Síria: Comissão da ONU vê crimes de guerra nos dois lados do conflito

Queda de braços – Crimes de guerra, violações dos direitos humanos e um possível uso de armas químicas no conflito. Um relatório divulgado nesta terça-feira (4) pela Organização das Nações Unidas aponta que a guerra civil na Síria, já em seu terceiro ano, atingiu “novos níveis de brutalidade” e adverte as potências internacionais a reduzirem o fornecimento de armas ao país.

A denúncia é feita por uma comissão formada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU e presidida pelo diplomata brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro. Os investigadores fizeram mais de 300 entrevistas e analisaram em detalhes o conflito entre os últimos dias 15 de janeiro e 15 de maio.

“A Síria está em queda livre”, disse Pinheiro. “Crimes que chocam a consciência se tornaram uma realidade diária. A humanidade vem sendo a vítima dessa guerra. É ilusão achar que mais armas vão romper o equilíbrio entre os dois lados. Mais armas só levarão a mais mortos e mais feridos.”

De acordo com dados da ONU, a guerra civil síria causou, em 26 meses, a morte de mais de 80 mil pessoas. Atualmente, um terço da população síria, 6,8 milhões de pessoas, precisa de ajuda para sobreviver. No contraponto, 1,6 milhão de pessoas estão refugiadas nos países vizinhos e 4,2 milhões sobrevivem como deslocados internos na Síria.

“As forças do governo e as milícias que as apoiam atacaram e cercaram sistematicamente cidades em todo o país, fazendo dos civis reféns ao controlar a distribuição de comida, água, medicamentos e eletricidade”, denuncia o relatório, que diz que pelo menos 17 massacres aconteceram no período investigado.

Armas químicas

A comissão – que, embora patrocinada pela ONU, atua de forma independente – confirmou que foram usadas armas químicas no conflito. E, apesar de não apontar que lado as utilizou, disse duvidar que estejam nas mãos de rebeldes.

“Existem fundamentos razoáveis para acreditar que tenham sido usados agentes químicos como armas”, diz o texto. “Mas não foi possível identificar os agentes exatos, os sistemas de distribuição ou os autores”.

O relatório afirma ainda que, apesar das “acusações” do uso de armas químicas pelas duas partes em conflito, “a maioria” aponta como autor as forças governamentais e “não há provas” de que os grupos rebeldes sequer tenham tais armamentos.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, destacou uma equipe especialmente para investigar o uso de armas químicas, mas os investigadores vêm encontrando dificuldade para atuar na Síria. Para o governo Barack Obama, o uso sistemático de tal armamento representaria a “linha vermelha” que, se cruzada, levaria a uma intervenção internacional. (Com agências internacionais)