Perna curta – Quando apresentou Dilma Rousseff ao eleitorado brasileiro e disse que sua protegida era a garantia de continuidade, o então presidente Lula, agora um bem sucedido e fugitivo lobista, sabia o que estava fazendo. Assim como ele, a sucessora aprendeu o caminho do almoxarifado secreto do Palácio do Planalto, onde são guardadas as pílulas de mitomania oficial.
Nesta quarta-feira (7), Dilma Rousseff aproveitou o anúncio do IBGE sobre a inflação do mês de julho e disse que o mais temido fantasma da economia está sob controle. Ancorada no índice inflacionário de 0,03%, registrado no sétimo mês do ano com base no IPCA, a presidente ousou afirmar que tem havido “estardalhaço” sobre o tema e que a alta de preços está “completamente sob controle”.
“Hoje, o IBGE divulgou o IPCA [inflação oficial] de julho, que mostra uma inflação bastante sobre controle, pelos seus níveis. O índice é de 0,03% e vem sistematicamente caindo. É um dos percentuais mais baixos para esse período. Ao mesmo tempo, para esse mesmo mês de julho, o INPC demonstra deflação de 0,13%. São preços em queda. A pesquisa da cesta básica mostra queda em todas as 18 capitais. Ou seja, a inflação está complemente sob controle”, disse Dilma durante evento no sul de Minas Gerais.
Dando sequência ao seu discurso nada confiável, a presidente disse que a queda de preços é generalizada. “Serviços, alimentação, transporte, todos vêm reduzindo preços. Esse é um fenômeno que está se espalhando por todo o país. Temos muita tranquilidade de dizer isso. Fazem um grande estardalhaço quando os dados não apontam nesse sentido”, declarou.
Querendo ou não a petista, o ucho.info continuará fazendo estardalhaço sobre a mentira palaciana que camufla a realidade da economia, pois não se pode enganar a opinião pública com números oficiais, cujos verdadeiros métodos de apuração são desconhecidos. Se a alta de preços fez uma parada, não significa que os preços baixaram. Fora isso, essa queda no índice de inflação é momentânea e deve continuar subindo nos próximos meses.
A queda nos preços acontece depois de um aumento em todos os setores por conta da expectativa de inflação. E quem eventualmente reduziu o preço de algum produto ou serviço nem de longe chegou aos patamares anteriores ao acirramento da crise, porque a incerteza ainda gravita na órbita da economia nacional.
Seguindo a cartilha petista de desculpas e justificativas, Dilma Rousseff creditou a crise econômica brasileira, como sempre, a fatores internacionais, como se o Partido dos Trabalhadores fosse uma usina de réplicas de Aladim, que ao ganharem vida tornam-se incompreendidos e injustiçados. “Não foi pelo fator interno, mas pela oferta de preços agrícolas nos EUA, porque houve uma quebra de safra. Tivemos problemas aqui, que foi a seca, Mas a inflação, sob todos os aspectos, vem caindo mês a mês. No que se refere a isso, temos a garantia do governo de que o que estamos falando está se mostrando na prática”, disse.
Cortina de fumaça
Quando afirma que até o final do ano a inflação ficará dentro da meta fixada pelo próprio governo, Dilma deixa de mencionar que o teto da meta é distante do centro. E os dois pontos percentuais de diferença entre ambos os patamares (4,5% e 6,5%) representam muito no bolso do trabalhador.
Essa velha e conhecida cantilena não mais produz efeito, por isso os palacianos terão de se esforçar ao máximo para provar que algo positivo ocorreu na economia. É importante lembrar que a queda da inflação em junho é decorrente principalmente dos cortes realizados em algumas tarifas, que custará aos cidadãos por causa da falta de investimentos em alguns setores por parte dos Executivos.
Enquanto o Palácio do Planalto está em festa por causa desses números meramente estatísticos, a realidade do cotidiano mostra que a inflação beira a casa de 20% ao ano, cenário que corroeu o salário do trabalhador. Isso fez com que os brasileiros mudassem os hábitos de consumo, obrigando os fabricantes a adotarem estratégias para a manutenção do mercado e das vendas. A primeira manobra utilizada foi a redução da qualidade dos produtos, o que ao final das contas produz um preço menor sem que o consumidor saiba do truque.
A dura realidade
O ufanismo festeiro que tomou conta do Palácio do Planalto não se justifica, uma vez que o pífio salário mínimo vem perdendo a guerra para a inflação real. Fixado pelo governo do PT em irrisórios R$ 678, o salário mínimo ideal, de acordo com o Dieese, deveria ser de R$ 2.750,83, ou seja, 4,06 vezes o valor atual.
Considerando que o mesmo IBGE, agora incensado por Dilma, divulga há meses que dois terços da população brasileira recebem mensalmente menos de dois salários mínimos, falta nessa conta rumo a dignidade mínima do cidadão pelo menos dois salários mínimos vigentes. Para um partido viciado com as cifras do Mensalão e acostumado a esconder dólares na cueca, dois salários mínimos nada representam, mas a preponderância da falta dos mesmos na garantia mais rasa da cidadania confirma a inoperância de um governo de incompetentes.
Horizonte nublado
Dilma e seus “golden boys” devem arrefecer as comemorações, porque ao menos um produto deve atrapalhar a festa petista de ora em diante. O sacro e diariamente necessário pãozinho vem registrando alta de preço nos últimos meses, movimento que deve se repetir com a falta de trigo no mercado internacional. Depois de enfrentar quebra na produção por questões climáticas, a China saiu no mercado à cata de trigo para atender a estrondosa demanda interna. Somente essa ação foi suficiente para a elevação do preço do trigo em pelo menos 10%.
No Brasil a situação não é diferente. Também por razões climáticas, os empresários moageiros de São Paulo já anunciaram a disposição de pagar até R$ 1 mil por tonelada de trigo nacional, anteriormente fixada em R$ 850.
Resumindo, só mesmo os irresponsáveis são capazes de sair comemorando os números do IBGE, que, como se sabe, submete ao Palácio do Planalto, antes da divulgação, qualquer estudo que envolva dados econômicos. Em outras palavras, cautela e caldo de galinha não fazem mal, nem mesmo em excesso.