A Justiça em ação

(*) Carlos Brickmann –

A história é a de sempre: um político importante transferiu dinheiro público para seu patrimônio particular e montou um eficiente sistema de Caixa Dois para campanhas eleitorais. Um parceiro importante de seu esquema de corrupção era um empreiteiro amigo, que não só executava obras de porte (pagando as respectivas comissões, é claro) como era figura obrigatória em consórcios liderados por empresas concorrentes. Sem se associar a ele, conforme informaram vários empreiteiros, não havia jeito de ganhar bons contratos (e cabia ao amigo do político, sempre, a administração das comissões embutidas no custo das obras).

O referido político teve, durante seu mandato, despesas pessoais de quase um milhão de dólares acima dos salários que recebeu. Seus defensores alegaram na Justiça que o dinheiro tinha sido doado por simpatizantes, mas não conseguiram convencer o tribunal. Em menos de quatro anos após o final de seu mandato, o político foi indiciado, processado e condenado a 28 anos de prisão, em última instância. “Esta pena demonstra que a corrupção não será tolerada”, disse a juíza Nancy Edmunds, que o condenou por formação de quadrilha, fraude, chantagem, caixa dois e evasão fiscal. A juíza tem nome estrangeiro, porque o caso, evidentemente, não ocorreu no Brasil (aqui as coisas jamais andariam tão depressa).

O político em questão é Kwame Kilpatrick, que foi prefeito de Detroit, nos EUA, de 2002 a 2008. O empreiteiro que dividia os lucros com ele chama-se Bob Ferguson. Kilpatrick já está cumprindo a pena a que foi condenado, veja só.

Dança brasileira

Dilma é candidata, mas quem tem os votos é Lula. Eduardo Campos tem um partido, mas tem poucas intenções de voto; Marina tem muitas intenções de voto, mas não tem partido. Aécio tem o partido nas mãos, mas não consegue decolar. Serra também não consegue, não tem o partido, mas tem mais intenções de voto do que Aécio – e tem más intenções quanto à candidatura de Aécio, se não puder afastá-la do caminho.

A mesa está posta, mas pode mudar muito em um ano.

O Espírito que Anda

Sabem os leitores do Fantasma que o líder dos povos da floresta às vezes passeia pelas cidades, disfarçado, em companhia de Capeto, seu lobo de estimação. Ninguém deve imaginar que o Espírito que Anda seja apenas um ser da floresta: ele a conhece, mas sabe perfeitamente como agir fora dela.

Que ninguém imagine Marina Silva como uma espécie de Madre Teresa de Calcutá das árvores, flores, rios e animais: Marina conhece a floresta, defende os princípios verdes, é ecologista, lutou ao lado de Chico Mendes, mas é acima de tudo uma política experiente, que passou por dois partidos, foi ministra de Lula, governante que tem a política no sangue, foi senadora pelo Acre, em tabelinha com dois políticos poderosos que controlam o Estado, os irmãos Tião e Jorge Vianna. E, quando circula pela cidade, conduz fortes grupos empresariais em sua companhia. Caipira ela é quando quer, mas cosmopolita, estudiosa e profissional ela é o tempo todo.

Ô, gente chata!

O primeiro foi o prefeito paulistano Fernando Haddad, do PT: depois de ser apresentado a um ônibus, prometeu que vez por outra, sem exageros, irá usá-lo para ir à Prefeitura. Está sendo seguido pelo governador paulista Geraldo Alckmin, do PSDB, que se declarou disposto a usar transporte público algum dia desses. Um palpite deste colunista a quem usa os ônibus como meio de transporte: decore as linhas que os engravatados, seus assessores e suas multidões de seguranças poderão utilizar, e evite-as.

Não é apenas por ser chato servir de massa de manobra para a demagogia, mas também porque essa turma vai ocupar os ônibus inteiros e deixá-lo de pé, sem a menor chance de encontrar um banco vago.

Quem ganha?

Leitor desta coluna, Moris Litvak, pergunta quem financia os black blocs. “Veja as roupas, óculos especiais, máscara antigases, estilingue de competição, etc. Por que a Polícia não prende? Por que, quando prende, a Justiça solta?”

São perguntas excelentes: em geral, a Justiça manda soltar porque a Polícia não conduz as detenções de acordo com as normas legais. O problema, com certeza, não é este: é ver quem ganhou com o barbarismo dos black blocs.

Antes deles, houve multidões nas ruas, com reivindicações diversas, difusas, mas tendo como ponto comum a vontade de mudar “tudo isso que está aí”. Surgiram então os vândalos e o pessoal que protestava sem aderir a partidos acabou ficando em casa. Os índices de aprovação do Governo Federal, que tinham caído, voltaram a crescer, embora longe do nível anterior. Quem gasta dinheiro com a baderna é quem ganha com ela.

Quem lucrou com a baderna que tirou o povo da rua?

Brincando com nomes

O deputado federal Ricardo Berzoini, do PT paulista, apresentou projeto para mudar o nome de Viracopos para “Aeroporto Internacional de Viracopos – Luiz Gushiken” (projeto de lei 6.519/2013). Luiz Gushiken foi um dos fundadores do PT e como sindicalista sempre atuou na área bancária. Jamais teve qualquer relação com aviação, aeronáutica ou aeroportos.

E, se é para homenagear algum petista dando seu nome a Viracopos, no caso há outros mais merecedores.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.