Covardia explícita – Nada existe de pior no jornalismo do que um veículo de comunicação que se rende às imposições do poder, não sem antes passar no caixa oficial com regularidade. Apontar as mazelas do Estado, como um todo, é obrigação de qualquer profissional do jornalismo que encara o ofício com seriedade e coerência, mas é preciso levar ao cidadão uma análise ampla dos fatos, especialmente porque o Brasil é uma barafunda política que funciona à base de um jogo sórdido de interesses.
Há instantes, a Vênus Platinada levou ao ar em um dos seus telejornais uma matéria sobre a superlotação do Metrô paulistano, com direito a imagens registradas dentro dos trens. Enquanto realizada na seara do Metrô, a matéria foi tão insossa que mais parecia um encontro forma de diplomatas. Na bancada do jornal, a reportagem exibiu o seu viés de encomenda, uma vez que o PT continua sonhando com o Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista.
Como informar ao telespectador é o que se pode chamar de “chover no molhado”, o apresentador do telejornal, cumprindo ordens superiores, decidiu comparar o Metrô paulistano com os de Nova York e da cidade do México. De chofre é preciso lembrar que o Brasil nem de longe é os Estados Unidos ou o México.
Se o objetivo fosse apenas levar ao ar uma matéria jornalística, a emissora deveria ter comparado também o perfil dos governantes dos países citados. Partindo da premissa de que a meta era achincalhar o governo do tucano Geraldo Alckmin, a reportagem pecou pela essência tendenciosa.
Em Nova York, o Metrô funciona com certa tranquilidade porque os governantes norte-americanos sabem o que é planejamento e não transformam a população em massa de manobra política durante todo o tempo.
Governar um país qualquer exige experiência e, pelo menos, rasos conhecimentos de planejamento. Acreditar que a governança é um painel extenso e complexo e que ao apertar qualquer um dos botões surgirá a solução é sinônimo de ignorância irreversível. Quando decidiu gerar empregos, como forma de garantir uma irresponsável e criminosa bolha de consumo, o messiânico Lula não considerou o impacto que esse movimento causaria nas grandes cidades brasileiras.
Do transporte público à produção de lixo, tudo aumenta proporcionalmente com o consumo e a geração desordenada de postos de trabalho, mas os palacianos preferiram dar as costas ao óbvio para garantir a eleição da “gerentona inoperante” Dilma Rousseff, que agora tenta escapar do tiroteio da inflação. Em apenas dois anos (2008-2010), o número de passageiros do Metrô da cidade de São Paulo cresceu 70%. E não há como o transporte público absorver, sem planejamento sério e consistente, uma repentina disparada de demanda, principalmente porque ampliar o Metrô não se resume a comprar mais alguns vagões de trem.
Fazer jornalismo superficial para esconder uma encomenda é muito fácil e rende fortunas, mas não é esse o caminho para se levar uma nação ao desenvolvimento contínuo e equilibrado. Para isso é preciso que os jornalistas e as empresas de comunicação não tenham medo de apontar o dedo na direção do equívoco oficial, mesmo que isso resulte em retaliações. Afinal, é melhor o sono dos justos em uma cama humilde do que uma noite de insônia dentro do cofre.