Obama cancela encontro com Putin e cresce o mal-estar entre Washington e Moscou

Tensão no ar – Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama anunciou nesta quarta-feira (7) o cancelamento do encontro com o colega russo Vladimir Putin, programado para setembro, em Moscou. O governo Putin considera o fato como uma represália à decisão russa de conceder asilo temporário a Edward Snowden, caçado em todo o planeta pela Casa Branca por revelar o esquema norte-americano americano de espionagem online.

O anúncio reflete também a tensão crescente entre os dois países em uma série de temas, como o insistente apoio russo ao regime de Bashar al-Assad na Síria, como antecipou o ucho.info em recente matéria acerca do asilo temporário concedido a Snowden. A justificativa dada por Jay Carrey, porta-voz da Casa Branca, é que não houve progresso suficiente na agenda bilateral para que uma reunião entre Obama e Putin valesse à pena.

“Dada a nossa falta de progresso, nos últimos 12 meses, em assuntos como a defesa antimísseis e o controle de armas, relações comerciais, temas de segurança global, e direitos humanos e sociedade civil, informamos ao governo russo que acreditamos ser mais construtivo adiar o encontro”, disse Carney.

O porta-voz classificou a concessão de Vladimir Putin de conceder asilo a Edward Snowden como uma “decisão decepcionante” e reconheceu a interferência da mesma na opção feita por Obama. O encontro entre os dois líderes seria realizado em setembro, paralelamente à reunião do G20 na capital russa.

Kremlin ataca

O cancelamento da reunião já era esperado. Em entrevista na terça-feira (6) ao “talk show” de Jay Leno, um dos mais populares da TV norte-americana, Obama não escondeu sua frustração com a postura russa em relação a Snowden. A concessão de asilo temporário, disse, reflete “algumas dificuldades subjacentes que temos tido com a Rússia ultimamente”.

“Há momentos em que eles [os russos] voltam a cair no raciocínio e na mentalidade da Guerra Fria. O que digo consistentemente a eles e a Putin é que isso faz parte do passado, e temos que pensar no futuro”, comentou Obama.

Pouco após o anúncio da Casa Branca, Moscou deixou claro seu descontentamento com a decisão, que considerou um exemplo da inabilidade americana de desenvolver relações com a Rússia “numa base igualitária”.

“Essa decisão é claramente ligada à situação de Snowden, que não foi criada por nós”, disse Yuri Ushakov, assessor de Putin para assuntos internacionais. “Por muitos anos, os americanos evitaram assinar um acordo de extradição e invariavelmente responderam negativamente a nossos pedidos para que extraditassem pessoas que cometeram crimes em território russo.”

Na última semana, Obama vinha enfrentando pressão crescente por parte de legisladores democratas e republicanos para que desistisse da reunião com Putin. Esta é a primeira vez, desde o fim da Guerra Fria, que um presidente dos EUA cancela uma visita à Rússia já anunciada publicamente.

Efeitos colaterais

O incidente que surgiu a partir da decisão de Barack Obama de cancelar o encontro com Putin não ressuscitará um passado de ameaças mútuas entre os EUA e a extinta União Soviética, mas a queda de braço refletirá no cenário internacional, onde ambas as nações têm papeis preponderantes, inclusive nas questões de segurança internacional e democracia.

Se o asilo concedido a Edward Snowden foi o estopim para o cancelamento do encontro, o planeta pode esperar novos desdobramentos dessa saia justa que surgiu no relacionamento entre Washington e Moscou. O primeiro palco a exibir as consequências da decisão será o Oriente Médio, onde Putin e Obama na maioria dos casos atuam em lados opostos. (Com agências internacionais)