Fileiras da utopia – Ser incompetente é tarefa que exige doses mínimas de competência. Apesar do oximoro conceitual que existe em tal afirmação, essa é a realidade que impera no Congresso Nacional, onde parlamentares mostram, sem direito a dúvidas, que são mestres na arte da incompetência.
O Supremo Tribunal Federal ainda vive as reticências do julgamento do Mensalão do PT, o maior escândalo de corrupção da história brasileira, mas deputados e senadores resolveram desafiar a instância do Judiciário. Esses ditos representantes do povo entenderam que a Constituição Federal pode ser ignorada e o Supremo atropelado, aprovando, no vácuo de tão absurda conclusão, que decisões da Corte acerca da inconstitucionalidade de algumas matérias deveriam ser reféns do parlamento (PEC 33).
Esse movimento obtuso, típico de quem não compreende o ordenamento jurídico do País, contou com a participação de figuras que têm sido execradas pela opinião pública, como os mensaleiros condenados José Genoino e João Paulo Cunha, além de Paulo Salim Maluf, procurado pela Interpol.
Como se fosse pouco, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), abusou da bazófia e resolveu enfrentar o Supremo, no momento em que a Corte acolheu denúncia da Procuradoria-Geral da República, que optou por seguir adiante nas investigações sobre as estripulias fiscais do peemedebista no caso das vacas sagradas que foram supostamente vendidas para dar respaldo contábil às despesas da sua ex-amante, a jornalista Mônica Veloso.
Como o Supremo Tribunal Federal começará a analisar, a partir da próxima semana, os recursos apresentados pelos defensores dos condenados na Ação Penal 470 (Mensalão do PT), os presidentes da Câmara e do Senado, Henrique Eduardo Alves e Renan Calheiros, respectivamente, acharam por bem buscar um armistício com o Judiciário. Por conta dessa decisão acertada, porém tardia, Alves e Calheiros agendaram reunião para a tarde desta segunda-feira (29) com o ministro Gilmar Mendes.
Com políticos que só olham para os próprios interesses e não conseguem enxergar o óbvio, esperar que o Brasil mude a partir do Congresso Nacional é no mínimo prova de inocência desmedida, por que não afirmar que se trata de insanidade cidadã.