Novas denúncias de espionagem pelos EUA ofuscam cúpula europeia

(Reuters)
Cuidado redobrado – Coincidência ou não, a chanceler alemã Angela Merkel chegou à cúpula da União Europeia (UE) em automóvel oficial cuja placa exibia o sugestivo número 007. E foi em clima de espionagem que começou a reunião dos 28 líderes europeus em Bruxelas, cujo cardápio deveria ser, sobretudo, as questões econômicas da região.

Suposta vítima da espionagem patrocinada pela Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA), Merkel demonstrou indignação na ao tomar conhecimento das denúncias. A chanceler afirmou que espionagem não pode acontecer entre amigos. “A confiança agora deve ser restaurada”, desabafou, referindo-se ao governo norte-americano, que, por sua vez, garantiu que a líder alemã não está sendo monitorada por agentes do país.

No começo da noite de quinta-feira, a notícia de que o jornal britânico “The Guardian” tem uma lista com os nomes de 35 líderes internacionais que teriam sido espionados pela NSA causou ainda mais irritação entre os participantes do encontro.

Presidente do Parlamento Europeu, o alemão Martin Schulz, pediu aos líderes que suspendam a troca de informações bancárias com os EUA, o chamado acordo Swift. O mesmo já havia sido solicitado pelo Parlamento Europeu na quarta-feira (23). Em tom de brincadeira, Schulz afirmou que se protege de ataques de espionagem usando tecnologia ultrapassada. “A NSA não alcança. Meu telefone é um dos poucos que não pode ser monitorado. A tecnologia remonta os tempos do senhor Bell, o inventor do telefone”, disse.

Merkel e Hollande lançam iniciativa

Angela Merkel e o presidente francês, François Hollande, combinaram de impulsionar, até o fim deste ano, uma negociação com Washington sobre as práticas dos serviços secretos. “O objetivo será estabelecer regras para o futuro”, salientou o presidente francês, sublinhando que “há comportamentos e práticas que não podem ser aceitos”.

Segundo Hollande, a iniciativa está também aberta para os outros países europeus que queiram aderir. “Vamos fazer o possível para conseguir, antes do fim do ano, um entendimento comum sobre a cooperação entre os serviços de inteligência dos Estados Unidos e da Alemanha e dos Estados Unidos e da França”, confirmou Merkel. Ela adiantou que devem ser exigidas dos EUA mudanças reais em relação às práticas dos serviços de inteligência.

O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, assegurou ainda na noite de quinta-feira que não houve condenação conjunta oficial das atividades de espionagem da NSA. Angela Merkel brincou com a situação: “Sermos todos grampeados nos une”, disse após uma reunião com o político belga.

Mas algo terá de mudar, acrescentou, rejeitando, entretanto, a suspensão das negociações sobre a zona de livre comércio com os Estados Unidos. Na próxima reunião de cúpula, em dezembro, os líderes da França e da Alemanha apresentarão um relatório sobre as discussões com o governo dos EUA.

O ministro para a Europa da Finlândia, Alexander Stubb, alertou, em entrevista à Rádio Deutsche Welle, sobre os riscos de uma reação dura demais. Stubb afirmou que todos os líderes políticos devem estar conscientes de que podem ser espionados. “Eu sou muito cuidadoso e sempre consciente de que tudo o que eu comunicar, em qualquer lugar, pode se tornar público”, garantiu, observando que não ajuda muito colocar em questão a troca de informações com os Estados Unidos.

“Na sociedade digital global, a troca de dados com empresas norte-americanas é essencial. Não devemos ser duros demais com os norte-americanos, porque poderemos vir a ter muitos problemas na transmissão de dados da Europa para os Estados Unidos. Isso prejudicaria nossas empresas, tanto grandes como pequenas”, avaliou Stubb. “Tem que haver uma proteção de dados pessoais equilibrada e razoável, sem que precisemos nos fechar.” (Com informações da Rádio Deutsche Welle)