Jogo sujo – Há muitos detalhes estranhos no episódio da fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina, que durante quinze meses viveu na embaixada brasileira, em La Paz, na condição de asilado político. Molina foi levado em carro diplomático a Corumbá, em viagem que durou 22 horas e foi organizada pelo diplomata Eduardo Saboia, que assumiu a responsabilidade pela operação que o Palácio do Planalto há muito deveria ter deflagrado.
Acreditar que o ex-ministro Antonio Patriota, de Relações Exteriores, foi demitido por causa do imbróglio é passar atestado de inocência, pois ninguém que é punido recebe como castigo um cargo de representante diplomático na Organização das Nações Unidas (ONU). Uma viagem como a da fuga de Molina, com direito a escolta de fuzileiros navais e com direito a inspeções em barreiras policiais não acontece sem que autoridades tenham conhecimento.
É comum na diplomacia que alguém assuma a responsabilidade por determinados fatos como forma de proteger terceiros, neste caso o embaixador Antonio Patriota, que jamais se encaixou no perfil chicaneiro do governo de Dilma Rousseff, que tem como chanceler genérico uma figura do naipe do trotskista Marco Aurélio Garcia, um trapalhão metido a gênio.
Vários palacianos tinham conhecimento da operação, inclusive os mãos próximos de Dilma, mas a presidente preferiu rifar Antonio Patriota por excesso de covardia, uma vez que a situação lhe causou dificuldades no universo da esquerda latino-americana. Se a fuga de Molina não tivesse alcançado o noticiário, por certo o governo brasileiro negociaria com o staff de Evo Morales a legalização da fuga do senador oposicionista. A questão agora é encontrar uma solução honrosa para Morales, que não quer vestir a fantasia do traído.
Depois que o avião presidencial boliviano foi proibido de sobrevoar alguns países europeus quando retornava de Moscou, por suspeita de que a bordo estaria Edward Snowden, o presidente cocalero tem evitado situações embaraçosas que minem ainda mais sua credibilidade como chefe de Estado.