Edward Snowden é a cereja do bolo de Putin que causa indigestão na Casa Branca

Receita explosiva – O visto de permanência concedido a Edward Snowden, ex-técnico da National Security Agency (NSA), resultou de uma decisão do governo de Vladimir Putin que levou em conta diversos fatores do cenário político internacional.

Snowden, que ficou ilhado na área de trânsito de um aeroporto de Moscou durante quarenta dias, de início provocou inquietação no presidente russo, que cobrou do ex-funcionário da NSA uma rápida solução para o impasse. Putin, diante de um primeiro pedido de asilo, exigiu que Edward Snowden cessasse a divulgação de informações sobre o programa de espionagem dos Estados Unidos, onde ele é considerado foragido.

O discurso de Vladimir Putin foi meramente protocolar, pois é inimaginável que um desertor do inimigo histórico seria “persona non grata” na Rússia. No quebra-cabeça que desaguou no visto de permanência, com validade inicial de um ano, a questão da instabilidade política no mundo árabe foi levada em consideração pelo Kremlin. A Casa Branca apoia o Egito há alguns anos, mas a atual situação política do país colocou os Estados Unidos em uma “saia justa” global. O discurso do governo de Washington para justificar o longevo apoio aos egípcios sempre foi centrado na manutenção da democracia, que há muito deixou de existir na terra dos faraós, principalmente depois do golpe que apeou Morsi do cargo.

Com a queda de Mohammed Morsi, a Irmandade Muçulmana, que garantiu sua chegada ao poder após a derrubada de Hosni Mubarak, sofreu um duro golpe e perdeu terreno político no mundo árabe. A Irmandade Muçulmana respalda os rebeldes sírios que lutam contra o governo sanguinário do ditador Bashar al-Assad, que conta com o apoio irrestrito de Moscou. Com a derrocada da Irmandade Muçulmana no Egito, Assad recobrou forças e está retomando o comando de importantes cidades do país. A Irmandade Muçulmana tem por trás nada menos que o rico governo do Qatar, que é aliado dos Estados Unidos.

No vértice dessa confusão política e ideológica, que avança pelas fronteiras dos interesses comerciais e estratégicos, está o Irã, que apoia o governo de Bashar al-Assad e é aliado do Kremlin. Para fechar o polígono há um fato que preocupa Washington. Snowden sabe muito mais do que se imagina e até agora revelou muito pouco. Sua permanência em território russo pode levar os EUA a perderem terreno no mundo árabe.

O presidente Barack Obama condenou a decisão do colega Vladimir Putin, mas esse desfecho já era esperado. Nem mesmo em sonho o mais ignaro em termos de política internacional apostaria em uma situação diferente da que foi confirmada neste 1º de agosto.

Resumindo, Edward Snowden foi transformado em cereja do bolo feito pala confeitaria russa e com ingredientes explosivos vindos diretamente do Cairo e de Damasco. Ou seja, é indigestão na certa.