Temas comerciais também estarão na pauta, assim como outras questões bilaterais sensíveis. Mas, de acordo com fontes oficiais, os dois ministros devem centrar as conversas no tema espionagem a brasileiros, que poderia gerar mal-estar durante a visita da presidente Dilma Rousseff a Washington em 23 de outubro. Ela será recebida pelo presidente Barack Obama com honrarias militares e um jantar de gala.
“Não há somente este ponto crítico. Existem outros pontos que estão há muito tempo na pauta dos dois países e que não tiveram o devido encaminhamento até agora. Como exemplo, existe a liberalização da exigência de vistos”, diz Virgílio Arraes, professor de História Contemporânea da UnB. “A questão do monitoramento de dados no Brasil é mais um conflito que se soma, mas não é o único ponto de tensão entre os dois países.”
As denúncias de que Agência de Segurança Nacional americana (NSA, em inglês) teria espionado em larga escala e-mails e telefonemas de cidadãos e instituições brasileiros geraram uma forte reação do governo Dilma, que pediu explicações à Casa Branca e, junto com seus parceiros do Mercosul, levou o caso às Nações Unidas.
Em 20 de julho, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, ligou para Dilma, a quem prometeu dar “informações complementares” sobre o incidente e lamentou a “repercussão negativa” da revelação de espionagem.
Por causa das acusações feitas pelo ex-técnico da CIA, o Congresso brasileiro iniciou uma investigação e ouviu na semana passada o jornalista Glenn Greenwald, colunista do jornal britânico The Guardian e a quem Snowden entregou vários documentos com informações sigilosas sobre as ações da NSA.
Greenwald disse que os EUA usam os dados eletrônicos e telefônicos interceptados não só para combater o terrorismo, mas também para obter vantagens comerciais e industriais, como na área de energia e petróleo e, desta forma, ganhar mais poder através da obtenção de dados sobre negociações econômicas, estratégicas políticas e competitividade de empresas.
Vistos também em pauta
As denúncias de espionagem abalaram a agenda positiva entre os dois países e alguns assuntos são considerados travados, como o fim da obrigação de visto dos EUA para viajantes brasileiros, que poderia ser anunciado durante a visita de Dilma a Obama em outubro.
O Chile, por exemplo, já foi incluído no programa de isenção de vistos ao aceitar compartilhar base de dados de segurança com os americanos. “No caso do Brasil, isso também não afetaria a soberania do país, já que outros países seguem esse protocolo, que inclusive contempla a reciprocidade”, afirma Arraes.
Antes de chegar a Brasília, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, passou nesta segunda-feira pela Colômbia. Entre os assuntos em pauta com o presidente Juan Manuel Santos e a chanceler María Ángela Holguín, temas de interesse bilateral, as negociações de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e a Aliança do Pacífico.
Os EUA têm o interesse de participar como observador do bloco econômico, que foi lançado em junho de 2012 por Chile, Peru, Colômbia e México – países que somam 206 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) de mais de 2 trilhões de dólares, o que representa cerca de 35% de toda a riqueza da América Latina e mais de 55% das exportações da região.
Brasil e Colômbia são os mesmos países que receberam a visita do vice-presidente americano, Joe Biden, em sua viagem à América do Sul no final de maio deste ano. Em seu segundo mandato, Obama pretende se reaproximar de países da América Latina para reforçar os laços políticos e econômicos. (DW)