Tensão no ar – O jornal alemão “Bild” noticiou na segunda-feira (19) que a rede terrorista Al Qaeda estaria planejando atentados contra trens de alta velocidade na Europa. O diário se baseia em informações da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA). A ameaça incluiria ataques contra os trens e atos de sabotagem contra os sistemas de trilhos e de fiação elétrica aérea, além de explosões em linhas ferroviárias expressas e túneis.
Incidentes passados já mostraram, por exemplo, que a companhia ferroviária estatal alemã Deutsche Bahn e as cerca de 5.700 estações ferroviárias do país são alvos em potencial. Em 2006, na estação central de Colônia, terroristas colocaram bombas em dois trens regionais. Os dispositivos, escondidos em malas de viagem, não explodiram porque os detonadores estavam mal instalados.
Episódio semelhante ocorreu na estação de Bonn, em 2012, quando um desconhecido abandonou na plataforma uma mala-bomba, igualmente montada de forma errada. Indagado sobre o que foi feito desde as tentativas de atentado em Colônia e Bonn, o Ministério do Interior alemão se negou a responder e se limitou a dizer apenas que alertas de perigo ocorrem periodicamente, e são investigados.
A Deutsche Bahn tampouco se dispõe a fornecer informações sobre suas atuais precauções de segurança. De acordo com seu porta-voz, a tarefa é incumbência do Departamento Federal de Investigações (BKA) e da polícia federal. Essas instâncias, por sua vez, se limitam a declarar que as medidas tomadas já partem do princípio que o grau de perigo é elevado, dentro e fora do país.
Na Alemanha, sigilo
Para o diretor do Instituto de Pesquisa sobre o Terrorismo e Política de Segurança (IFTUS, na sigla em alemão), Rolf Tophoven, é compreensível, no momento, que as autoridades optem por se manter reticentes.
“Não é fato novo os terroristas escolherem a rede de transportes como alvo de atentados”, frisa Tophoven, que diz que tais planos sempre foram “prioridade máxima” para a Al Qaeda.
Precisamente as estações ferroviárias são alvos possíveis, considera Timon Heinrici, redator-chefe do jornal de transportes “Deutsche Verkehrszeitung”. “Nelas, o efeito dos ataques é maior do que ao longo da linha, pois atingem um maior número de pessoas.”
A companhia ferroviária alemã também está ciente desse fato. “Por isso os funcionários vão reforçar a vigilância e prestar maior atenção em bolsas e malas suspeitas”, prevê Heinrici. Ele parte do princípio que os grandes eixos viários, como Colônia e Frankfurt, estarão especialmente ameaçados.
Por esse motivo, Rolf Tophoven pede que se instalem ainda mais câmeras de vigilância nas estações ferroviárias da Alemanha.
“O autor do atentado de Colônia também só foi apanhado, na época, graças a uma gravação em vídeo”, lembra. No entanto, afirma o especialista, não se deve acreditar que em cada bolsa suspeita haja uma bomba. “Com certeza, muitas vezes só vai ter mesmo é roupa suja dentro.”
Controle mais intenso na Espanha
Enquanto as autoridades alemãs atualmente evitam falar sobre suas iniciativas antiterror, outros países europeus lidam com o tema de forma mais ofensiva. Após os atentados contra trens em Madri, em 2004, a Espanha intensificou as medidas nas estações.
Nas instalações para trens de longa distância há agora controles como nos aeroportos: os passageiros só entram nos veículos depois de sua bagagem ter passado pelos raios X. Também as passagens não são mais conferidas pelo condutor, nos compartimentos, e sim no posto de controle de segurança.
“A coisa é praticável, com certeza. Afinal de contas, vê-se que funciona nos aeroportos”, confirma Heinrici. “Porém é preciso se questionar se esse sistema é útil na prevenção do terror, pois, afinal, os atentados da Espanha ocorreram nos transportes de curta distância, que não são especialmente protegidos.”
Já no fim da década de 1990, o grupo britânico Eurostar adotou controles mais rigorosos para ingresso em seus trens internacionais entre Londres e Paris. Também nessas estações os usuários têm que passar por um check-in, semelhante ao dos aeroportos. “Mas numa estação como a de Colônia, onde transitam milhões de passageiros de curta distância, infelizmente isso não é possível”, avalia Tophoven.
Na Rússia tentou-se resolver esse problema instalando-se controles segurança, comparáveis aos dos aeroportos, em 32 das grandes estações ferroviárias desde abril de 2013. Para evitar filas longas, as autoridades russas adotaram o sistema de amostragem ao acaso na inspeção de passageiros e bagagens.
“Revistas individuais já servem para intimidar”, crê Tophoven. No entanto, é preciso não supervalorizar os boatos sobre planos de atentados. “Pânico e histeria não convêm, caso contrário os terroristas já alcançaram uma de suas metas”, adverte o especialista em terrorismo. (DW)