Declaração de Roberto Gurgel confirma denúncia do ucho.info sobre a extensão do Mensalão do PT

Pingos nos is – Na entrevista que concedeu ao jornal “Folha de S. Paulo”, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, revelou o que os leitores do ucho.info sabem há muito tempo. Que o esquema do Mensalão do PT é “muito maior, muito mais amplo, do que aquilo que acabou sendo objeto da denúncia”. De acordo com Gurgel, “o que constou da denúncia foi o que foi possível provar, com elementos razoáveis para dar a base [a ela]”.

Por causa da ação do rolo compressor do Palácio do Planalto durante a CPI dos Correios, cujas investigações serviram de base para a denúncia do Ministério Público, muitas informações e provas documentais deixaram de constar do relatório final, elaborado pelo deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR), que até se indigna quando ouve alguém dizer que o Mensalão do PT foi uma tentativa de golpe da oposição. Integrante da base aliada e dono de reputação incontestável, Serraglio foi impedido à época de avançar nas investigações.

O próprio presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-SP), reconheceu a importância da atuação deste site nas investigações do esquema criminoso que quase levou Lula ao impeachment. “Eu gosto muito do site pelo grande dinamismo. Eu mesmo já levei umas cutucadas, mas digo que é um jornalismo que forma a opinião pública e que desperta o interesse de toda a classe política. O site já foi citado em investigação de CPI, em comissões do nosso trabalho comum, no plenário e na imprensa. Os políticos e a opinião pública estão atentos a esse trabalho interessante e bem feito”, declarou Amaral.

O esquema do Mensalão do PT não se limitou ao dinheiro desviado dos cofres públicos e aos empréstimos intermediados por Marcos Valério nos bancos Rural e BMG. Ex-secretário-geral do Partido dos Trabalhadores, Silvio Pereira, o “Silvinho Land Rover”, já declarou que o objetivo do maior escândalo de corrupção da história nacional era abastecer os cofres do partido com R$ 1 bilhão. E o ex-presidente Lula sabia de toda a trama, o que justifica a já tardia investigação do ex-metalúrgico que chegou ao poder na esteira do discurso da ética e da moralidade.

Sem ter alcançado o criminoso objetivo financeiro, o caixa do Mensalão do PT movimentou perto de R$ 400 milhões. A diferença entre o valor que consta da denúncia e o movimentado foi patrocinada por doações de empresários que almejavam se aproximar das autoridades palacianas e realizar negócios nada ortodoxos com o governo petista. Entre eles está o antigo controlador de duas empresas de telefonia celular, cujas contas publicitárias estavam a cargo das agências de Marcos Valério e seus sócios. As campanhas de ambas as operadoras de telefonia eram escandalosamente superfaturadas, sendo que a diferença abasteceu o caixa do esquema criminoso.

O Mensalão do PT, como já denunciamos, tem conexão com o caso da brutal e covarde morte de Celso Daniel, então prefeito de Santo André e que em 2002 estava cotado para assumir o Ministério da Fazenda em caso de vitória de Lula. Celso Daniel foi seqüestrado e assassinado porque discordou do destino dado ao dinheiro das propinas cobradas no município do Grande ABC, que deveria financiar a campanha presidencial petista. Contudo, o dinheiro foi desviado por integrantes do esquema e serviu para financiar a compra de confortáveis e caras residências de veraneio nos arredores da capital paulista.

Boa parte desse dinheiro imundo que foi arrecadado junto a empresários de Santo André estava depositada em contas bancárias no exterior, que após a morte do ex-prefeito ainda registraram movimentações. O enigma era como repatriar o capital criminoso para dar sustentação à primeira etapa do projeto de poder do PT. Foi quando surgiu a ideia dos empréstimos fictícios, pois as instituições financeiras envolvidas no esquema tinham e ainda têm bancos e empresas em paraísos fiscais. O dinheiro das propinas de Santo André foi transferido para esses bancos “estrangeiros”, sendo que o valor equivalente acabou repatriado pelos tais empréstimos fictícios.

Os executivos dos bancos que participaram do Mensalão do PT sabiam que os empréstimos não seriam pagos, até porque o equivalente já havia sido transferido no exterior. Em termos contábeis, a suposta inadimplência, que não seria contestada judicialmente, permitiria às instituições lançar os respectivos valores no balanço sob a rubrica de “prejuízo”. Em suma, uma operação financeira criminosa que favoreceu ambas as partes.

A Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal têm provas suficientes para justificar a abertura de novo inquérito para investigar a segunda fase do Mensalão do PT, que poderá levar à prisão um número ainda maior de pessoas se comparado com o de condenados na Ação Penal 470. Basta vontade e perseverança por parte das duas instituições para que isso ocorra e o Brasil passe a limpo mais uma das imundas páginas de sua história recente.

Não por acaso, por saber demais sobre as entranhas do Mensalão do PT, o editor do ucho.info teve a mãe sequestrada, foi alvo de um plano de sequestro que malogrou porque o próprio desmontou a operação contratada por R$ 500 mil, seus filhos foram ameaçados, seu carro destruído, telefones grampeados, além de perseguições que duraram meses a fio. Fora isso, uma das ameaças de morte foi revelada a um alto integrante do Judiciário, que comunicou o fato ao editor com celeridade.