Investigações sobre a tragédia de Santa Maria começam a emperrar e a desafiar a lógica

Muito estranho – Há no cenário de apuração da tragédia de Santa Maria algo que não confere com a sequência dos ditames legais. Tão logo o acidente aconteceu o acidente no Rio Grande do Sul, estado governado pelo petista Tarso Genro, a companheira de legenda Dilma Rousseff deixou o Chile e rumou para o local do ocorrido. Com Dilma estavam algumas autoridades, também integrantes do partido, que a acompanharam à capital chilena, e outras que vieram de Brasília. É o caso do ministro Alexandre Padilha, da Saúde.

O presidente da Câmara dos Deputados, o petista gaúcho Marco Maia, que deixa o cargo no próximo dia 4 de fevereiro, foi célere e anunciou a criação de uma comissão parlamentar para acompanhar a apuração do acidente, indicando como chefe da missão o também petista Paulo Pimenta, deputado federal nascido em Santa Maria e que está sendo acusado, ainda sem provas, de ser o verdadeiro dono da boate onde ocorreu a tragédia.

O governador Tarso Genro determinou que as investigações fossem rápidas, mas as autoridades policiais que cuidam do caso até a noite de segunda-feira (28) ainda não tinham enviado um ofício aos bombeiros solicitando os documentos relacionados à tragédia. Como se sabe, o Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul, assim como acontece em todos os estados brasileiros, é uma partição da Brigada Militar gaúcha.

Comprovado algum equívoco da corporação na emissão do laudo que serviu de base para o alvará de funcionamento da boate Kiss, o governo estadual poderá ser indiciado como corresponsável pela tragédia. E a única coisa que o PT não precisa no momento é de um caso dessa natureza para emoldurar a letargia que domina o partido na administração federal.

Em Brasília, durante encontro com prefeitos, Dilma Rousseff preferiu se adiantar e falou na criação de uma lei que evite tragédias como a de Santa Maria, onde 231 pessoas morreram.

Paulo Pimenta, o mesmo que durante a CPI dos Correios encontrou-se de madrugada com Marcos Valério na garagem do Senado Federal, não fugiu ao padrão adotado pelos companheiros de legenda e ameaçou processar e colocar a Polícia Federal no encalço daqueles que o acusam de ser o dono da Kiss. Ao invés de pegar carona na truculência que domina os bastidores do politburo tupiniquim, Paulo Pimenta poderia se restringir a provar que não é o proprietário do palco da tragédia e ponto final.

Politizar tragédia não é o caminho adequado, mas a preocupação dos petistas em blindar as investigações começa a suscitar dúvidas entre os brasileiros de bem. O mais correto nesse caso, para manter a transparência e a independência, era chamar a Polícia Federal para comandar as investigações.