Ácido fólico na dieta materna durante a gestação reduz risco de câncer infantil

É bom saber – A inclusão de ácido fólico na alimentação de mulheres em idade fértil pode reduzir a incidência de câncer de rim e de alguns tipos de tumores cerebrais entre crianças. Essa é a conclusão de um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, e publicado em 2012 na revista “Pediatrics”.

A alimentação saudável durante a gestação é sempre recomendada pelos médicos, mas não custa informar-se com os profissionais da saúde sobre quais produtos fazem bem e o que podem evitar. De qualquer modo, o consumo sem excesso de frutas, verduras e legumes sempre faz bem.

O que é e onde está presente

Também chamado de vitamina B9, pode ser encontrado em alimentos como brócolis, tomate, feijão, lentilha e cogumelo, em bebidas como a cerveja e em suplementos vitamínicos. Recomenda-se o consumo da vitamina a mulheres que estão pensando em engravidar — de preferência 90 dias antes da fecundação e durante toda a gestação. O ácido é associado a um menor risco de má formação congênita.

De acordo com os autores do trabalho, houve uma redução no número de casos de crianças com esses tipos de câncer desde que o governo americano determinou que certos alimentos fossem fortificados com ácido fólico – uma vitamina do complexo B presente em alimentos como brócolis, tomate, cogumelos e feijão. Essa medida foi tomada em 1998 pelo Food and Drug Administration (FDA), agência do governo americano que regula remédios e alimentos, depois de diversos estudos terem indicado que o consumo do nutriente por grávidas reduz risco de defeitos na formação do feto.

Os pesquisadores se basearam em dados de 1986 a 2008 do Programa de Pesquisa, Epidemiologia e Resultados Finais (SEER, na sigla em inglês), do Instituto Nacional de Câncer dos EUA, e estudaram, desde o nascimento até os quatro anos de idade, as informações de 8.829 crianças que foram diagnosticadas com câncer.

A equipe observou que a taxa de incidência do tipo de câncer de rim mais comum entre crianças aumentou de 1986 a 1997 e diminuiu em seguida, queda que coincidiu com o ano em que a medida do FDA foi colocada em prática. Além disso, o número de casos de um determinado tipo de câncer no cérebro aumentou de 1986 a 1993 e foi reduzido em seguida. De acordo com Kimberly Johnson, uma das autoras do estudo, embora essa mudança não tenha acontecido simultaneamente com a determinação do FDA, em 1998, ela coincidiu com as recomendações do órgão, de 1992, para que mulheres consumissem um mínimo de 400 microgramas de ácido fólico ao dia.

“Nosso estudo é o maior já feito sobre a relação entre ácido fólico e incidência de certos tipos de cânceres infantis”, diz Johnson. A pesquisadora observa que esses resultados podem ser um estímulo a outros países que ainda não decidiram se irão exigir fortificação de alimentos com o nutriente.

Ácido fólico no Brasil

Desde 2004, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tornou obrigatória a inclusão de ácido fólico nas farinhas de trigo e de milho e em seus subprodutos. A justificativa para a medida foi justamente a redução no risco de má formação do feto comprovada por diversos estudos. O Ministério da Saúde recomenda uma ingestão diária de 200 microgramas de ácido fólico ao dia para adultos e de 100 microgramas para crianças de sete a dez anos de idade. No caso das gestantes, a indicação do Ministério é semelhante à do FDA, ou seja, de 400 microgramas por dia. Uma concha de feijão preto, por exemplo, tem 119 microgramas da vitamina.

Pediatra Marcelo Reibscheid opina

“Já era sabido que a redução do número de casos de cânceres de rim e de cérebro entre crianças coincidiu com a medida do FDA. No entanto, esse estudo foi feito com um maior número de indivíduos, dando um embasamento maior à relação. Porém, como foi só uma comparação de dados, não é possível afirmar com certeza que a associação a verdadeira, já que, no período da pesquisa, outros fatores em relação aos cuidados com o bebê e à alimentação das pessoas também mudaram.

O ácido fólico é indicado para diminuir riscos de má formação congênita. Recomenda-se que mulheres tomem suplementos da vitamina 90 dias antes de engravidarem e continuem a ingerir o nutriente durante toda a gravidez, especialmente no primeiro trimestre. Isso não quer dizer que as mulheres que não tomarem a vitamina irão ter bebês com má formação, mas sim que o nutriente diminui o risco de isso ocorrer.

Ou seja, como o consumo do ácido fólico já é recomendado – ao menos nos EUA e no Brasil – e não apresenta nenhum risco à saúde, essa pesquisa não irá causar mudanças na prática clínica, já que a vitamina já é indicada, mesmo que para outros fins.”