Saindo de cena – Faleceu nesta sexta-feira (17), aos 87 anos, Jorge Rafael Videla, tido como o ditador mais cruel do último regime militar argentino. Ele governou o país entre 1976 e 1981 e cumpria pena de prisão perpétua numa penitenciária de Buenos Aires, pelos crimes de lesa-humanidade cometidos no período.
O ex-ditador morreu de causas naturais na prisão de Marcos Paz, onde era preso comum, sem privilégios militares. Desde a volta da democracia à Argentina, em 1983, ele foi diversas vezes julgado pela Justiça nacional e colecionava penas. Entre elas, uma de prisão perpétua de 2010 pelo fuzilamento de 30 presos em 1976, e uma de 50 anos de reclusão, aplicada em 2012, pelo roubo sistemático de bebês durante a ditadura.
Videla jamais se disse arrependido por seus crimes e sempre defendeu suas ações como chefe do regime militar. Na quarta-feira, dois dias antes de morrer, comparecera novamente a tribunal, num julgamento sobre a chamada Operação Condor. Na audiência, se disse preso político e sugeriu que seus crimes foram “parte de uma luta antisubversiva em uma guerra interna”.
“Há homens bons e homens ruins. E esse foi um homem ruim”, disse Estela de Carloto, líder das Avós da Praça de Maio, fundação que busca crianças desaparecidas durante a ditadura. “Fico tranquila que um ser desprezível tenha deixado este mundo.”
“Voos da morte”
Cerca de 30 mil pessoas foram dadas como desaparecidas durante os sete anos da última ditadura militar argentina (1976-1983). Nos chamados “voos da morte”, depois de torturadas, muitas das vítimas do regime eram jogadas de aviões no Rio da Prata ou no oceano, por vezes ainda com vida.
Alguns dos perseguidos políticos foram fuzilados, outros tiveram que se exilar, e muitos foram sequestrados, torturados e, mais tarde, liberados. No período, acredita-se que 400 bebês tenham nascido com suas mães em cativeiro e depois entregues a famílias de militares ou a pessoas ligadas ao regime. Videla é considerado o principal ideólogo da ditadura argentina.
“O governo argentino não pode comemorar a morte de ninguém”, disse Martín Fresneda, secretário nacional de Direitos Humanos. “Mas é importante que ele tenha morrido de causas naturais e numa prisão comum. Videla se vai desta terra como uma das pessoas responsáveis pelos principais horrores vividos pelo povo argentino.”
No ano passado, em entrevista a um jornalista na prisão, o ex-ditador confessou o assassinato de mais de 7 mil pessoas. Segundo ele, o regime se livrou dos corpos “para não provocar protestos dentro e fora do país”. (Com DW e agências internacionais)