De: Ucho Haddad – Para: Dilma Rousseff – Assunto: Audácia e marca do pênalti

    (*) Ucho Haddad –

    Dilma, como você já sabe a formalidade fica de lado. Preferi, nos últimos dias, não avançar em nossos colóquios redacionais, que se não lhe incomodam certamente provocam constrangimentos à sua assessoria. Nesse período decidi analisá-la e compreender a sua ousadia, cada vez maior. Confesso que pelo menos nesse quesito você tem conquistado a minha admiração. Abusa da mentira de forma tão escandalosa, que dá até para usar aquela lapidar do seu antecessor: “nunca antes na história deste país”. E esse tipo de comportamento só os ousados conseguem protagonizá-lo.

    Dilma, a vaca foi para o brejo há muito tempo, mas você marcou presença na Expozebu, apostando que todo brasileiro compra gato por lebre. E lá, onde todos estavam interessados em assuntos relacionados à pecuária, você surgiu em cena com conversa para boi dormir. Achou que ao som da mitômana sinfonia palaciana a vacaria pegaria no sono. Você falou da importância crucial dos portos, os quais não mereceram a sua atenção do seu patrão, o Lula, na última década. Algo tão óbvio quanto uma vaca que faz “muuu” e um navio que zarpa do porto faz “buuu”. Mas é natural que você queira dar tratos à bola nesse momento de desespero político, pois o seu governo e o PT naufragam lenta e seguidamente. Magnânimos donos da verdade terrena, vocês precisam de um atracadouro, uma lanterna dos afogados.

    Dilma, se malandragem política sobra no Palácio do Planalto, com certeza você chamou para si boa parte do estoque. A sua desfaçatez é enorme, mas torna-se ainda maior quando no cardápio palaciano aparece o fato de você ser uma pessoa avessa ao contraditório. Ou aceita-se aquilo que você quer ou nada feito. Sabe, Dilma, você até que fingiu bem quando esteve no Vaticano, posando de carola de ocasião, mas nem de longe sabe o significado da fé. Temer a Deus é algo que você simplesmente ignora, até porque o seu deus é aquele lobista fugitivo que continua sem dar explicações acerca das estripulias da namorada, mas um dia o Criador há de lhe mostrar o que é isso. Se é que Ele já não esteja lhe mostrando.

    Dilma, creio que essa coisa do inferno não passa de marketing do catolicismo, mas às vezes penso que você é a versão de saias de lúcifer. “Incendiou” o Congresso Nacional apenas porque precisava arrumar uma desculpa esfarrapada para o apagão logístico que paralisa o Brasil. Como se a MP aprovada no vácuo do novo Mensalão do PT desafogará os portos imediatamente. Quem não acompanha a política verde-loura e desconhece a peçonha do seu partido e é capaz de acreditar que você é a reencarnação de Aladim com doses cavalares de progesterona.

    Dilma, você não passa de um fantoche nas mãos do mais nocivo e perigoso político de toda a história nacional. Até pensei em rotulá-la como “bonequinha de luxo”, mas seria um colossal desrespeito com a competente e bela Audrey Hepburn. E esses dois quesitos, beleza e competência, lhe faltam desde a nascença. Sendo assim, contente-se em ser uma marionete mambembe acionada por um Messias de camelô que se alimenta no cocho da corrupção e continua devendo explicações ao povo brasileiro.

    Acompanhando suas peripécias presidenciais dos últimos dias, percebi que você, Dilma, aprendeu a faltar com a verdade sem ruborizar a face. Natural, pois face lenhosa não muda de cor. Acompanhe comigo o raciocínio. O Brasil tem um sem fim de problemas, os quais não são resolvidos porque o seu governo é paralítico e repleto de incompetentes que só olham para os próprios interesses, mas você comete a sandice de afirmar, durante a inauguração do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, que há no País muitos “pessimistas de plantão”.

    OK, Dilma, você é mesmo incrível quando o assunto é ludibriar a opinião pública. Quer dizer que o cidadão que faz uso dos neurônios e critica um governo irresponsável que aceitou sediar a Copa do Mundo é pessimista de plantão. Ou seja, não se pode criticar a cretinice palaciana, mesmo que isso ocorra com base na realidade. Dilma, a saúde pública está caindo pelas tabelas, a ponto de o megalômano Lula ter desistido de lançar Alexandre Padilha ao governo paulista, mas o governo arrumou dinheiro para despejar mais de R$ 1,2 bilhão na construção de um estádio que já pode ser chamado de elefante branco.

    Dilma, a economia está a um passo do precipício, mas você, a rainha da cocada, entende que o melhor é sangrar os cofres públicos e despejar verdadeiras fortunas na construção de estádios, alguns em unidades da federação onde uma bola na vitrine é o máximo que acontece em termos futebolísticos. Você, sem sombra de dúvidas, é espetacular. Um assombro quando o cardápio é utopia.

    Agora preocupada em sair bem nas fotos, você tem se dedicado a chutar a bola nos estádios que receberão jogos da Copa, como se o mundo acreditasse que bate um bolão. Mesmo sendo uma bola murcha em quase todos os quesitos, você, até 2014, será a maior autoridade tupiniquim em futebol. Por conta desse seu novo status da sapiência, informo que seis entre dez brasileiros, todos loucos pelo esporte bretão, sonham em lhe dar um carrinho, mostrar-lhe o cartão vermelho (o que para comuna é uma lisonja), vê-la expulsa de campo.

    Dilma, algum dos seus quejandos lhe soprou no ouvido que o melhor de agora em diante é estar abraçada ao futebol. Você acreditou nessa balela de botequim e está certa de que é a dona da bola. Dilma, lembre-se que, além de só dar bola for, já tem gente pensando que você é a mãe de todos os juízes. Se não sabe o que isso de fato significa, pergunte a qualquer uma delas. Quem sabe você comece a acreditar que está na marca do pênalti e desista do drible da vaca, que foi dragada pelo brejo porque seu governo colocou o Brasil na fila do abate.

    (*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, palestrante, escritor e poeta.