Pano quente – Nos idos de 2005, Luiz Inácio da Silva reconheceu a existência do Mensalão do PT e disse, em pronunciamento à nação, que o partido devia desculpas aos brasileiros. Só acreditou naquela fala visguenta que de fato desconhece a essência do ex-metalúrgico. O tempo passou, a CPI dos Correios fechou as cortinas e o maior escândalo de corrupção da história nacional saiu da pauta do cotidiano.
Com a aproximação do julgamento do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, a cúpula petista, preocupada com os resultados, refez o discurso e passou a dizer que o escândalo foi uma tentativa de golpe da oposição, que à época queria derrubar Lula do poder. Mentira desmedida, algo comum no Partido dos Trabalhadores. A sandice prosperou junto com o julgamento e ao golpe tentado pela oposição juntaram-se setores da imprensa e o Judiciário.
Como negar o inegável é missão impossível, até porque contra fatos na há argumentos, alguns petistas passaram a amenizar o discurso, não porque tiveram um surto de coerência, mas porque era preciso criar uma situação que blindasse o ex-presidente Lula, o chefe maior do Mensalão do PT.
O primeiro a defender que os culpados pelo escândalo deveriam ser punidos foi o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo. Na sequência surgiu a presidente Dilma Rousseff, afirmando que a decisão do Supremo deveria ser acatada. Em seguida volta à cena o ministro da Justiça e diz que decisão do STF é lei. Em outras palavras, começava a operação para atirar os mensaleiros condenados aos leões, porque qualquer investigação pode chegar até Lula.
A missa encomendada não parou por aí. Na última semana, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, o governador Tarso Genro, do Rio Grande do Sul, disse que o PT precisa esgotar “a agenda de solidariedade” aos condenados na Ação Penal 470, como destacamos em matéria publicada na edição deste último dia de 2012.
Para reforçar a discurso feito sob medida, nesta segunda-feira (31) a Folha traz entrevista em que o prefeito eleito Fernando Haddad, de São Paulo, afirma que coloca “as duas mãos no fogo” por Lula. Haddad seguiu cumprindo a ordem partidária e disparou: “Acho uma coisa absolutamente temerária esta pessoa, o Marcos Valério, depois de anos defendendo reiteradamente uma versão, agora mudar. É temerário se atribuir o valor que está se atribuindo a esse depoimento. A partir do momento em que muda ao sabor das circunstâncias, a credibilidade dessa pessoa é que precisa ser discutida”.
Essa mudança repentina de opinião sobre o escândalo do mensalão por parte de petistas destacados é sinal de desespero diante da possibilidade de Lula acabar no banco dos réus, seja de uma CPI, seja do Judiciário. A operação de blindagem a Lula foi deflagrada após a Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que flagrou Rosemary Noronha em um dos vértices do esquema criminoso incrustado no governo federal.
Partícipe de uma quadrilha que tinha no topo Paulo Vieira e seu irmão, Rubens, a ex-chefe de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo, Rose, a Marquesa de Garanhuns, se apresentava como a namorada de Lula. Já Paulo Vieira, que já ameaçou revelar detalhes explosivos sobre o esquema de venda de pareceres, dizia nas reuniões ser ligado a José Dirceu e de interferir nas decisões da Presidência da República. Convenhamos que no mundo há perturbados das mais distintas espécies, mas ninguém é irresponsável e criminoso a ponto de fazer uma afirmação como essa, sem que a mesma tenha ao menos uma ponta de verdade.
A blindagem a Lula tornou-se ainda mais necessária depois que começaram a vazar os documentos que dão suporte às recentes de Marcos Valério, que afirmou à Procuradoria-Geral da República que o ex-presidente sabia do Mensalão do PT e autorizou a contratação de empréstimos bancários para viabilizar a compra de parlamentares no Congresso Nacional.
Como se fosse pouco, Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, deixou a prisão avisando que mostraria ao Brasil a verdadeira face do PT. Se o contraventor goiano cumprir a promessa, por enquanto estancada por seus defensores, o governo da presidente Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores simplesmente desaparece do cenário político nacional.