Até talvez, até quem sabe

(*) Carlos Brickmann –

Era para ser na quinta, não deu. Ficou para sexta, para segunda? Ou, quem sabe, para terça? Não! O início da deliberação sobre os tais embargos infringentes, última etapa do julgamento do Mensalão, ficou para quarta-feira, 11. Conforme for, haverá ministros votando na quinta; e, se não der, na quarta seguinte, dia 18. Há quem diga que o Brasil tem pressa de Justiça. Mas pressa a Justiça não tem.

Por que tanta demora? Justiça que tarda, falha, disse a ministra Carmen Lúcia. O julgamento do Mensalão é importantíssimo – mas não o suficiente para levar o STF a nele trabalhar na sexta, na segunda, na terça, a invadir fins de semana, encolher recessos e férias, desconhecer um ou outro feriado. Façamos as contas.

O Mensalão foi revelado pelo deputado Roberto Jefferson em junho de 2005. Em 2006, o procurador-geral Antônio Fernando fez a denúncia ao Supremo, que a aceitou em agosto de 2007. O julgamento começou em 2 de agosto de 2012. Em 17 de dezembro de 2012 o STF anunciou as penas dos condenados.

E então? Então os ministros entraram em férias, ou recesso. Hoje, oito anos após a acusação de Jefferson, sete anos depois da denúncia, seis anos após sua aceitação pelo Supremo, um ano e um mês após o início do julgamento, quase nove meses após o anúncio das penas, o processo ainda não terminou. Já demorou mais que a Segunda Guerra Mundial, que mudou a face do mundo.

Até que tudo termine o país fica menos sério. José Dirceu convidou seus amigos para assistir ao julgamento num salão de festas. É assim que se vê a Justiça.

Em tempo (ou não)

Se o Supremo aceitar embargos infringentes, o julgamento do Mensalão se estenderá por mais alguns meses – provavelmente até dezembro do ano que vem.

A linha vermelha

Diziam os gregos que o maior de seus deuses, Zeus, punia os homens realizando seus desejos. Imaginemos, num exercício de futurologia, que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, atenda às exigências da presidente Dilma e do ex-presidente Lula e humildemente, por escrito, peça desculpas pela espionagem americana no Brasil. E, para poupar o Governo brasileiro de constrangimentos por não saber quais as informações secretas apuradas pela National Security Agency, revele também, pública e humildemente, o material colhido pela espionagem americana.

E aí, caro leitor, que é que nosso Governo vai dizer em casa?

Para que? Para nada

A reação mais interessante do Governo Dilma à espionagem americana é o anúncio de que, para dificultar aos espiões o acesso a nossos dados, será produzido e lançado um satélite brasileiro de telecomunicações, orçado em US$ 600 milhões. Produzir o satélite é bom, contribui para atualizar a tecnologia do país nesta área; dispor de um satélite próprio de telecomunicações é bom, dá maior flexibilidade à transmissão de dados, voz e imagem.

Mas, se os dados da Rússia, superpotência tecnológica, são espionados, não serão os brasileiros que passarão incólumes, sem ser captados nem decifrados, pelos agentes estrangeiros.

Compostura

O deputado federal Paulinho da Força, hoje no PDT, está montando seu novo partido, o Solidariedade, com o luxuosíssimo auxílio de líderes de outras legendas. O bem-informado colunista Ilimar Franco, de “O Globo”, conta que Paulinho oferece aos governadores que o apoiam dois minutos da propaganda na TV a que seu partido terá direito, tão logo o Solidariedade seja homologado. Em troca, cada um dos governadores lhe repassa determinado número de deputados federais – normalmente, dois. Com isso, o Solidariedade nascerá com bancada de cerca de 30 deputados. E, embora fique praticamente sem tempo próprio de TV na campanha federal, terá amplo espaço de propaganda nas campanhas estaduais.

É legal? Em princípio, não: configura troca de favores. Mas a Justiça Eleitoral está deixando, então deve estar tudinho rigorosamente dentro da lei.

Quem é quem

Ainda de acordo com Ilimar Franco, Paulinho já fechou acordo com dois governadores do PSDB, Marconi Perillo (Goiás) e Beto Richa (Paraná); dois do PSB, Cid Gomes (Ceará) e Eduardo Campos (Pernambuco); um do PMDB, André Puccinelli (Mato Grosso do Sul). Em Minas, o acordo foi fechado não com o governador, mas com o cacique de seu partido: o próprio Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência.

Aécio lhe aluga o passe de três parlamentares. Os 30 deputados, aliás, já formam uma bancada: na semana passada, participaram de reunião com Paulinho, no escritório brasiliense de um dos advogados do partido.

No lago azul

Comentário de um aliado de Paulinho, sobre a fórmula utilizada para montar a bancada federal do partido: “O Solidariedade está bombando. Os governadores estão louquinhos pelos dois minutos a mais na TV. O patinho feio virou cisne”.

Acredite se puder

Retrato do Brasil: um cavalheiro que a PM considerou suspeito foi submetido a revista. Enquanto os PMs revistavam o suspeito, um garoto tentou bater sua carteira.

Hoje em dia, o sujeito não está seguro nem cercado pela Polícia.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.