Tarifa de transporte pode cair se empresários de ônibus deixarem de pagar propina aos políticos

Conta simples – O que leva um cidadão ao poder além do poder propriamente dito? O dinheiro. Em tempos outros essa afirmação seria considerada absurda, mas é o vil metal que movimenta a política e coloca brilho nos olhos dos que nela gravitam. Chegar a essa conclusão não requer qualquer esforço descomunal do raciocínio. Uma campanha presidencial com chance de sucesso não sai por menos de US$ 400 milhões. Nenhum candidato tira do próprio bolso essa fortuna para correr o risco de ser barrado nas urnas. E quem coloca o dinheiro em cima da mesa não o faz por patriotismo ou diletantismo.

É nesse ponto da engrenagem que entra em cena o financiador de campanha, que mais adiante cobrará a contrapartida, que ao povo custará muito mais do que o valor financiado por conta dos penduricalhos que fazem a alegria dos políticos. É com esse dinheiro extra da corrupção que os ditos representantes do povo engordam o patrimônio, viajam ao redor do mundo, patrocinam um upgrade no estilo de vida da família, entopem a garagem com carros novos e caros, financiam amantes, contratam mulheres de programa, entre tantos absurdos.

Descendo alguns degraus e estacionando na maior cidade brasileira, São Paulo, uma campanha à prefeitura paulistana custa entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões. E também não é do bolso do candidato que sai essa dinheirama.

Política é negócio e o exercício de um mandato quase sempre é marcado pela corrupção. Agora, com a classe política acuada e amedrontada por causa da chiadeira popular, as negociatas deixam temporariamente o cenário do cotidiano, pois logo mais o espetáculo imundo há de continuar.

Nos moldes atuais, reduzir a tarifa de transporte público em São Paulo, por exemplo, é uma missão matematicamente impossível. Não há de onde tirar o dinheiro para cobrir o rombo. Uma das saídas seria aumentar algum imposto para compensar a defasagem financeira, mas isso a população não aceita. O que é lógico se analisarmos a volúpia arrecadatória do Estado, como um todo, e sua paralisia.

A segunda alternativa seria cortar investimentos, como aventaram os utópicos líderes do Movimento Passe Livre. Sem a mais rasa dose de lógica, esses baderneiros que perderam o bonde dos protestos sugeriram a redução dos investimentos em presídios, por exemplo. O que mostra a falta de visão de quem sai às ruas para protestar sem saber a razão.

A terceira alternativa, a mais viável de todas, seria acabar com a propina paga às autoridades pelos empresários do setor de transporte. Pode parecer um acinte nossa afirmação, mas é preciso lembrar que a morte de Celso Daniel começou com a cobrança descontrolada de propina em Santo André, principalmente no setor de transporte.

Considerando que na política não há coincidências e muito menos querubins barrocos, sete entre dez prefeitos que passam por uma cidade como São Paulo não voltam para casa sem carregar nos bolsos pelo menos metade do valor gasto na campanha. Isso se for bonzinho.

Para compreender esse estado de coisas basta analisar a situação de um deputado federal eleito por um partido mediano em algum estado do Nordeste. Em três meses de campanha o candidato gasta, em média, R$ 6 milhões para, se eleito, receber aproximadamente R$ 1,5 milhão de salário em quatro anos de mandato. E na matemática não existe truque, pelo menos até agora.