Pior do que a obediência burra do governo brasileiro a Cuba é a cretinice desmedida dos palacianos

    (*) Ucho Haddad –

    Há dias, na rede mundial de computadores, acompanhei a sandice de um direitista convicto, que como tal não se incomoda em abraçar mortalmente a esquerda se isso lhe render alguns patacões, que afirmava que Dilma Rousseff, a “gerentona” inoperante, jamais se curvou à ditadura dos irmãos-ditadores Fidel e Raúl Castro, que durante cinco décadas não pensaram duas vezes para trucidar seus adversários. Dilma não apenas se mostrou genuflexa à dupla de facínoras, como se recusou a comentar, em Havana, a violação dos direitos humanos no caso dos dissidentes do regime da ilha caribenha, mantidos presos em condições degradantes. Se esse comportamento não é se curvar a um regime truculento e de exceção, que alguém explique o que é.

    Voltando no tempo, outro episódio liga a presidente à obediência burra à ditadura castrista. Então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma simplesmente silenciou quando o fanfarrista Lula ordenou que dois pugilistas cubanos, que participaram dos Jogos Pan-Americanos do Rio e tentaram desertar após a competição, fossem presos e devolvidos ao governo de Havana. Em outro episódio, Dilma assistiu, também sem qualquer manifestação contrária, o esforço do companheiro Lula para que Cesare Battisti, o assassino, não fosse deportado para a Itália, onde teria de cumprir pena de prisão perpétua. Ou seja, o movimento dos atuais inquilinos do Palácio do Planalto oscila de acordo com os interesses do comunismo.

    Quando esteve em Cuba e se recusou a tratar com Fidel Castro o caso dos dissidentes do regime que estavam encarcerados, Dilma explicou aos jornalistas que o governo brasileiro não interfere em assuntos internos de outros países. Uma resposta diplomaticamente correta, mas humanitariamente covarde. Não se poderia esperar outra postura de alguém que classifica como crimes da época da ditadura apenas os que tiveram militares como agentes. Sequência lógica do pensamento de um comunista, que faz da isonomia a mais estranha das palavras.

    Quando o parlamento paraguaio cumpriu a Constituição local e ejetou o padreco Fernando Lugo do poder, Dilma se apressou em liderar um movimento para suspender o Paraguai temporariamente do Mercosul. Em outras palavras, aos companheiros de esquerda, todas as benesses com direito ao que for proibido, aos adversários que cumprem a legislação, nada mais do que o rigor da lei. No caso de Lugo, o governo brasileiro entendeu que poderia imiscuir nos assuntos do Paraguai. Simples assim, porque Lugo é “cumpanhero” de esquerda.

    Tão logo Lula chegou ao poder central, em janeiro de 2003, não hesitei em afirmar que o Brasil começava a dar os primeiros passos rumo a um perigoso processo de “cubanização”. Resumindo, o ex-metalúrgico estava decidido, respeitando a contemporaneidade, a repetir em um país continental o modelo político da ilha que é cercada pela tirania dos Castro. À época, fui acusado de avançar o sinal, mas conhecendo Lula não mudei de ideia. Até porque, quem nos palanques do ABC criticava a ditadura e nos bastidores fazia acordo com militares não merece confiança alguma. E a confirmação do que previ está a circular pelo Brasil para quem quiser conferir. Profecia, bola de cristal? Não, apenas o uso do raciocínio diante de fatos que a história não desmente.

    Não se pode esquecer o caso dos dólares entregues por um espião cubano, em Brasília, a Vladimir Poleto, homem de confiança do ex-ministro Antonio Palocci Filho. Poleto disse, em entrevista, que recebeu do tal agente cubano três caixas de bebidas lacradas, que foram levadas para Ribeirão Preto em um avião Sêneca. Por mais preciosas e valiosas que fossem as bebidas – o que não era o caso – o aluguel da aeronave ficou mais caro do que o alegado conteúdo das caixas. Na verdade, Vladimir Poleto levou à cidade do interior paulista uma boa quantidade de dólares.

