixe-o”. Dilma Rousseff, que tanto asco nutre pela plúmbea era verde-loura, não pode cometer esse suicídio ideológico e imitar aqueles que ela tanto combateu.

A medieval teoria do pão e circo funciona com a parcela não pensante da população, que se contenta com as esmolas sociais ou com a possibilidade de empilhar carnês vencidos na gaveta do móvel da sala. Foi assim que Luiz Inácio da Silva reinventou a classe média, com dezenas de milhões de endividados, num país em que a extensa maioria recebe menos do que o necessário para sobreviver com doses rasas de dignidade.

Quando um governante não sabe mais como explicar e resolver os problemas do próprio governo, a saída é apelar ao mais eficiente anestésico da consciência popular, o futebol. É como publicitário sem uma ideia luminosa, que coloca no comercial um cachorro simpático, uma criança cativante ou uma mulher de curvas voluptuosas. Sucesso garantido!

Difícil é ter de aceitar a desculpa palaciana de que o desempenho da economia foi trágico no terceiro trimestre do ano apenas porque o juro ao consumidor caiu e os bancos lucraram menos. Admitir a incompetência do governo e reconhecer que os assessores presidenciais são néscios confessos seria menos desonroso.

Um país que depende dos lucros escorchantes dos banqueiros para manter o PIB em alta precisa fechar para balanço, quiçá recomeçar do zero. Que alguém convença a presidente a contratar um novo centroavante para a economia, pois do jeito que vai o Brasil corre o risco de ser eliminado na próxima fase.

O Editor