Ministério da Saúde quer controlar presença de médicos nos hospitais públicos, onde faltam profissionais

Sem noção – Diz o jornalista José Simão, da “Folha de S. Paulo”, que o Brasil é o país da piada pronta. E com o governo que aí está não há como ser diferente, uma vez que as autoridades sempre colocam a tranca na porta depois de o ladrão fugir. E na maioria das vezes o cadeado não funciona.

Nesta sexta-feira (18), o Ministério da Saúde, por determinação do titular da pasta. Alexandre Padilha, anunciou novas medidas para controlar a presença de médicos e profissionais do setor nos hospitais da rede pública. A decisão foi tomada depois que a garota Adrielly dos Santos, atingida por uma bala perdida na cabeça na noite de Natal, esperou durante oito horas por uma cirurgia no Hospital Salgado Filho, na cidade do Rio de Janeiro. Transferida dias depois do incidente para o Hospital Souza Aguiar, que é de competência do governo estadual, Adrielly morreu em 4 de janeiro passado.

Essa inovação (sic) do Ministério da Saúde é tão inócua quanto oportunista, pois para que a ideia prospere é preciso ter quem controlar. Como faltam médicos e profissionais da saúde em todos os hospitais públicos do País, monitorar o ponto de servidores que inexistem é o mesmo que vender vento no meio de um furacão.

A galhofa oficial torna-se ainda maior com a decisão do Ministério de vistoriar in loco 27 hospitais públicos, um em cada capital, como parte do plano de controle de presença dos profissionais. Acontece que os herdeiros de Aladim que trabalham no Ministério da Saúde ainda precisam escolher os hospitais a serem vistoriados e agendar a visita. Ou seja, no dia da vistoria todos os servidores estarão presentes. Ao mesmo tempo, deixarão de comparecer os servidores que não existem.

A saúde pública no Brasil é um atentado contra o bom senso, apesar de Lula, o Messias tupiniquim, ter garantido, em 2006, que o setor estava a um passo da perfeição. Como até hoje ninguém sabe qual é a definição de Lula para o vernáculo “perfeição”, a saúde pública continua cambaleante.

Antes de qualquer ação pirotécnica é preciso que o governo se conscientize que um dos gargalos na saúde pública é a baixa remuneração dos profissionais, que acabam optando pelo setor privado da medicina. No caso da menina Adrielly dos Santos, as regras do Conselho Federal de Medicina determinam que um hospital, como o Salgado Filho, tenha no plantão pelo menos três neurocirurgiões. Ora, se o hospital tem apenas um neurocirurgião no plantão e que resolve não trabalhar, o caos é que se pode chamar de resultado automático.

Se esse tipo de situação ocorre em uma cidade como o Rio de Janeiro, a segunda mais importante do País, não é difícil imaginar o que acontece nos hospitais dos mais distantes e abandonas rincões verde-louros. Para não ir tão longe, basta visitar um hospital público no Maranhão, onde médicos são obrigados a apelar à população para alimentar os pacientes, muitas vezes internados, sem a menor condição de higiene, em corredores e recepções.

Caso o infortúnio de Adrielly dos Santos tivesse ocorrido em um hospital público de algum estado governado pela oposição, a gritaria já teria tomado conta do País. Não custa lembrar a decisão do então presidente Lula de intervir nos hospitais públicos da capital fluminense, quando César Maia era o prefeito da cidade. Como o estado do Rio de Janeiro e a Cidade Maravilhosa estão sob o comando político de aliados – Sérgio Cabral Filho e Eduardo Paes, respectivamente – o PT palaciano preferiu anunciar mais uma medida inócua e pirotécnica, apostando no viés ignaro da extensa maioria da população.

O PT, reiteramos, há dez anos brinca de governar, administrando uma nação com dimensões continentais como se fosse um boteco de pinguços fincado à porta de uma fábrica qualquer. Quando acontece um problema maior decorrente da incompetência oficial, provocando repercussão negativa, esses dublês de gênios surgem com remendos, como se o Brasil tivesse vocação para colcha de retalhos. O mais bisonho nessa epopeia da saúde pública brasileira – perfeita para Lula – é que o ministro Alexandre Padilha é médico.

Considerando que a absurda ideia deve ser levada adiante, em breve o PT dará mais um tiro no pé, porque aquilo que a população reclama há décadas será confirmado oficialmente. E a partir de então não haverá como o governo continuar fugindo da responsabilidade. Aguardemos, pois!