Educação da e na sarjeta

(*) Lígia Fleury –

“A taxa de analfabetismo no Brasil parou de cair. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgada na sexta-feira (27/9), em 2012, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade foi estimada em 8,7%, o que correspondeu ao contingente de 13,2 milhões de analfabetos. Em 2011, essa taxa foi de 8,6% e o contingente foi de 12,9 milhões de pessoas.” (Fonte: G1)

Absolutamente assustadora essa notícia. Mas infelizmente é real. Pior do que isso: não tem o efeito da novidade, era um resultado esperado para um país que não valoriza a Educação. Uma criança sem escola é, certamente, um adolescente nas ruas, um adulto vagando, um desempregado a mais. O interesse do governo em manter a população analfabeta é óbvio, crescente e devastador, pois quanto menos se sabe, menos se opina, se questiona. Compreender que os impostos pagos pelo contribuinte não retornam para a população como benfeitorias nas áreas da saúde, educação e segurança é um problema enorme para os dirigentes.

Ontem, em uma conversa entre amigos, discutíamos a importância das livrarias. Alguns defendiam a ideia de que deixarão de existir a curto ou médio prazo, já que a era tecnológica era um caminho maravilhoso, sem volta, com novidades superadas a todo instante. Então, como acreditar que o manuseio do livro ainda é importante? Tudo se faz pela tecnologia. Ledo engano.

Tempos atrás dei uma entrevista em que afirmei que a informatização não era, ainda, para aquela geração, nem para as próximas. Alguns me criticaram. Hoje, continuo afirmando: o mundo totalmente globalizado não é real para essa e nem para as próximas gerações, a não ser que haja um milagre!

Olhemos para o Brasil, nem precisamos pensar em outros países. Aqui mesmo, nas grandes capitais, há um número exorbitante de alunos fora da escola, de alunos que sequer têm o que comer em casa e frequentam a escola pela merenda. Qual a chance de terem um computador para navegar?

Pois é: de um lado, o país não cumpre a própria legislação, não atende ao Estatuto da Criança e do Adolescente, permitindo que filas se formem na expectativa de uma vaga escolar. De outro, o subemprego ou o desemprego, consequência desse descaso com a escolarização da população. E esperamos uma geração conectada? Isso é luxo! O que deveria ser para todos, o é para uma minoria.

Pensemos então mundo afora, em países que se morre de fome, na miséria- infelizmente não posso excluir o Brasil desse grupo.

Não há a menor possibilidade de se reconstruir um país sem que se invista em Educação. O caos está instituído: não há vagas para alunos nem remuneração para professores. Aprender onde? Alfabetizar como? Só resta a rua, a sarjeta? Por favor, não respondam sim. Vamos mudar a situação, vamos ganhar essa guerra. Comecemos por exigir e fazer Educação de Qualidade para Todos.

(*) Lígia Fleury é psicopedagoga, palestrante, assessora pedagógica educacional, colunista em jornais de Santa Catarina e autora do blog educacaolharcomligiafleury.blogspot.com.