Alemanha: Angela Merkel abre negociações para formar coalizão de governo

(Getty Images)
Quebra-cabeça – Os partidos conservadores alemães, União Democrata Cristã (CDU) – vencedora da eleição parlamentar do domingo (22) – e sua “irmã” de bancada União Social Cristã (CSU) têm exatamente duas possibilidades de formação de governo: ou aliar-se à segunda maior bancada no Parlamento, a do Partido Social-Democrata (SPD), em uma “grande coalizão”, ou arriscar a primeira coligação conservadora-verde em nível federal.

Na manhã após as eleições, manifestou-se, dentro da CDU da chanceler federal Angela Merkel, uma clara preferência por negociações com o SPD. “Afinal, não seria a primeira vez que formamos uma grande coalizão”, comentou Volker Kauder, líder da bancada da CDU/CSU.

Merkel ligou para o presidente do SPD, Sigmar Gabriel, para falar sobre o assunto. O social-democrata teria dito a ela que o partido vai debater o tema nesta sexta-feira.

Estigma de sócio minoritário

As primeiras reações públicas dos social-democratas foram reticentes. “Não existe absolutamente nenhum automatismo no sentido de uma grande coalizão”, afirmou Gabriel após um encontro da liderança do partido em Berlim. O SPD não é o próximo da fila, depois de Merkel ter arruinado o parceiro anterior, acrescentou.

O abalado SPD sabe, naturalmente, que, devido a seus maus resultados eleitorais, ele seria o sócio minoritário numa grande coalizão com a CDU/CSU – com consequências imprevisíveis para seu futuro político. Pois ele já saiu debilitado da última grande coalizão, de 2005 a 2009, igualmente encabeçada por Merkel.

Na época, ambas as posições eram igualmente fortes no início, mas, após quatro anos de governo conjunto, os social-democratas apresentaram os piores resultados eleitorais de sua história, com apenas 23% dos votos. O fato de o trabalho prático de governança ter transcorrido bem foi um fraco consolo para o partido.

Má vontade conservadora-verde

O fato de o clima entre os conservadores tender mais na direção de uma grande coalizão também se deve à antipatia generalizada em relação à política dos verdes. Kauder considera as reivindicações de aumento de impostos um verdadeiro obstáculo.

“É muito difícil com os verdes, com a orgia tributária que eles propuseram, com a política paternalista deles”, declarou à emissora ARD. Boa parte da liderança democrata-cristã não exclui a possibilidade de conversas de sondagem com os verdes, mas vê poucas perspectivas de sucesso.

Esse também é o ponto de vista do próprio Partido Verde: caso Merkel faça um convite nesse sentido, seu partido conversará com a CDU, assegurou a líder da bancada verde, Renate Künast. Mas ela disse não conseguir imaginar um acordo.

Sequelas da campanha eleitoral

Com seu programa eleitoral, os verdes se deslocaram para a esquerda, situando-se muito distante das posições da CDU em diversos campos políticos. Outro fator de atrito nas conversações bilaterais pode ser o tom difamatório adotado por certos democrata-cristãos contra o Partido Verde, durante a campanha eleitoral.

Nas últimas semanas, os verdes foram rotulados por políticos conservadores de “partido que dita regras e proíbe”; seu candidato à Chancelaria Federal, Jürgen Trittin, foi desqualificado para os cargos que ocupa devido a erros do passado.

Após ataques dessa ordem, não é de se esperar que os verdes almejem ardentemente governar a República Federal da Alemanha ao lado dos conservadores cristãos. Até o momento, esse tipo de aliança de governo só existe no âmbito municipal: a única tentativa em nível estadual não durou mais de dois anos. (DW)