Passando a borracha – Dizem os clérigos que mentir é pecado, que torna-se ainda maior quando um religioso falta com a verdade ou tenta travesti-la por interesses múltiplos. Na última missa que rezou como papa, Joseph Ratzinger falou em hipocrisia da fé e divisão de poderes. Foi diplomático ao não chamar de bandidos os que frequentam os corredores do Vaticano e desrespeitam descaradamente os mandamentos de Cristo, um dos pilares da Igreja Católica.
Bento XVI direcionou sua fala para o maior problema da Santa Sé, os escândalos de corrupção marcam a Praça São Pedro há algumas décadas. Os cardeais que participaram da missa de Cinzas sabem exatamente ao que o papa se referia. Há uma organização criminosa intramuros que não será desbaratada tão cedo, se é que isso um dia acontecerá.
Arcebispo da diocese de São Paulo, o cardeal Dom Odilo Scherer prefere a contramão da lógica e dos fatos e afirma que Bento XVI não mandou recado algum e que inexiste divisão interna na Igreja Católica. A fala de Scherer é explicável, não justificável, porque a Igreja Católica, que sangra por causa da saída de Ratzinger, pode perdem um bom número de fiéis para as igrejas pentecostais, que no Brasil crescem e avançam em ritmo acelerado. Religião é uma coisa, fé é outra. Religião é negócio, fé é de graça.
Dom Odilo Scherer, com todo o respeito que merece como ser humano e clérigo, não pode fechar os olhos para a realidade, por mais dura que seja. Desde que a Opus Dei passou a controlar a Igreja Católica, o Vaticano transformou-se em um covil, o que não invalida os ensinamentos de Jesus Cristo, que, segundo os relatos históricos, jamais pregou o banditismo, a corrupção, a lavagem de dinheiro, os assassinatos por encomenda.
Dom Odilo Scherer, que é um dos candidatos com alguma chance de transformar-se em pontífice, não pode negar a conivência burra e covarde de Paulo VI com os crimes cometidos na Santa Sé. Ter como assessor Paul Marcinkus, um criminoso truculento não é bom sinal. Como também não é bom sinal nomear um integrante da Cosa Nostra, Michele Sindona, para ser assessor financeiro do Vaticano.
Dom Odilo Scherer não chegou ao comando da arquidiocese de São Paulo porque é um incauto. No íntimo o cardeal sabe os motivos que levaram Albino Luciani (João Paulo I) à morte e patrocinaram o atentado contra Karol Wojtyla (João Paulo II).
Os 119 cardeais que participarão do conclave para eleger o substituto de Ratzinger escolherão alguém que dê continuidade ao staus quo, que em vão três pontífices tentaram liquidar: Bento XVI, João Paulo II e João Paulo II.
Bento XVI foi claro, polêmico e incisivo na missa da quarta-feira de Cinzas (13), mas Odilo Scherer prefere insistir na tese de que a renúncia de Ratzinger se deu por motivos de saúde. O irmão do papa diz exatamente o contrário, afirmando que foram as transgressões que o levaram a desistir do cargo. Clique e confira o cenário que levou Joseph Ratzinger a abreviar o seu pontificado.