Brasília como ela é

(*) Carlos Brickmann –

Dilma, coitadinha, é refém desta política suja, dizem seus aliados; ou se submete a alianças estranhas, difíceis de compreender, e se junta a pessoas que sempre criticou, distribuindo-lhes cargos e verbas a mancheias, ou o país se torna ingovernável. Se a presidente é mesmo refém desta política suja, sofre hoje da Síndrome de Estocolmo, aquela que leva os reféns a amar e admirar seus algozes.

A presidente Dilma Rousseff está chamando Fernando Collor, senador pelo PTB de Alagoas, de “nosso senador” (e em público!), faz elogios ao senador Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, presidente do Senado, aquele que já teve de renunciar ao cargo para não ser cassado e voltou ao mesmo lugar contra a vontade de Dilma (que em outras épocas preferia vê-lo no Governo alagoano e não em Brasília, tão perto dela). Os dois, disse ela em entrevista às rádios alagoanas, são seus “aliados preferenciais” no Congresso. Dilma também fez elogios ao senador alagoano Benedito de Lira, do PP de Paulo Maluf, outro político que antes repudiava e a quem hoje dedica manifestações de apreço. Mas a presidente deu menos destaque a Lira do que a Collor e Renan – talvez porque Lira não tenha – ainda – currículo tão destacado quanto o de seus companheiros alagoanos.

E que é que o PT de Dilma dizia de Fernando Collor enquanto ele não tinha virado “aliado preferencial”? Na palavra de Lula, gravada em vídeo, “lamentavelmente a ganância, a vontade de roubar, a vontade de praticar corrupção fez com que o Collor jogasse o sonho de milhões e milhões de brasileiros por terra”.

Só se morre duas vezes

Dilma prometeu ajuda aos pequenos proprietários nordestinos atingidos pela seca. Mas não agora: “A gente vai ter de recuperar o rebanho (…) Só não posso recuperar o rebanho quando ainda tem seca, se não vai morrer outra vez”.

Este colunista está velho. É do tempo em que o bicho morria uma vez só.

Investigação total

A insistência da oposição em investigar os problemas da Petrobras (da perda de capacidade de investimento à compra, por preço que o mercado acha muito alto, de uma refinaria americana que agora não se consegue revender) está provocando uma reação extremamente saudável do PT: ameaça divulgar a lista de políticos tucanos que ocupavam cargos de direção na empresa no final do mandato de Fernando Henrique.

A ideia é ótima e não deve ficar apenas na ameaça. A Petrobras tem papel da maior importância na economia, é a vitrine internacional da capacidade brasileira e tem de estar acima de qualquer suspeita. Que se investigue tudo – e não se esqueça a tal refinaria. O negócio parece esquisito demais para que não surja dúvida quanto à competência e à honestidade com que foi feito.

Na Bahia…

Recomendação da Polícia baiana aos cidadãos de bem, divulgadas no portal da Secretaria da Segurança, sob o título Como agir durante um assalto: “Carregue um pouco de dinheiro (para satisfazer o ladrão), mas poucos cartões”. Quando a Polícia dá essas instruções, reconhece que está tudo dominado.

O governador Jaques Wagner, do PT, mandou retirar as recomendações do portal.

…tem precedente

E como é que se escolhe quem vai ser delegado ou escrivão da Polícia baiana? Por concurso, claro – o melhor caminho. Mas, para mulheres, o concurso já começa diferente: têm de passar por avaliação ginecológica detalhada, com exames de colposcopia, citologia e microflora. Se forem virgens – “com hímen íntegro”- estarão livres desses exames. Mas terão de comprovar a virgindade por atestado, com assinatura, carimbo e registro profissional do médico.

O governador Jaques Wagner mandou cancelar as exigências estúpidas. Mas quantas coisas ocorrem sem que o governador saiba?

Como dizia o lendário político baiano Octavio Mangabeira, “pense num absurdo, na Bahia tem precedente”.

O livro do inocente

Circula nos meios petistas a informação de que José Dirceu, condenado no processo do Mensalão e aguardando execução da pena, estuda a possibilidade de escrever um livro, cujo título, em princípio, seria Por que sou inocente.

Entra nas estantes ao lado de outros best-sellers, como As praias mais quentes da Sibéria, Delícias da cozinha britânica e Quem é quem no Quirguistão.

Roubo em Brasília

Uma quadrilha invadiu a residência de um casal de servidores públicos no Setor de Mansões do Lago Norte, Brasília. O assalto, ocorrido no dia 14, durou duas horas e meia. Os bandidos levaram objetos, joias, obras de arte, prataria e um carro, no valor estimado de aproximadamente um milhão de reais (só de joias, informa a Polícia, havia algo como R$ 500 mil). Quem foi assaltado? Os nomes não foram divulgados: sabe-se que o marido é diplomata e a esposa trabalha no Cerimonial da Presidência da República.

Câmeras e alarmes estavam desligados.

Atenção

O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, é um político hábil, de raciocínio preciso e frio, excelente no uso da máquina. Se Kassab se recusou a indicar ministros, provavelmente sabe de alguma coisa que nós não sabemos. Que será?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.