De: Ucho Haddad – Para: Dilma Rousseff – Assunto: “Ctrl+C, Ctrl+V”

    (*) Ucho Haddad –

    Dilma, depois de ouvir seu discurso em rede nacional na última sexta-feira, 8 de março, pensei em tomar a pena e partir para mais um dos nossos colóquios redacionais, mas decidi poupá-la no Dia Internacional da Mulher. Confesso que foi preciso muito esforço para não escrever. Você ficou no lucro, Dilma, porque naquele momento a minha indignação era grande e latejava. O que não significa que tenha diminuído de tamanho. Só não está pulsante como antes.

    Dilma, você foi apresentada aos brasileiros como a garantia de continuidade. E isso significa que o que deu errado com o seu padrinho eleitoral, o messiânico e mitômano Lula, deve continuar enquanto você estiver instalada no Palácio do Planalto. Muita gente pergunta quais as razões para Guido Mantega continuar ministro da Fazenda, mas poucos desconhecem que as bobagens cometidas na economia recebem o seu aval derradeiro, quiçá não sejam rabiscadas por você.

    Dilma, o Brasil já sabe que você está em campanha pela reeleição, mas aparecer na televisão para anunciar a desoneração da cesta básica foi um excesso de ousadia da sua parte. Você começou o discurso fazendo uma afirmação que por certo sacolejou o esquife do saudoso Stanislaw Ponte Preta, que deve ter inventado o “Febeapa” pensando no PT. “Quero dar mais que um abraço carinhoso a todas vocês, que me ajudam com muita força e dedicação a construir um novo Brasil para os nossos filhos e para os nossos netos”. Dilma, desde quando que para cometer besteiras é preciso de ajuda? Você já se viu cumprimentando alguém? Você não tem o perfil de quem dá abraços. A não ser aqueles de urso.

    Não me leve a mal, Dilma, mas falar em “novo Brasil para nossos filhos e nossos netos” é sandice. Dilma, o seu neto por certo não pagará a fatura que Lula e sua horda deixaram aos brasileiros, até porque “nunca antes na história deste país” se fez tantos negócios nos subterrâneos do poder como no último decênio, mas os estragos patrocinados por vocês, Aladins vestidos de vermelho, exigirão pelo menos cinquenta anos de esforço contínuo do povo para recuperar os tempos de outrora.

    É um direito seu, Dilma, não acreditar e não gostar das minhas opiniões, as quais são cobertas de lógica, mas insistir em negar a realidade está longe de ser teimosia. É ignorância de conveniência. Dilma, a situação que você e os companheiros impuseram ao País é tão covarde e degradante, que milhões de brasileiros já sentem saudades da ditadura militar. Dilma, assim como eu, você sabe muito bem o que foi a plúmbea era brasileira. E se parte da população já está saudosa daquela época, é porque o messianismo que recobre o seu partido é pirata.

    Dilma, por falar em pirata, que atitude vergonhosa a sua de copiar um projeto da oposição que, meses antes, você mesma derrubou. Sabe, Dilma, vocês, petistas, acreditam ser tão magnânimos e soberbos que encaram a pilhagem intelectual como algo corriqueiro. É compreensível essa decisão tresloucada da sua assessoria, pois um governo inoperante só consegue existir como papel carbono. Sempre proporcionando uma cópia.

    Deve ser extremamente frustrante ser “vendida” como o Aladim de saias e, três anos depois, não ter o que mostrar à população e sentir-se na obrigação de copiar o adversário apenas para ficar bem na foto. Mas não se avexe, Dilma, pois os brasileiros hão de reconhecer pelo menos uma virtude na presidente deste nosso Brasil varonil. Você tornou-se uma especialista em “Ctrl+C, Ctrl+V”. Dilma, o seu governo é um amontoado de incompetentes, que até na hora de copiar não sabem disfarçar. Que vergonha!

    Estivesse no seu lugar, já teria contratado um psicólogo para a Presidência e comprado um confortável e espaçoso divã. Passaria o dia inteiro despachando esparramado no divã e cobrando do psicólogo uma explicação para a relação entre presidir e mentir. Dilma, uma mentira de vez em quando faz parte da política, mas vocês mentem há doze anos. Até esta terça-feira, 12 de março, já são 3.723 dias dedicados à mitomania.

    Dilma, em seus discursos você acredita que é a Mônica, aquela dentuça chata criada pelo genial Maurício de Souza, e que no Brasil há 200 milhões de Cebolinhas que tremem diante de uma cara feia. Dilma, você pode pensar que a relação que ora faço é descabida, mas o seu pensamento funciona como uma história em quadrinhos da Mônica, com direito a alguns “disneylândicos” Irmãos Metralha como coadjuvantes. Até a hora que alguém lhe tomar o coelho e você acordar para a realidade.

