Abre-te, Sésamo

(*) Carlos Brickmann –

Pode ficar escandalizado desde já: na semana que vem, o senador Renan Calheiros deve ser eleito presidente do Senado (e, portanto, presidente do Congresso). Continue escandalizado: a menos que aconteça algo totalmente inesperado, o deputado Henrique Alves será eleito presidente da Câmara (e, portanto, o segundo na linha sucessória da Presidência da República, atrás apenas do vice-presidente Michel Temer). Aliás, se por qualquer motivo Alves não puder substituir a presidente da República, o próximo na linha sucessória será Renan.

Pode deixar de escandalizar-se. Renan e Henrique Alves, ambos do PMDB, são amplamente conhecidos pelos eleitores. Renan já teve de renunciar à Presidência do Senado, para não ser cassado, quando alguns dos assuntos que julgava particulares foram trazidos a público. Henrique Alves brigou com a própria irmã gêmea, Ana Catarina, por disputa de poder político; brigou com a ex-esposa, Mônica Azambuja, pela partilha de bens depois do divórcio (ela o acusou de subestimar o patrimônio do casal e de ter remetido irregularmente muito dinheiro ao Exterior). No caso dele, tudo já está certo: esta sua ex-esposa – bem como o filho de Henrique Alves – estão bem empregados em Brasília, na Conab, Cia. Nacional de Abastecimento, velho feudo do partido de ambos, o PMDB.

Nada disso é secreto; e, nas campanhas eleitorais, foi levantado por seus adversários. Mesmo assim, ambos foram eleitos. Então, caro eleitor, assuma a culpa: eles não chegaram lá sozinhos.

Jamais teriam êxito sem seu precioso voto.

O erro de Lula

Renan deve ser eleito presidente do Senado pela maioria dos 81 senadores; Henrique Alves deve ser eleito presidente da Câmara pela maioria dos 513 deputados federais. Todos os parlamentares conhecem o suficiente de ambos para saber que votar neles significa, no mínimo, aprovar seus métodos e transformar em currículos aquilo que seria mais correto classificar como folhas corridas. Quando Lula (antes de ser eleito presidente) disse que no Congresso havia 300 picaretas, foi muito criticado por isso.

Lula efetivamente estava errado: calculou por baixo.

Sustentabilíssimo

Depois de dois anos de silêncio, após as eleições de 2010 – quando ficou em terceiro, com imensa votação, e se transformou na maior revelação da disputa – Marina Silva está de volta. Agora, pensa em criar um novo partido, seguindo o exemplo do ex-prefeito Gilberto Kassab. O partido que Marina quer é verde, mas não é o Partido Verde, que considera não muito adequado (e tem razão: o presidente dos Verdes é o ex-ministro Sarney Filho – exatamente, é aquele em quem o caro leitor está pensando).

As articulações para o novo partido começaram ontem, 22, em São Paulo, numa reunião dosmarineiros do Movimento por uma Nova Política com possíveis aliados. Marina quer atrair a alagoana Heloísa Helena, fundadora do PSOL; e tem o sonho de convencer Fernando Gabeira, símbolo do movimento verde brasileiro, a acompanhá-la. Será difícil: Gabeira acha que o mais adequado para ela seria entrar no Partido Verde, já estruturado em todo o país, arejá-lo e modernizá-lo. Não é este, ao menos por enquanto, o projeto de Marina.

Em seus planos, o novo partido será fundado em meados de fevereiro, no Rio, com o nome escolhido numa enquete promovida entre os simpatizantes.

Alô, nobres senhores!

A Polícia Federal prendeu no aeroporto internacional de Guarulhos, SP, um passageiro com mais de três quilos de cocaína na cueca, com passagem firmada para Doha, no Qatar. Está quase virando moda: já houve a prisão, também no aeroporto, de um cavalheiro que carregava US$ 100 mil na cueca, e que até hoje, vários anos depois, ainda não revelou a origem e o destino do dinheiro.

O homem das cuecas com dinheiro era assessor e homem de confiança do deputado José Nobre Guimarães (hoje líder do PT na Câmara Federal). Importante: nunca foi comprovada qualquer participação do deputado no episódio. O novo preso, o das cuecas com cocaína, será assessor de alguma figura ilustre deste nosso país?

Quem canta…

Jamelão, grande cantor popular, compositor e puxador dos sambas da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, nasceu em 1913. Este é o ano de seu centenário; ano ideal para uma homenagem da escola onde nasceu, cresceu e morreu, cujo samba puxou por 58 anos e da qual foi presidente de honra de 1999 até o ano de sua morte, 2008. E qual será o samba-enredo da Mangueira?

Não, nada de Jamelão: nem quando era vivo poderia arcar com os custos da homenagem. O enredo do samba depende hoje do patrocinador. Mangueira vai cantar a história de Cuiabá, a bela capital de Mato Grosso. Cuiabá, conforme informações não oficiais, prometeu ajuda de R$ 5 milhões ao Carnaval da Mangueira. E qual a relação de Cuiabá com a Mangueira? Fortíssima: R$ 5 milhões.

…mais forte

E Jamelão? A homenagem foi terceirizada, caro leitor. Um dos maiores símbolos da história da Mangueira será cantado pela Unidos do Jacarezinho, uma escola que acaba de chegar à segunda divisão do samba carioca.

Jamelão que fique num canto do sambódromo: morto não reclama, morto não paga.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.