Se o governador Tarso Genro fosse corajoso, o delegado de Santa Maria já estaria exonerado e preso

Olho da rua – Quando o ucho.info afirma que no caso da tragédia de Santa Maria há nos bastidores uma operação abafa, com o objetivo de tirar o Palácio Piratini, sede do Executivo gaúcho, da reta da culpa, alguns desinformados nos acusam de jornalismo sórdido e desrespeito às vítimas. Na verdade, quando escrevemos o que temos certeza e fazemos afirmações dessa natureza é porque estamos defendendo os mais fracos diante do poderio e da truculência do Estado. E nesse caso os mais fracos são as vítimas fatais, os feridos e as respectivas famílias.

Como afirmamos em matéria anterior, na edição desta quinta-feira (31), autoridade quando fala em inquérito rigoroso pode aguardar porque o marmelo está no tacho e o fogão à lenha, ardente. É marmelada na certa.

O grande erro do Partido dos Trabalhadores, deixando de lado a corrupção, que é “hors concours”, é não combinar com antecedência o discurso da mentira. Horas depois do incêndio que matou 235 pessoas na boate Kiss, o governador Tarso Genro disse que a investigação seria rigorosa. É inimaginável que um ex-ministro da Educação e da Justiça não saiba que investigação por si só deve ser rigorosa, sob pena de a autoridade policial culpar um inocente.

Autoridade que fala demais, que dá entrevista até quando abre a porta da geladeira na madrugada, porque não resiste a um holofote na direção da própria face, ou é incompetente ou está a serviço de alguém. O delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, responsável pelo caso da boate, fala demais. Policial bom é aquele que segue a lógica do corpo humano e fala menos e ouve mais. E não foi por acaso que Deus criou o homem com uma boca e duas orelhas. Mas isso é difícil caber no pensamento de alguém que busca alguns minutos de fama.

Investigar um caso como o da casa noturna santa-mariense, que foi consumida pelas chamas, não é tarefa fácil e exige tino policial, tempo, dedicação e discrição. O que não tem ocorrido. A ordem é culpar alguém, antes que o oficial de Justiça bata à porta do gabinete de Tarso Genro com uma intimação para depor no inquérito. Como isso jamais acontecerá, o processo de condenação por antecedência já começou.

Arigony, pasmem leitores, pasmem gaúchos, conseguiu, em meio à investigação, tempo para se dedicar à sua página no Facebook. E nela publicou uma foto de uma foto que ele próprio afirma que pode ser da boate Kiss. Em investigação de crime não existe “pode”, “talvez”, “acho”, “quem sabe”, e outros tantos vernáculos que remetem à dúvida. Na investigação policial, manda a lógica, é ou não é.

Sem respeitar a dor dos familiares que perderam pessoas queridas em uma tragédia, o delegado usou como legenda da foto, que traz um grupo de jovens ao lado de chamas, a frase “tirem suas conclusões”. A sociedade não tem que concluir coisa alguma. A responsabilidade pela conclusão em um inquérito policial é da autoridade, que é pontual e regiamente paga para isso.

Na postagem que fez no Facebook, Marcelo Aragony escreveu que recebeu a foto e comentou. Ao que parece, Aragony é daqueles policiais adeptos da pasteurização do pensamento. Ladrão via de regra utiliza motocicleta para facilitar a fuga, mas nem todo motociclista é ladrão. Mas tem autoridade que pensa de forma contrária. Um delegado que recebe uma foto, sem saber a procedência e a veracidade da mesma, e faz conjecturas, deveria ser afastado. Isso não é atitude de um profissional responsável a quem foi confiado o comando de uma investigação complexa, que Tarso disse que seria rigorosa. E o rigor balbuciado pelo governador está à mostra para o Brasil inteiro conferir.

Na manhã desta quinta-feira (31), Marcelo Aragony, que parece sofrer de histrionismo, não resistiu aos holofotes e microfones e comentou o caso. “Parece ser na Kiss. Postei para mostrar que estamos na linha certa. É muito temerário falar qualquer coisa nesse sentido, mas é óbvio que usam fogos (na Kiss). Não só lá, mas também em outras boates”, disse o delgado à reportagem do RBS TV.

Para ser governante não basta vocação, talento político, popularidade, dinheiro para a campanha e outros badulaques mais. É preciso ser corajoso e comprometido com a verdade, o que não é o caso de Tarso Genro.

Fosse o Brasil um país minimamente sério e Tarso Genro exalasse parcas doses de coragem, o delegado Marcelo Aragony já estaria demitido a bem do serviço público e preso, porque o que esse policial vem fazendo é tripudiar sobre os cadáveres para conquistar fama e eventualmente promoção. Tarso Genro deveria desembarcar em Santa Maria e dar voz de prisão a esse “xerife de araque” que precisa não tem condições psicológicas de carregar um arma na cita e precisa de um divã de analista.

Contudo, uma coisa é certa: a boate Kiss acabou, mas o circo de Tarso se instalou em Santa Maria. O Rio Grande do Sul, pela grandeza do estado e lhaneza do seu povo, não merece isso.