Eventual fechamento do Banco do Vaticano poderá desencadear onda de crimes

Jogo de xadrez – No voo que o levou de volta a Roma, após participar da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, o papa Francisco conversou com os jornalistas que estavam a bordo e tratou de diversos temas. O assunto que mais repercutiu certamente foi o do homossexualismo, mas é preciso que o planeta esteja atento a uma importante declaração do papa sobre o futuro do Banco do Vaticano, originalmente batizado como “Istituto per le Opere di Religione” (IOR).

Palco de escândalos dos mais variados há pelo menos cinco décadas, o IOR foi um dos motivos que levaram Joseph Ratzinger, o papa Bento XVI, a renunciar. O argentino Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, determinou uma devassa no Banco do Vaticano objetivando sua reestruturação, mas não está descartado o seu fechamento.

O Vaticano assinou um termo de cooperação com o governo italiano para o combate à lavagem de dinheiro, uma das principais atividades da instituição financeira da Praça São Pedro nos últimos tempos. O IOR tornou-se um reduto de segredos invioláveis, o que tem preocupado a comunidade financeira internacional.

A decisão do papa Francisco de reestruturar o Banco do Vaticano ou até mesmo extingui-lo precisa ser analisada com cautela e de forma ampla, inclusive com a atenção voltada para os episódios do passado. Funcionando de maneira criminosa desde os tempos do papa Paulo VI, o IOR movimentou o dinheiro imundo de muitas organizações criminosas, algumas das quais com influentes representantes na Santa Sé, religiosos ou não.

O primeiro chefe da Igreja Católica que decidiu promover uma faxina no Banco do Vaticano foi o italiano Albino Luciani, o papa João Paulo I, que acabou assassinado 33 dias após assumir o comando da Santa Sé. Luciani foi vítima de uma quadrilha que atuava com largueza no Vaticano e que não aceitou a ideia de ver interrompidas as criminosas ações financeiras do bando. Albino Luciani, de acordo com informações oficiais foi vítima de enfarto, mas na verdade sofreu envenenamento por cianureto, produto misturado ao chá.

O segundo papa que tentou fazer uma assepsia no IOR foi João Paulo II (Karol Józef Wojtyła), que sofreu um atentado na Praça São Pedro. Wojtyla foi atingido por um tiro disparado por Mehmet Ali Agca, membro da máfia turca, que à época operava em conjunto com o governo da então União Soviética.

É importante e necessário acompanhar as declarações do papa Francisco, que muito tem falado sobre corrupção. Esses discursos, em especial, não têm apenas os países onde a corrupção corre solta, como é o caso do Brasil, mas também o Vaticano.

Qualquer que seja a decisão em relação ao “Istituto per le Opere di Religione” (IOR), alguma reação dos criminosos deverá existir, pois o papa estará tirando o brinquedo predileto de muitas quadrilhas que atuam dentro e fora da Itália. Na hipótese de o banco ser fechado, o dinheiro imundo que lá está depositado terá de ser devolvido aos seus verdadeiros donos. Acontece que esses tubarões do crime acreditaram em prepostos que integram a Igreja Católica em todo o planeta. Uma ruptura dessas relações de confiança provocará uma sequência de crimes.

Jorge Mario Bergoglio é conhecido por sua humildade e simplicidade, mas não foi apenas por essas razões que ele decidiu continuar morando na Casa Santa Marta, abrindo mão do palácio papal. Bergoglio sabe muito bem com quem está lidando e sabe do perigo que corre. E não são por acaso seus reiterados pedidos para que os fiéis orem por ele.