Como quebra-cabeça com peças trocadas, economia piora no rastro da incompetência do governo

Sem saída – A redução da tarifa de energia elétrica, cujo anúncio foi feito mais uma vez pela presidente Dilma Rousseff na última semana, criou uma zona de atrito entre Palácio do Planalto e o Banco Central, que há dias informou que o desconto médio na conta de luz, ao longo do ano, não passará de 11%. O constrangimento irritou a presidente, que mandou um recado duro à direção do BC, que prometeu refazer os cálculos.

Tomando como certa a conta feita pelos técnicos do Banco Central, o embuste do governo é ainda mais extenso do que se imaginava, uma vez que o benefício aos consumidores será menor do que as indenizações que serão pagas com dinheiro público às geradoras de energia que aderiram ao plano palaciano de renovação antecipada das concessões. Em outras palavras, o governo beneficiará o consumidor com uma mão e tirará com duas.

Apenas para se ter ideia do tamanho da conta, o governo gastará R$ 8,5 bilhões por ano com esse subsídio à energia elétrica, solução mágica encontrada pelas autoridades para reverter a crise econômica, como se esse fosse o maior dos problemas.

Desde que assumiu o poder central, Dilma tem dados as ordens finais na área econômica, colocando na corda bamba o País que viu escorrer pelo ralo a última década. Enquanto insiste na tese de que o enigma da crise é externo, sem resolver o amontoado de problemas internos, o governo teima em apostar no consumo como saída para o problema. Uma aposta equivocada, pois já ficou provado pelos números oficiais que a solução está na adoção de medidas que o governo não toma por incompetência.

O consumo está aquecido, as taxas de juro caíram, o crédito ainda é fácil e o índice de desemprego é baixo, apesar de a mão de obra ser desqualificada. No contraponto, a inflação é resistente e saiu do controle das autoridades, a carga tributária é elevada, a indústria não suporta a concorrência externa, o governo demora a investir adequadamente na infraestrutura e a economia não decola.

Repetindo o que ocorreu no começo de 2012, quando o ministro Guido Mantega anunciou que a economia cresceria na casa dos 4%, as previsões para este ano estão caindo semana após semana. A previsão do crescimento do PIB para 2013 começou em 3,5%, mas está em curva descendente e as apostas do mercado financeiro não passam de 3%.

Não será com a redução da tarifa de energia elétrica que a autoritária Dilma Rousseff reverterá a crise econômica, provocada basicamente por problemas caseiros. Até porque, essa decisão é político-eleitoral e custará muito mais do que seguir a sugestão do Tribunal de Contas da União (TCU), que entende que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve devolver aos consumidores R$ 7 bilhões cobrados a mais nas contas de luz, entre os anos de 2002 e 2009.

Comandada por Nelson Hübner, homem de confiança da presidente, o que mostra o aparelhamento político das agências reguladoras, a Aneel já informou que não devolverá o dinheiro aos consumidores. Assim funciona o Brasil, mas tem gente que acredita nos efusivos e ufanistas discursos que brotam no Palácio do Planalto.