    Quem chegou ao planeta Terra na noite da última sexta-feira e ligou a televisão acreditou que estava no paraíso. Você deu tanta ênfase à desoneração da cesta básica, que qualquer incauto pensou que por aqui o salário mínimo é a senha do eldorado. Dilma, abra a gaveta da sua escrivaninha e pegue a calculadora presidencial. Se é que o Lula não levou a maquineta de fazer contas junto com o crucifixo. O aludido desconto que os produtos da cesta básica terão será, em média, de 6%. Considerando que a cesta, que de básica nada tem, custa por volta de R$ 300, a economia dessas pessoas que têm lhe ajudado a fazer um “novo Brasil” será de R$ 18.

    Há quanto tempo você não vai a uma padaria, Dilma? Um sacro e oco pãozinho, sem ao menos uma lambuzada da margarina mais mequetrefe existente no mercado, custa R$ 0,30. Essa economia anunciada com pompa e circunstância como a maior das benesses permitirá ao trabalhador comprar dois pãezinhos por dia. Alguém no seu entorno já lhe informou o valor do salário mínimo? Já lhe contaram que dois terços dos brasileiros, segundo o IBGE, recebem menos de dois salários mínimos por mês?

    Dilma, você e a “companheirada” estão mais para camisa de força, mas teimam em vestir a fantasia de Messias, como se a salvação do universo se escondesse atrás da estrela do PT. Dilma, se incompetência valesse alguma coisa, Lula jamais teria precisado do mensalão.

    O seu neto, Dilma, é uma criança e nada entende de economia, mas se contar a ele essa história da desoneração da cesta básica o garoto acaba virando hit no Youtube de tanto gargalhar.

    Será que você acredita mesmo que a desoneração da cesta estimulará a agricultura, a indústria e o comércio, trazendo mais empregos? Dilma, você e seus estafetas inventaram essa manobra porque já não sabem o que fazer com a inflação, que continua beirando o teto da meta. Não estou a comentar sobre a inflação real. Nem mesmo um louco de hospício acredita no mais recente truque do seu governo.

    O pior é que você não pode nem sonhar em falar na tal da herança maldita, porque a inflação é legado do fugitivo Lula. E essa medida milagrosa para travestir a inflação custará aos cofres públicos R$ 7,3 bilhões por ano. Ou seja, a conta cairá no bolso do contribuinte. No discurso dirigido às mulheres brasileiras você destacou que desde fevereiro a conta de luz está mais barata. Dilma, a tarifa de energia elétrica aumentou para depois ser reduzida. Essa brincadeira custará R$ 8,5 bilhões anuais em indenizações às empresas geradoras de energia.

    Está bem, Dilma, governar é o coquetel da incoerência servido na taça da mitomania. Você venceu! Mas pense em um detalhe. Somando o valor dos impostos federais que deixarão de ser recolhidos na cesta básica ao custo da indenização às empresas de energia, o Brasil estará mandando pelos ares, a cada doze meses, a bagatela de R$ 15,8 bilhões. Ou seja, até a sua eventual reeleição os brasileiros terão de desembolsar pelo menos duas vezes esse valor.

    Dilma, não sei onde você se graduou em Economia – e nem faço questão de saber –, mas fazer contas com certeza deve ter aprendido na escola primária. Você concorda que por muito menos os brasileiros poderiam contratar um executivo para presidir o Brasil? Alguém com doses mínimas de competência, que não se apóie no “Ctrl+C, Ctrl+V” e que exale bom humor, mesmo que seja de mentira.

    Dilma, na divisão da herança de Lula você ficou com as pílulas da mentira. Sua ousadia é tamanha, que no discurso teve espaço para outros tantos absurdos. Quer dizer que você anda a buscar “novas formas de baratear o custo de vida dos brasileiros e de proteger o seu poder de consumo e os seus direitos de consumidor”? Depois me conte como isso funciona, pois na fila em que me encontro tem por baixo 120 milhões de pessoas.

    Para encerrar, Dilma, gostei de ver você mostrando que é “macho” – no bom sentido, é claro! – quando lembrou aos marmanjos que “a maior autoridade deste país é uma mulher”. Dilma, não pense que sou a favor da violência, muito menos contra as mulheres. Mas não pode existir ato mais violento do que mentir ao povo e comprar a consciência dos desavisados com esmolas sociais e desonerações de araque. Dilma, por enquanto a maior autoridade deste país é a inflação.

    E esse fantasma da economia, que gramaticalmente é feminino, tem mostrado que é macho, em todos os sentidos. Sabe como percebi isso, Dilma? Porque a inflação, inspirada em você, todo mês “Ctrl+C” e no mês seguinte “Ctrl+V”.