Manchetes do Dia

(*) Lígia Fleury –

Educação de norte a sul do país:

– Vereadores aprovam a redução do salário dos professores

– Ano letivo ainda não começou em determinados municípios

– Alunos sem creches e escolas por falta de vagas

– Prédios escolares interditados pela defesa civil

– Trabalho infantil é realidade

– Confrontos entre população e polícia

– Greve dos ônibus

– Nova avaliação nacional sobre alfabetização

O mundo está caindo na cabeça do brasileiro e o governo vai gastar fortunas para avaliar o aprendizado das crianças, que já se sabe, é péssimo!

Não precisa avaliar o que já está posto: os alunos vão de mal a pior. É o aluno que chega ao Ensino Fundamental II sem saber ler; é o aluno que, ao fazer o ENEM, contribui para as “pérolas do ENEM”; é o adulto que não entende o que lê.

Quer saber a análise dessa avaliação? Fácil, só há uma opção: o governo vai criar um índice positivo utilizando a minoria que frequenta as aulas para amenizar as manchetes acima. Isso é óbvio!

E a tristeza é que a receita é simples: pegue o dinheiro que será investido nessa avaliação que não vai servir para melhorar absolutamente nada, e invista na solução, que é oferecer formação de qualidade aos professores, fazer a manutenção dos prédios escolares, cumprir calendários.

A cada dia tenho mais certeza de que o único interesse desse nosso governo corrupto é, dia a dia, emburrecer a população. Quantos são capazes de lerem as entrelinhas dos confrontos entre a população e a polícia? Quantos conseguem fazer as contas de quantos professores são pagos com um único holerite de qualquer político? Quantos percebem que pichações, violência física e verbal são atitudes de um povo sem Educação, de uma população que, ao invés de ganhar a briga com inteligência perde pela ignorância?

Ignorância por se contentar com bolsa isso, bolsa aquilo. Ignorância por não enxergar que a destruição de patrimônios é destruição do próprio dinheiro. Ignorância por aceitar a impunidade a um governo que mascara dados, que instiga a falta de educação ao não propiciar o estudo como dever do estado e direito do cidadão.

Escolas caindo, professores doentes e não remunerados – nem uso mais o mal remunerado, é ausência mesmo -, crianças e jovens fora da sala de aula, jovens planejando a vida no exterior e a certeza de que vidas se perdem enquanto vemos a Educação fugir em um sopro, o sopro do descaso, retratado em cada agressão, em cada adulto analfabeto, em cada crime cometido.

Então, qual a novidade das manchetes de hoje? Nenhuma. A vergonha é a mesma e, talvez, diferente, seja a indignação que aumenta ao ver um povo tão despreparado, vítima da própria ignorância.

O pior de tudo isso é que fica para os educadores a responsabilidade de corrigir esse descaso, de lutar contra a maré, como se fôssemos os salvadores de um país. Até poderíamos sê-lo, se nos dessem condições. Porque é na sala de aula que o conhecimento se constrói; um conhecimento que amplia horizontes, que desenvolve espírito crítico, que questiona e instiga, que transforma.

Um único professor bem qualificado é capaz de modificar essa aberração. Para isso, basta que com ele estejam alunos em um ambiente simples, nem precisa algo complexo, nada de luxo. Imagine o leitor, uma sala de aula das antigas: carteiras, lousa e giz compondo um espaço limpo e organizado. Ali, um professor que instiga, que motiva, que ensina, que utiliza o que o aluno já sabe para ampliar suas ideias.

Pronto. É o que basta. Dali sairiam cidadãos. E esses seriam os multiplicadores, os agentes, os (re)construtores do mundo.

Um professor é capaz de vencer a força dos corruptos. Mas ele precisa da sala de aula e do aval das famílias em sua valorização. Custo? Muito menos do que o que será gasto com diagnósticos que não trarão soluções e que, certamente, são criados para camuflar a ignorância instituída à população.

Mude-se então o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente:

Estatuto da Criança e Adolescente – ECA – L-008.069-1990

Parte Geral

Título II

Dos Direitos Fundamentais

Capítulo IV

Art. 53 – A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho…

Na verdade, para alfabetizados, a interpretação do artigo acima é:

Art. 53 – A criança e o adolescente não têm direito à educação, visando o pleno direito dos políticos permanecerem corruptos e omissos, preparando e mantendo uma sociedade burra e incompetente, desqualificada para o trabalho e para a vida em comunidade.

Porque essa interpretação nada mais é do que a realidade do nosso Brasil, um país pobre de seres pensantes e rico em crimes contra a sociedade do conhecimento.

(*) Lígia Fleury é psicopedagoga, palestrante, assessora pedagógica educacional, colunista em jornais de Santa Catarina e autora do blog educacaolharcomligiafleury.blogspot.com.