    Todo comunista que se preze é um poço de falsidades. Enquanto oposição, bate no peito e defende de forma aguerrida a democracia, a liberdade e o fim da corrupção. Uma vez no poder, inverte os pólos e muda o discurso radicalmente, passando a agir como o oximoro do discurso pretérito. Traduzindo para o bom e velho idioma dessa tresloucada terra chamada Brasil, o comunista usa o embuste para chegar ao poder, como fizeram tantos outros ao longo da história, que se repete, é claro, mas depois de entronado transforma-se em um direitista de fazer inveja aos próprios.

    Em relação à interferência de um país nos assuntos de outro, Dilma não é a pessoa mais adequada para tratar do assunto. Afinal, o governo bolivariano de Hugo Chávez continua financiando a Via Campesina para fazer arruaças em território gaúcho, mas a presidente prefere fingir que não sabe. Dias atrás, o embaixador da Venezuela participou de um evento em defesa do mensaleiro condenado José Dirceu e endossou as críticas ao Supremo Tribunal Federal. O embaixador, que imaginou estar no banheiro de serviço do Palácio Miraflores, resolveu ignorar a circunferência da latrina e não se incomodou em interferir em assuntos que competem apenas ao Judiciário brasileiro. Nem mesmo ao Executivo federal cabe o direito de contestar qualquer tema de outro Poder constituído.

    Contudo, Dilma e sua camarilha permaneceram em silêncio, apostando que o Carnaval seria o elixir da amnésia popular. Caso esse tipo de ingerência tivesse ocorrido na Venezuela, o enxerido já teria sido expulso. E é exatamente isso que os brasileiros devem exigir de Dilma Rousseff: a imediata expulsão do embaixador venezuelano, que acredita ser o chavismo a derradeira salvação do universo.

    A situação mais vexatória ocorreu em relação à blogueira Yoani Sánchez, que depois de muitas tentativas frustradas conseguiu sair de Cuba e está no Brasil. Tão logo chegou ao Brasil, Yoani, que mantém o blog “Generación Y”, foi alvo de protestos organizado por integrantes do PCdoB e do PT, que foram devidamente municiados com as informações contidas no dossiê produzido pela embaixada de Cuba, em Brasília, e entregue a Ricardo Augusto Poppi Martins, funcionário da secretaria-geral da Presidência da República, comandada pelo ministro Gilberto Carvalho, que ainda deve explicações ao País sobre a morte de Celso Daniel.

    Poppi Martins, que já deveria estar demitido, foi à embaixada cubana para receber o dossiê e participar de uma reunião com funcionários da representação diplomática cubana, cujo objetivo é desmoralizar Yoani Sánchez durante sua passagem pelo Brasil. O Palácio do Planalto arrumou um desculpa esfarrapada tão logo o assunto ganhou o noticiário, mas nenhum subordinado age dessa forma sem a anuência do chefe, nesse caso Gilberto Carvalho.

    Dilma Rousseff, que em momentos de escândalos adota o silêncio obsequioso e coloca os assessores para explicar o inexplicável, precisa ser comunicada que ela não governa para os petistas ou comunistas e muito menos deve acatar ordens de Cuba. Depois de vencer as eleições, em 2010, mesmo que no embalo de um cipoal de mentiras, Dilma transformou-se em presidente de todos os brasileiros. Como sua eleição não se deu por vitória esmagadora, a presidente deveria ter mais cuidado com assuntos dessa natureza.Ademais, o dinheiro que paga o salário desse senhor Poppi Martins, misto de ignaro com moleque de recados, não tem o carimbo do PT e nem foi impresso em Havana.

    Que os petistas adoram um dossiê e desconhecem o que é bom senso todos sabem, mas há situações em que a prudência deveria prevalecer, mesmo que massa cinzenta dos governantes fique aquém da própria necessidade. Um episódio pífio e descabido como o dos ataques a Yoani Sánchez, que não pode ser considerada uma extraterrestre apenas porque é contra o regime castrista, fará com que o Brasil continue sonhando com um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, onde um veto é suficiente para manter o sonho deitado no divã do pesadelo.

    Pelo menos 43,7 milhões de brasileiros, que não votaram em Dilma Rousseff, estão sendo coniventes com o projeto totalitarista que está em marcha e tem a rubrica do PT logo na primeira página. Quando o fato estiver consumado e a situação for irreversível, que ninguém alegue desconhecimento.