Lupa na mão – A continuar a onda de protestos contra a corrosão do Estado, como um todo, os brasileiros de bem precisam cobrar o aprofundamento das investigações no caso do Mensalão do PT, o maior escândalo de corrupção da história nacional. O que foi julgado até então pelo Supremo Tribunal Federal é a ponta de um iceberg de lama. Contentar-se apenas com a condenação dos mensaleiros é aceitar que a sujeira maior seja varrida para debaixo do tapete.
Dois dos mais imundos capítulos do Mensalão do PT começam a ser direcionados para o ralo do esquecimento. Um acordo selado na Procuradoria-Geral da República e que passou pelos escaninhos do STF deixou de fora das investigações o principal alimentador do caixa do esquema comandado por Marcos Valério Fernandes de Souza.
Defendido por um ex-procurador-geral da República, que agora se dedica à advocacia, esse financiador, cujo nome a Justiça em decisão ditatorial nos proíbe de citar, sairá mais uma vez impune. Flagrado e preso na Operação Satiagraha, o tal empresário, um oportunista de quadro costado e com todas as letras, usou as agências de propaganda de Marcos Valério para irrigar as contas do Mensalão do PT.
O esquema criminoso funcionava a partir de campanhas publicitárias produzidas para empresas de telefonia que eram controladas pelo oportunista. Superfaturadas de forma consentida, as campanhas permitiam que a diferença entre o custo real e o valor cobrado acabasse no caixa do esquema de cooptação de parlamentares que serviu ao PT de Lula. Com o acordo selado na PGR, esse assunto não será investigado.
Outro tema relacionado ao Mensalão do PT que corre o risco de ser ignorado refere-se aos empréstimos bancários, que no julgamento do Supremo foram classificados como fraudulentos, mas na verdade são fictícios.
O que muitos preferem não enxergar é o caminho do dinheiro do caso Celso Daniel, que em determinado momento imbrica no escândalo do Mensalão do PT. Parte dos valores arrecadados com a cobrança de propina em Santo André, importante cidade do ABC paulista, acabou em contas bancárias no exterior, que meses depois do covarde assassinato do prefeito registraram bisonhas movimentações.
Sem ter como repatriar o dinheiro imundo, os empréstimos que engrossam o escândalo do Mensalão serviram para trazer de volta ao Brasil, de maneira legal, o produto da corrupção que deu origem à morte de Celso Daniel. O dinheiro foi transferido para outras contas bancárias no exterior e disponibilizado no Brasil por meio de empréstimos bancários que jamais foram quitados.