Líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un derruba o tio e amplia poderes

(Reuters)
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Endurecendo o jogo – Há dois anos, o então ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-il, era sepultado. Na época, oito homens acompanhavam o veículo que transportava o caixão pela capital Pyongyang. À esquerda, caminhavam quatro representantes do Exército – instituição que, no país, tem prioridade absoluta. Na frente, seguia o chefe do Estado Maior, Ri Yong-ho, e atrás, o ministro da Defesa, Kim Yong-chun.

Ri Yong-ho foi destituído seis meses depois, diante de uma reunião do Politburo, devido a “problemas de saúde”. Teria morrido pouco depois em um tiroteio com forças de segurança – o rumor jamais foi confirmado. Já Kim Yong-chun perdeu o cargo de ministro da Defesa menos de quatro meses depois.

No lado direito do veículo, quatro representantes do partido e do Estado formavam uma fila. Bem na frente estava Kim Jong-un, filho mais novo e sucessor do ditador. Atrás do hoje líder da Coreia do Norte, seu tio Jang Song Thaek, seguido pelo presidente da Assembleia Popular Suprema, Kim Yong-nam.

Se as informações do serviço de inteligência sul-coreano estiverem corretas, Jang Song Thaek teve recentemente que renunciar a seu cargo no Estado e no partido. Ele não é visto em público desde o início de novembro. Dois de seus colaboradores mais próximos teriam sido executados em público, acusados de corrupção e atividades antipartidárias. Por trás dos expurgos, estaria uma manobra política bem arquitetada.

Jang, um caso especial

Segundo informações sul-coreanas, Kim Jong-un substituiu quase metade dos mais importantes funcionários e dirigentes desde que assumiu o poder. A intenção é fazer com que sua nova equipe de gestão seja leal somente a ele, e não a seu pai morto. Kim Jong-il também assegurara seu poder da mesma forma, após a morte de seu pai, o fundador da Coreia do Norte, Kim Il-Sung. Mas a demissão de Jang Song Thaek parece ser um caso especial.

Com 67 anos, ele é casado há mais de 40 com a irmã mais nova de Kim Jong-il, Kim Kyong-hee. O casal havia governado a Coreia do Norte informalmente quando Kim Jong-il estava se recuperando de um acidente vascular cerebral, tendo sido, em seguida, imbuído da missão de garantir a transferência de poder ao filho mais novo do dirigente e protegê-lo de possíveis intrigas e tentativas de golpe.

Como vice-presidente da Comissão de Defesa Nacional, Jang era, depois do jovem Kim, o número dois na hierarquia do poder e responsável pelo relacionamento com a China, aliada mais importante da Coreia do Norte.

Ascensão de Choe Ryong-hae

Mas, no decorrer deste ano, Jang vinha aparecendo cada vez menos ao lado de Kim Jong-un, enquanto sua mulher, aparentemente, adoeceu e seguiu para tratamento no exterior. Enquanto isso, o novo governante passou a ser cada vez mais frequentemente acompanhado por Choe Ryong-hae, de 63 anos.

Ele foi alçado pelo jovem Kim ao cargo de diretor do escritório político do Exército do Povo e promovido a vice-marechal. Choe tem missão de aumentar a influência do partido dentro das Forças Armadas. Com isso, se tornou, dentro do partido, um oponente direto de Jang, que tinha laços estreitos com muitos militares.

Segundo informações do site Daily North Korea, Choe não contava com o respeito de todo o corpo de oficiais, porque era durante muito tempo apenas o presidente da Liga da Juventude Socialista. Mas, agora, a decisão parece ter sido tomada. “Aparentemente, Jang perdeu a luta de poder contra Choe”, disse o deputado sul-coreano Jung Chung-rae.

O status elevado de Choe dentro da liderança do país é atribuído pelo pesquisador Cheong Seong-chang, do Instituto Sejong, de Seul, a seu parentesco com membros da resistência antijaponesa na Segunda Guerra Mundial.

Depois dos Kim, essas famílias formam a segunda linhagem de poder mais importante do regime. A grande amizade de sua família com a dos Kim possibilitou que Choi entrasse já com 36 anos no Comitê Central. Desde 2010, Choe é o único não membro da família Kim nos três mais importantes comitês do partido e do Exército, numa carreira que o levou a se tornar o braço direito do novo governante. Em maio, ele portou uma carta de Kim ao novo chefe de Estado chinês, Xi Jinping. Jang se tornava, ao mesmo tempo, obsoleto como “príncipe regente”.

Reformas econômicas

Analistas especulam sobre os próximos passos da política econômica da Coreia do Norte. O tio deposto de Kim era tido como um defensor de reformas econômicas. Em 2004, ele teria entrado em confronto com o então líder, Kim Jong-il, sendo colocado sob prisão domiciliar.

Mas o jovem Kim aparentemente também quer ousar fazer mudanças econômicas. Recentemente, os salários na indústria têxtil foram elevados drasticamente, na tentativa de aumentar a produtividade no setor, importante para a exportação. Kim parece também querer atrair mais capital estrangeiro, para ajudar na emancipação da poderosa China. Entretanto, uma abertura econômica real é considerada improvável.

Essa tese parece ser confirmada pelo planejamento da criação de 14 novas zonas especiais de desenvolvimento econômico. As reformas, assim, se manteriam limitadas regionalmente e ocorreriam sob o controle estrito do governo. Ao mesmo tempo, o regime isola seus cidadãos em relação ao exterior.

As fronteiras são vigiadas de forma muito mais severa do que antes, e há cada vez mais relatos de execuções públicas de cidadãos comuns, acusados de consumirem de novelas e filmes sul-coreanos. A intensificação da violência contra o povo pode ser indício de um reinado de terror de Kim – que se mostra cada vez mais um aluno exemplar de seu pai e seu avô. (DW)