Síria: armas químicas mataram mais 1,4 mil pessoas, mas intervenção militar é incerta

Nada decidido – Sem um sinal verde da Organização das Nações Unidas (ONU), após perder o apoio britânico e diante de crescente resistência do Congresso e dos norte-americanos, o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, fez um pronunciamento nesta sexta-feira (30), de aproximadamente 20 minutos, para tentar justificar uma intervenção na Síria, que continua seara do impasse.

Kerry destacou que para o serviço de inteligência norte-americana não restam dúvidas sobre o uso de armas químicas pelo regime do ditador Bashar al-Assad. O secretário afirmou que o ataque da última semana matou pelo menos 1.400 pessoas, sendo 400 crianças. A declaração de John Kerry acontece no mesmo dia em que os rebeldes sírios informam que nesta sexta-feira o governo de Assad fez novo ataque com armas químicas.

“Sabemos de onde foram lançados os foguetes e a que horas. Sabemos que foram lançados de zonas controladas pelo governo sírio, zonas às quais os rebeldes não têm acesso”, disse Kerry. “Esse é o horror indiscriminado e inconcebível das armas químicas. É isso o que Assad fez a seu próprio povo.”

O secretário de Estado dos EUA discursou após o presidente francês, François Hollande, garantir que seu país está preparado para atacar a Síria, mesmo após o surpreendente recuo britânico. O apoio de Hollande pode fazer justamente da França, país que virou as costas para os EUA na invasão do Iraque, o principal aliado americano na intervenção militar na Síria.

Ação limitada

Em seu discurso, John Kerry voltou a lembrar que a ação militar dos EUA será limitada e pontual, apenas para responder à utilização de armas químicas. A cautela e a anunciada limitação da ação se devem a dois fatos distintos: os ataques serão feitos com mísseis do tipo Tomahawk e o governo russo mantém bases militares na Síria. Um erro estratégico durante os ataques mandaria o Oriente Médio pelos ares.

“O povo americano está cansado de guerras. Mas cansaço não nos exime de responsabilidade”, disse Kerry. “O presidente foi claro que qualquer decisão será limitada e será focada em responder ao uso de armas químicas.”

Logo após as declarações de Kerry, o presidente Barack Obama confirmou a veracidade das provas, apresentadas com base em relatório da CIA, e criticou indiretamente a inércia no Conselho de Segurança da ONU, que após três reuniões nesta semana continua sem tomar uma decisão. Entre os membros permanentes do Conselho de Segurança estão a Rússia e a China, que apoiam o ditador sírio Bashar al-Assad.

“Não podemos aceitar um mundo onde mulheres e crianças são vítimas de gás”, disse Obama. “Se não houver uma ação militar, estaremos enviando sinais de que as normas de segurança internacionais não têm sentido.”

Em breve pronunciamento antes de receber na Casa Branca os líderes de Estônia, Letônia e Lituânia, Obama reforçou ainda que os EUA “não estão considerando o envio de tropas”, mas sim uma ação militar limitada contra a Síria.

(Reuters)

Tensão no ar

A tensão na Síria aumenta a cada instante, o que obrigou a movimentação de embarcações militares no Mar Mediterrâneo. Para que o leitor compreenda a extensão da crise surgiu na órbita das sandices cometidas pelo governo de Damasco, os Estados Unidos já posicionaram cinco navios militares na parte Oriental do Mediterrâneo. No contraponto, o governo russo, que apoia Bashar al-Assad, enviou para a região duas embarcações militares.

Fazendo fronteira com a Síria, o estado de Israel vive uma corrida às máscaras contra armas químicas, como forma de se precaver de uma eventual reação do governo de Assad. A procura por máscaras anti-gases aumentou quatro vezes em Israel nas últimas 48 horas. O cenário de guerra que se forma nessa porção do Oriente Médio é marcada pela tensão, pois a Síria, de acordo com especialista, tem o maior estoque de armas químicas da região.

Recuo britânico

Na quinta-feira (29), após defender a participação da Grã-Bretanha na ofensiva contra o regime de Bashar al-Assad, o primeiro-ministro David Cameron foi derrotado, por 285 votos contra 272, na Câmara Baixa do Parlamento britânico, que vetou o projeto.

Ao apresentar o projeto de participação britânica na ação militar, Cameron destacou que não se tratava de uma invasão para substituir o governo local, mas, sim, para punir o regime de Assad pelo uso de armas químicas.

Parlamentares de todas as correntes, não só do Partido Trabalhista, que faz oposição a Cameron, mas também os aliados exigiram provas conclusivas e concretas sobre o uso de armas químicas na Síria.

Posicionamento de Moscou

Aliada da Síria, a Rússia ratificou nesta sexta-feira sua oposição a uma intervenção militar internacional no país: “A Rússia é contra toda resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que preveja o uso da força [contra o regime sírio]”, afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores, Guennadi Gatilov, citado pela agência noticiosa oficial Itar-Tass.

Tanto a França quanto a Alemanha aguardam, porém, os resultados da investigação realizada por inspetores da ONU, que devem deixar a Síria no sábado (31). De acordo com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a equipe de inspetores divulgará as conclusões preliminares no próprio sábado, sendo que as provas colhidas na Síria deverão ser analisadas por laboratórios europeus. (Do ucho.info com agências internacionais)