De: Ucho Haddad – Para: Dilma Rousseff – Assunto: porcentagens e obediência burra

    (*) Ucho Haddad –

    Dilma, deixando a formalidade de lado em nossos colóquios redacionais, pensei em poupá-la de um perrengue depois de longa viagem de volta ao Brasil, mas a gravidade dos fatos me obrigou a desistir do excesso de gentileza. O que não significa que abandonei o cavalheirismo. Cansada da viagem, até porque você também é dublê de engenheiro de voo, esse colóquio por certo será lido por sua assessoria. O que já me deixa tranquilo, pois eles saberão me dar razão.

    Nada pode ser mais ridículo do que o seu governo, Dilma. Há trinta meses sentada na principal cadeira do Palácio do Planalto, você, nesse período, flanou nas nuvens da popularidade porque ainda era suficiente o estoque de pílulas de mitomania. O tempo passou e a mentira deu espaço para a incompetência de um governo que gazeteia a maior parte do tempo. Com a devida licença do seu antecessor, o lobista-fugitivo Lula, “nunca antes na história deste país” um governante alcançou tão rapidamente o descrédito. Paciência, Dilma, o estrago está consumado e de agora em diante você terá de procurar um novo embuste para ver se sua campanha pela reeleição chega ao próximo ano.

    No seu governo, Dilma, os estafetas têm uma clara dificuldade para lidar com números percentuais. Não faz muito tempo, um instituto de pesquisa, desses que frequentam a lista de fornecedores do PT, colocou-a no céu depois de ouvir pouco mais de duas mil pessoas em um país cuja população beira os 200 milhões de habitantes. Ou seja, aproximadamente 0,1% da população opinou sobre a “gerentona inoperante”. O resultado da pesquisa pode até ser científico, mas o universo de entrevistados, como sempre acontece, é uma piada. Mesmo assim, o ufanismo oficial permitiu que seus aduladores saíssem em defesa dos resultados da consulta.

    Pois bem, Dilma, dias depois dessa tal pesquisa o ministro da Educação, o “irrevogável” Aloizio Mercadante, desdenhou um grupo de prejudicados em determinado exame seletivo, alegando que percentualmente o contingente era pequeno. Ou seja, o percentual entra em ação dependendo da necessidade do governo, não importando o lado.

    Na mais recente pesquisa Datafolha, cujos resultados foram divulgados no último sábado (8 de junho), sua popularidade, Dilma, despencou oito pontos percentuais. Para quem estava nas nuvens é bastante, mas você ainda está em zona de conforto em termos de aprovação popular. Como era de se esperar, seus “office boys” correram para minimizar o estrago. Marco Aurélio Garcia, o chanceler de camelô, disse que o recuo da sua popularidade era irrelevante. Em outras palavras, Dilma, 0,1% da população coloca você nas alturas – apenas porque o Bolsa Família deposita o dinheiro no dia combinado – e o PT entende que está tudo absolutamente correto e que oito pontos de queda na popularidade é fato irrelevante.

    Tudo bem, Dilma! Na escola em que estudei aprendi um conceito distinto de percentuais. É verdade que era uma escola privada, sem cartilhas esquerdistas e o ensino naquela época tinha muita qualidade. Contudo, como economista que é, você deve ter explicações de sobra para essa confusão interpretativa.

    Na sua órbita há um sem fim de “puxa-sacos” e você certamente sabe disso. Até porque, a cordialidade que você dispensa às pessoas mais próximas obriga que elas ajam dessa maneira. O espetáculo numérico mais vexatório ficou por conta do senador Jorge Viana, que na seara da mágica numérica é um especialista. Basta ver o escândalo de corrupção que chacoalha o Acre, estado que é capitania hereditária da família Viana. Voltando ao assunto da pesquisa… O “companheiro” acreano foi acionado para desqualificar a pesquisa que registrou a queda da sua popularidade e resolveu fustigar o tucano Aécio Neves, que continua sonhando em enfrentá-la em 2014.

    Dilma, o seu defensor de aluguel Jorge Viana disse que na pesquisa sobre a corrida presidencial Aécio cresceu menos que o “pibinho”. Quem leu a pesquisa a que se referiu o senador petista logo percebeu que Aécio Neves registrou crescimento de quatro pontos percentuais, saltando de 10% para 14% de intenção de voto. Se a previsão para o PIB deste ano estivesse em 4%, você já poderia se considerar reeleita. Mas a incompetência do seu partido conseguiu mandar pelos ares a economia brasileira.

    Considerando que o padrão de análise criado por Jorge Viana é o mais adequado quando o assunto é pesquisa de opinião envolvendo petistas e adversários, fica aqui o meu alerta. Dilma, se o Aécio subiu quatro pontos percentuais na pesquisa e esse avanço foi classificado como menor que o do “pibinho”, o tanto que a sua popularidade despencou é maior do que a inflação oficial. Considerando a inflação real, que está na casa dos 20%, você pode continuar tranquila, pois o tombo foi coisa pouca.

    Não se avexe Dilma, porque no PT sobra gente que não sabe pensar. Não sou um especialista em porcentagens, mas confesso que a massa cinzenta funciona bem, o suficiente para infernizar você e os que lhe ajudam a manter a incompetência do governo.

    O desespero que bateu no PT por causa da pesquisa Datafolha enquanto você estava em Portugal foi tão grande, que alguns néscios passaram a defendê-la com a primeira ferramenta que surgiu pela frente. Gilberto Carvalho, o sacristão comuna que é secretário da Presidência, disse que a culpa pelo recuo da sua popularidade é do tomate. Traduzindo para o bom e velho idioma dessa barafunda chamada Brasil, você vem “pisando no tomate” há dois anos e meio, mas a culpa é do coitado e esmagado tomate que sumiu da salada dos brasileiros. Como o Palácio do Planalto é uma catapulta de cópias de Aladim, o melhor é acreditar que Gilberto Carvalho é a “fulanização” da genialidade.

    Outro aloprado que lhe defendeu foi o prefeito Fernando Haddad, que ainda não assumiu o cargo em São Paulo. Disse Haddad que a culpa pelos números desanimadores da pesquisa é da passagem de ônibus, cujo preço ele próprio aumentou.

    Dilma, na verdade não deveria estar a lhe infernizar com essas “bobagens” estatísticas, pois afinal quem manda no seu governo é o messiânico Lula. E quem diz isso não sou eu, mas o namorado da Marquesa de Garanhuns.

    (*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista político, cronista esportivo, escritor e poeta.