Desdobramentos do golpe no Egito podem mandar o mundo árabe para o espaço

Barril de pólvora – A deposição de Mohammed Morsi da presidência do Egito não pode ser analisada apenas como o resultado da insatisfação da população local. Na esteira das revoltas populares que impulsionaram o movimento que foi batizado de Primavera Árabe, a Irmandade Muçulmana foi o esteio dos insurgentes.

Com a queda do ditador egípcio Hosni Mubarak, a Irmandade Muçulmana chegou ao poder central do país com a eleição de Morsi, que passou a governar à sombra de um totalitarismo predominantemente islâmico. A derrubada de Morsi pode reverberar em todo o mundo árabe, onde a Irmandade Muçulmana atua com largueza por meio do seu braço político, o Partido Justiça e Liberdade.

A falta de disposição dos egípcios para negociar com os radicais islâmicos se deu no vácuo de muitas propostas nada convincentes feitas por Mohammed Morsi à oposição. Essa intransigência se materializou nas últimas horas com a invasão e depredação de alguns veículos de comunicação ligados à Irmandade Muçulmana, começando pela sucursal egípcia da TV Al-Jazeera. A Al Jazeera pertence ao governo do Qatar, que apoia incondicional e financeiramente a Irmandade Muçulmana.

Muito se fala que Morsi foi destituído do cargo não por um golpe militar, mas por vontade da maioria da população, mas a chegada do Exército ao comando do país ressuscita o período truculento de Mubarak.

Líderes da Irmandade Muçulmana já declararam que não negociarão com os adversários, agora no poder. Caso os islamitas percam espaço político no Egito, a tranquilidade na região correrá sérios riscos. Por isso é preciso acompanhar com cautela o papel do Exército no Egito, pois uma presença marcante de militares no poder será a centelha que acenderá o pavio da intransigência, mandado muitos países árabes pelos ares.

O fracasso político da Irmandade Muçulmana no Egito tira um pouco da fumaça que existe no horizonte de Bashar al-Assad, ditador da Síria. Em longa e sangrenta guerra civil, os insurgentes sírios contam com o apoio da Irmandade Muçulmana. Com a reviravolta no Egito, Assad poderá se agarrar ao discurso de só o seu governo é capaz de garantir a tranquilidade na Síria.

Outro beneficiado pela implosão da Irmandade Muçulmana no Cairo é o Estado de Israel, que desde queda de Hosni Mubarak viu a região do Sinai se transformar em terra sem dono. Acostumados às tratativas com militares, os israelenses, pelo menos por enquanto, sentem-se menos inseguros.

No contraponto, o primeiro prejudicado com o golpe no Egito é o grupo palestino Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), que há algum tempo esvaziou suas relações com Bashar al-Assad e com o governo de Teerã. Com o enfraquecimento pontual da Irmandade Muçulmana, o Hamas tende a retornar ao isolamento político na região, sempre marcada por instabilidades.