Tecnologia submersa – A Turquia inaugurou nesta terça-feira (29) um túnel ferroviário subterrâneo que conecta os lados europeu e asiático da cidade de Istambul – e que, segundo os construtores, pode resistir a terremotos de magnitude 9 na escala Richter. A obra, que custou € 3 bilhões, tem 13,6 quilômetros de extensão, dos quais 1,4 quilômetro atravessa o Estreito de Bósforo, 60 metros abaixo do solo oceânico.
A expectativa é de que o túnel reduza em pelo menos 20% o fluxo do pesado trânsito de Istambul, especialmente sobre as duas pontes que atravessam o Bósforo. A nova passagem faz parte do projeto Marmaray, que prevê melhorias e novas construções em 76 quilômetros de malha ferroviária que interliga os lados europeu e asiático. O conjunto de obras é chamado pelo primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, como o “Projeto do Século”.
À prova de terremotos
A União das Câmaras Turcas de Engenheiros e Arquitetos ressalta que Marmaray localiza-se a apenas 20 quilômetros da Falha do Norte da Anatólia e que um intenso terremoto poderia colocar toda a estrutura em risco. Em 1999, cerca de 17 mil pessoas morreram na cidade de Izmit, no oeste da Turquia, após tremor de magnitude 7,6 na escala Richter.
No entanto, segundo o ministro turco de Transportes, Binali Yildrin, Marmaray, é a “estrutura mais segura de Istambul”. Ele garante que o túnel inaugurado nesta terça, assim como as demais obras de Marmaray, podem resistir a terremoto de magnitude 9, pois as engrenagens das comportas poderiam vedar cada trecho do túnel.
Para garantir a segurança, especialistas do Japão e dos Estados Unidos participam do projeto Marmaray. De acordo com os responsáveis pela obra, além de informações já existentes sobre a área, técnicos recolheram dados geológicos, geofísicos, hidrográficos e meteorológicos, que foram usados para o desenho e construção da passagem.
“Esse projeto foi construído com ajuda da tecnologia de ponta japonesa e com experiente mão de obra turca”, destacou o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, que participou da inauguração do túnel.
Vários túneis semelhantes no mundo mostraram-se resistentes a tremores de terra, inclusive de magnitudes similares às registradas na Turquia, sem maiores danos. São os casos de Kobe, no Japão, e Transbay, em São Francisco, nos EUA, considerados exemplos de construção de túneis seguros.
Achados históricos
A construção do túnel inaugurado nesta terça-feira, dia em que o país celebra os 90 anos da proclamação da República, foi iniciada em 2004 e deveria ter sido concluída quatro anos mais tarde. No entanto, a obra precisou ser suspensa algumas vezes por causa dos diversos achados arqueológicos encontrados.
Mais de 40 mil objetos saíram dessas escavações. Entre as surpresas encontradas sob a terra estava um cemitério de 30 navios bizantinos, a maior frota medieval de que já se teve conhecimento.
Os achados – e os consequentes atrasos nas obras – pareceram frustrar de certa maneira Erdogan. O primeiro-ministro chegou a declarar que os artefatos arqueológicos estavam atrapalhando seus planos de transformar a paisagem urbana de Istambul. “Primeiro encontraram potes de argila, depois isso, aquilo. Essas coisas são mais importantes do que pessoas?”, questionou certa vez Erdogan, para quem Marmaray atende a um antigo sonho dos ancestrais.
A ideia da construção do túnel existe desde 1860. Ele é apenas um dos megaprojetos de Erdogan – chamados de “faraônicos” pela oposição – que ainda incluem um canal de 50 quilômetros entre os mares Morto e de Mármara, um aeroporto para competir com os de maior fluxo no mundo e uma gigantesca mesquita no alto de um dos morros de Istambul. Há ainda a previsão de uma terceira ponte sobre o Estreito de Bósforo e de usinas nucleares. (Com agências internacionais)