CPI deve convocar preso por tráfico de mulheres em SP, mas há em Brasília gente sem dormir

Terreno minado – Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara que investiga o tráfico de pessoas, deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), entra nesta quarta-feira (13) com requerimento de convocação para ouvir Florisvaldo Pereira de Jesus, de 34 anos, preso na noite de terça-feira sob a acusação de recrutar pessoas no interior do Maranhão para se prostituírem em São Paulo.

O homem é dono da boate Bella’s Night Club, localizada na Zona Leste da capital paulista, onde a Polícia Civil encontrou oito mulheres. O presidente da CPI disse que a oitiva de Florisvaldo deverá ser feita na próxima semana, já que uma comitiva de deputados vai até São Paulo para realizar uma audiência pública na Assembleia Legislativa.

“Nossa intenção é ouvir naquela oportunidade este senhor que, conforme informações recebidas pela CPI, mantinha uma residência para acomodar as jovens e lucraria com os programas feitos por elas”, disse Arnaldo Jordy. Segundo a polícia, o dono da boate ficava com pouco mais de 40% de cada encontro realizado pelas garotas.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), constitui-se tráfico de pessoas “o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo-se à ameaça ou ao uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração”.

Delegado

A Comissão Parlamentar de Inquérito do Tráfico de Pessoas deve ainda convidar o delegado Cesar Camargo para detalhar como a polícia desmontou o esquema na capital paulista. Além disso, os membros da CPI pretendem ouvir algumas vítimas.

Isonomia na investigação

Tapar o sol com a peneira, deixando de fora das investigações conhecidas casas de prostituição da capital paulista, muito pouco acrescentará ao trabalho da CPI. Há na cidade de São Paulo prostíbulos de luxo que têm inclusive apartamentos para abrigar mulheres que se prostituem. Traficar pessoas para esse fim não é apenas levar à força alguém para a prática do meretrício, mas criar condições que as atraiam a um tipo de vida que é questionável, mesmo que a prática seja secular.

Muitos desses lupanares elegantes recebem a proteção de policiais, que são regularmente recompensados com polpudas quantias em dinheiro, além de freqüentarem o local. Caso aprofunde as investigações, a Comissão não demorará muito para encontrar nomes de políticos conhecidos na lista de frequentadores dessas casas. Esses adeptos da prostituição vez por outra sobem às tribunas do Congresso Nacional para discursos moralistas e em defesa da família.