Autoridades bolivianas fazem reconstituição informal do episódio que causou morte de torcedor

Muito tempo – As autoridades da Bolívia fazem hoje (17) a reconstituição informal do episódio envolvendo torcedores brasileiros que terminou com a morte do jovem Kevin Espada, 14 anos, no Estádio de San José, em 20 de fevereiro deste ano. Desde a morte de Espada, 12 torcedores do Corinthians são mantidos detidos no presídio de San Pedro, há quase dois meses, em Oruro (Bolívia).

A operação é chamada na Bolívia de “inspeção ocular” e está sob comando do Ministério Público de Oruro, que fica a cerca de oito horas de carro de La Paz, capital da Bolívia. A Embaixada do Brasil em La Paz foi informada sobre a reconstituição e acompanha a ação.

O Itamaraty informou, por meio de sua assessoria, que o governo brasileiro está atento a todas as medidas adotadas na Bolívia e tem interesse na apuração dos fatos para que o incidente seja esclarecido o quanto antes.

Kevin Espada morreu durante partida da Taça Libertadores da América, entre Corinthians e San José, no estádio da cidade boliviana de Oruro. Durante o jogo, o jovem Kevin foi atingido na cabeça por um sinalizador náutico, supostamente acionado na torcida do alvinegro paulistano. Para policiais bolivianos, os responsáveis pelo lançamento do sinalizador são os brasileiros, mas a advogada contratada pela torcida Gaviões da Fiel afirma ter documentos e provas que apontam trajetória diferente do artefato que atingiu fatalmente o jovem.

Moeda de troca

A Justiça da Bolívia trata o caso dos torcedores corintianos com morosidade, pois nos bastidores o imbróglio está sendo usado pelo governo local para pressionar o Palácio do Planalto em relação ao senador Roger Pinto Molina, que está como asilado político na embaixada brasileira em La Paz. Molina é membro do partido “Convergencia Nacional”, que faz oposição ao presidente Evo Morales, e aguarda um salvo-conduto do governo boliviano para ir ao aeroporto da capital e deixar o país.

Direitos humanos

Independentemente da culpa dos torcedores corintianos que estão presos em Oruro, a Justiça boliviana não tem o direito de usar os acusados como troféus, transportando-os em carro aberto por ocasião de audiências judiciais, reconstituições e outros eventos relacionados ao processo.

Manter presos os torcedores sem qualquer prova material e com base no clamor popular é no mínimo um atentado ao bom senso e à lógica jurídica. Causa espécie o fato de o governo brasileiro ainda não ter recorrido à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), se é que o órgão está disposto a colaborar em algum momento.

Até recentemente, Evo Morales e todo o governo boliviano cumpria fielmente a cartilha do agora finado Hugo Chávez, ignorando leis e atropelando a coerência. Um dos desmandos patrocinados por Morales, que simplesmente deu as costas à legislação internacional, foi a desapropriação de unidade da Petrobras de exploração de gás em território boliviano.