Vice de Obama, Joe Biden vai à Ásia em meio à tensão com China por ilhas

ilhas_senkaku_01Alta tensão – A visita de rotina do vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a Pequim, para discutir a cooperação econômica bilateral, ganhou um interesse especial devido à escalada de tensões em torno de um grupo de ilhas no Mar da China Oriental – denominadas Diaoyu pelos chineses e Senkaku pelos japoneses. No próximo domingo (01), o político democrata inicia um giro pela Ásia Oriental que, além da China, inclui Japão e Coreia do Sul.

Pequim escolheu um momento delicado para unilateralmente declarar zona de defesa aérea sobre o arquipélago rochoso e inabitado, exigindo que as companhias aéreas lhe apresentem os planos de voo de todos os aviões que penetrem nessa região, que é administrada pelo Japão.

Em resposta, os EUA enviaram para lá, na última segunda-feira, uma dupla de bombardeiros do tipo B-52. Segundo o porta-voz do Departamento de Defesa americano, Tom Crosson, essa era “uma operação de treinamento longamente planejada”. Mas ficou claro também tratar-se de uma afirmação dos interesses americanos e um ato de desafio contra a superpotência emergente.

Nos últimos dias, enquanto a China respondia com o envio de aviões de caça para a área, a mídia estatal cuidava de exacerbar os ânimos, exigindo “contramedidas oportunas, sem hesitação”. Essa escalada do “olho por olho, dente por dente” parece se encaminhar para o mais sério confronto na área em quase duas décadas – ou seja, desde a crise em torno do Taiwan, em meados dos anos 90.

Testando as próprias forças

“Não acho que devamos subestimar a relevância deste assunto”, comenta Thomas König, coordenador do programa para a China do think-tank European Council on Foreign Relations (ECFR). “Pela primeira vez, a China bateu de frente com os Estados Unidos nessa região. Os chineses se deram conta de que agora são protagonistas mundiais, e estão testando as águas como nunca fizeram antes.”

König classifica a investida de Pequim como erro de cálculo. “Eles certamente não estavam contando com esse tipo de reação de um governo que normalmente é um tanto mais diplomático. Eu também fiquei surpreso, porque antes os EUA diziam que as Ilhas Senkaku eram uma questão regional.”

“Mas, pessoalmente, acho que essa foi a jogada certa para os EUA”, prossegue. “A zona [de defesa aérea estabelecida por Pequim] poderia ser vista como um questionamento dos interesses americanos na região. Por outro lado, a resposta dos EUA pode também ser considerada irresponsável, já que alguém poderia ter atirado naqueles aviões.”

A posição de König em relação à China também é bastante condenatória. “Eles não estão muito claros quanto às próprias intenções em relação à zona de defesa. E eu acho que o tiro saiu pela culatra: foi um jeito bastante imaturo de proceder, por ter sido tão drástico.”

Mudança de ares

Segundo o especialista do ECFR, no entanto, certo grau de confusão é quase inevitável dada a crueza da nova política externa chinesa. Ele interpreta tais incidentes como os primeiros sintomas de uma mudança de ares, à medida que a potência asiática se torna mais segura de si.

“Talvez agora seja a hora de questionar as estruturas de poder que têm funcionado até agora. Talvez os protagonistas da região estejam pensando: ‘Bem, isso funcionou até agora, mas como é que vamos agir daqui a 20 anos?’ Eu espero que tais incidentes não aconteçam com mais frequência – mas acho que vão”, afirma.

Rod Wye, especialista em assuntos chineses do think-tank britânico Chatham House, concorda. “A China diria que se trata de uma coisa perfeitamente natural, e muitos outros países da região têm declarado zonas de defesa aérea desse tipo.”

Interesse renovado na região

O que está por trás de toda essa situação é o interesse renovado dos EUA pela região da Ásia-Pacífico, ainda complicado pelo comprometimento do país com a defesa do Japão. Em outras palavras: quaisquer tensões entre a Pequim e Tóquio inevitavelmente envolverão também os americanos, e isso intensifica o clima de paranoia já reinante entre as duas potências.

“Os chineses têm a suspeita constante de que os EUA os estão cercando, e os EUA suspeitam de quais sejam as intenções finais da China na Ásia-Pacífico”, explica Wye. Por outro lado, ambos têm interesse em manter boas relações econômicas, e assim as relações sino-americanas parecem, por vezes, um tanto esquizofrênicas. Afinal, Pequim planeja participar, em 2014, de um importante jogo de guerra no Oceano Pacífico, ao lado da Marinha americana e seus aliados regionais.

“É uma relação onde nenhum dos lados entendeu completamente que posição tem”, define Wye. “Há uma tensão contínua entre a evidente necessidade de se engajar – o que é econômica e militarmente vantajoso para ambos os lados –, e a forma como a grande relação de poder vai resultar, a longo prazo. No momento, é uma mistura muito complexa e volátil.”

Por outro lado, não há causa para alarmismo, ressalta o especialista da Chatham House. “Isso não significa que eles tencionem necessariamente ser mais incisivos em assuntos maiores. “A China está inevitavelmente mais envolvida em outras questões internacionais do que antes – devido a sua dependência do petróleo do Oriente Médio e outros fatores –, mas isso não significa que vamos observar o mesmo tipo de atividade ostensiva que o país tem demonstrado na sua vizinhança imediata”. (DW)