Os anônimos, os invisíveis

(*) Carlos Brickmann –

Quem comanda os manifestantes? Sabe-se pouco deles, exceto que pertencem a variados grupos de esquerda. Quem, em São Paulo, foco da crise, comanda os agentes que os enfrentam? Ninguém: durante a maior parte do tempo em que a cidade parou, prefeito e governador ficaram em Paris, sofrendo as agruras de estar longe de casa, em campanha para que São Paulo seja escolhida, daqui a cinco meses, para sede de uma exposição que se realizará daqui a sete anos.

Na terça, noite de tumultos, o governador tucano Geraldo Alckmin e o prefeito petista Fernando Haddad estavam juntos, jantando com as esposas, preocupadíssimos com São Paulo, na Embaixada brasileira em Paris. Ambos os casais se hospedaram no ótimo e caro Hotel Matignon. Nem Haddad nem Alckmin pensaram em voltar ao Brasil para enfrentar a crise. Como ensina a clássica canção americana, é irresistível a primavera em Paris.

Na rebelião de maio de 68, o general De Gaulle foi para a TV e, num discurso histórico, reverteu a maré política. Mas De Gaulle estava em Paris a serviço.

Seria essencial a presença de Alckmin e Haddad na França? Não: nenhum dos dois tem imagem que reforce a candidatura paulistana. Poderiam ter enviado Guilherme Afif para a Europa. Se Afif é vice do tucano e ministro do PT, poderia acumular mais dois cargos e representar tanto Haddad quanto Alckmin. Se Haddad e Alckmin estivessem em São Paulo, teriam resolvido algo? Provavelmente não; mas pelo menos estariam no posto para o qual foram eleitos.

O horror…

A Polícia Militar paulista tinha o dever de controlar os manifestantes, evitar ao máximo os danos ao patrimônio público e privado, garantir ao máximo o direito de todos de movimentar-se pela cidade. Cabe-lhe agir com energia, dentro da lei. Mas, especialmente na quinta-feira, exorbitou na violência, chegando a fazer com que parte da opinião pública mudasse de opinião e passasse a desculpar o vandalismo dos manifestantes.

Houve casos em que jornalistas perfeitamente identificáveis foram atacados (em duas vezes, balas de borracha na cabeça; em outra, spray de pimenta nos olhos, a curta distância; em outros casos, prisão por ter vinagre na mochila – uma precaução contra bombas de gás). Muita gente foi espancada sem saber o motivo; e houve bombas de gás lacrimogêneo atiradas a esmo.

Haverá rigoroso inquérito, prometem as autoridades. Então, tá.

…o horror

Mas que ninguém diga que, se a PM não agisse, as manifestações teriam sido pacíficas. Ninguém põe um coquetel Molotov na mochila para comer linguicinha acebolada com os amigos no bar da esquina, nem para rezar na missa das seis. E há fotos que mostram um rapaz quebrando portas de estação do Metrô e tirando o Iphone do bolso para fotografar a façanha.

Como já disse uma vez o cineasta (de esquerda) Pier Paolo Pasolini, é gente rica achando que é pobre e destruindo bens que farão falta a quem não tem dinheiro para Iphone nem carro próprio.

Quem paga a conta

O Movimento Passe Livre foi criado no Fórum Social Mundial de Porto Alegre em 2005 – promovido, como de hábito, com dinheiro público. O endereço eletrônico do Movimento pertence a uma ONG chamada Alquimídia. Até a quinta-feira, o site da Alquimídia trazia os logotipos da Petrobras e do Ministério da Cultura.

O custo dos logos foi de pouco mais de R$ 750 mil.

Ah, Petrobras

O país está mudando. Antes, o Governo só atrapalhava a vida dos cidadãos; agora, está atrapalhando também a vida do próprio Governo. A Procuradoria da Fazenda Nacional cancelou a certidão negativa de débitos da Petrobras, empresa controlada pelo Governo. Sem a certidão, a Petrobras não pode importar, nem exportar. Os débitos cobrados estão sendo contestados na Justiça, mas mesmo assim a Petrobras foi atingida. E não pode sequer fazer o depósito em juízo, já que a dívida cobrada é de R$ 7,5 bilhões.

Resumo do caso: entre 1999 e 2002, a Petrobras não recolheu imposto de renda sobre o pagamento de plataformas petrolíferas móveis. Foi autuada, contestou a autuação (considera indevida a cobrança), e desde 2003 a questão está na Justiça. E agora está em risco uma das maiores empresas do país. Mas nosso Governo é assim mesmo. Ele constroi, investe, anuncia, cobra, não paga, protesta e paralisa.

Não precisa de oposição.

Ah, Rio

Dois dos principais candidatos ao Governo do Rio, no ano que vem, são o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e o senador Lindbergh Farias (PT).

1 – O ministro Dias Toffoli, do Supremo, quebrou o sigilo bancário, fiscal e de Bolsa de Lindbergh Farias.Ele responde a inquérito sobre desvio de R$ 356,7 milhões no Fundo de Previdência dos Servidores Municipais de Nova Iguaçu.

2 – a Justiça suspendeu a licitação para o aluguel de dois jipões blindados, com tração nas quatro rodas, para uso de Pezão. Custo previsto: R$ 261.600 por ano. Pezão diz que precisa de carros com tração integral porque mora em área rural. Não é bem assim, informa Aziz Ahmed, de O Povo, do Rio: Pezão mora no Leblon, praia nobre. E sua casa de veraneio, em Piraí, fica no centro da cidade.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.