É a tua, tá?

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_07É triste ouvir políticos veteranos comportando-se como crianças. Porque, fora a safadeza, isso de dizer “eu sou ladrão, mas foi ele que começou” é infanto-juvenil: se é ladrão, fora da lei, que seja investigado e julgado. Se o adversário também é ladrão, que também seja investigado e julgado. Não é porque os ladrões estão em partidos adversários que a ladroeira de um compense a do outro.

A moda agora é reclamar da demora no julgamento do Mensalão mineiro, como se isso tornasse injusto o julgamento do Mensalão. Só que uma coisa não tem nada a ver com outra: os responsáveis pelo Mensalão mineiro têm de ser julgado, e logo, mas não para compensar o processo contra os réus do Mensalão. Um criminoso não pode deixar de ser punido porque outros criminosos ainda não o foram. E não se trata apenas do Mensalão mineiro (onde há pelo menos um tucano que já foi importante, Eduardo Azeredo, ex-presidente nacional do PSDB, ex-governador de Minas, há gente que mudou de lado, como Marcos Valério, há amplo material para julgamento). Há o escândalo da Bancoop, o do Banestado, o da Alstom-Siemens (cartel dos trens urbanos de São Paulo, com eventual propina), o desvio do ISS da Prefeitura paulistana, que já derrubou um secretário do prefeito Haddad (PT). O que não falta é caso para ser investigado. Que a filiação política não seja levada em conta: o que se vê nas propinas paulistanas, por exemplo, é uma aliança pluripartidária para delinquir – vulgo “quadrilha”.

“Mamãe, foi ele que começou”. E daí? Daí, o final tem de ser nos tribunais.

A emenda e o soneto

José Genoíno renunciou à Câmara, segundo se informou, para não ter o nome associado à cassação de seu mandato. Preferiu associar seu nome ao do ex-presidente Collor, do senador Renan Calheiros, do senador Jader Barbalho, do deputado Valdemar Costa Neto, que também renunciaram para fugir à cassação.

Dinheiro, pra que dinheiro

Na ditadura, o Campeonato Nacional era arma de campanha. Dizia-se: onde o Governo vai mal, um time no Nacional. A mágica ainda existe, agora com verbas de propaganda: da presidente ao prefeito da menor cidade, todos multiplicaram gastos com anúncios. A verba estadual paulista era de R$ 33,3 milhões em 2003; hoje, é de R$ 300 milhões (sempre com o PSDB no Governo). O tucano Geraldo Alckmin dobrou a verba, por coincidência em ano eleitoral. A Prefeitura paulistana passou de R$ 12 milhões em 2005 (prefeita Marta Suplicy, PT) para R$ 110 milhões em 2009 (prefeito Kassab, DEM). O Governo Federal (PT) gasta R$ 2 bilhões por ano para nos informar que país rico é país sem pobreza.

Propaganda oficial só é permitida pela Constituição (parágrafo 1º, inciso XXI, artigo 37) em “caráter educativo, informativo ou de orientação social”. Mas quem dá bola para a Constituição e as leis se o dinheiro não é deles, é nosso?

Implicância

O senador Zezé Perrela, do PDT mineiro, defendendo seu filho Gustavo, deputado estadual pelo Solidariedade, cujo helicóptero foi apreendido com 450 quilos de cocaína, disse que ninguém de sua família precisa da política. Tudo bem – mas por que, então, tanto a Assembléia mineira quanto o Senado foram chamados a entrar com dinheiro público para pagar o combustível do “helipóptero”?

Falando para o mundo

O Ministério Público de São Paulo recomendou a suspensão de dez contratos de reforma e modernização do Metrô paulistano, por “indícios de irregularidades”. O secretário dos Transportes de São Paulo, Jurandir Fernandes, defendeu os contratos.

Até aí, tudo bem; mas soa estranho ouvir do secretário que “o mundo talvez tenha de aprender” com o Metrô daqui. Este colunista acha bom o Metrô paulistano; sem dúvida, é o meio de transporte urbano mais bem cuidado do país. Mas já andou de metrô em algumas cidades estrangeiras e, sem entrar em detalhes técnicos, não entende o que é que os gringos têm a aprender aqui, não.

Um ou dois fatos

Um dos contratos de reforma do Metrô paulistano se refere à implantação do sistema de segurança CTBC. O sistema, fabricado pela Alstom, não se adapta aos trens que ainda rodam em São Paulo. Não é a primeira vez que fatos como esse acontecem – coisa desagradável para quem quer ensinar o mundo. Houve os trens chineses que o Rio importou e não cabiam nas plataformas. E é provável que São Paulo sido o último cliente a usar computadores de cartão perfurado. Era difícil achar cartões, especialmente porque a Westinghouse, que forneceu os computadores, tinha deixado o ramo da informática uma ou duas décadas antes.

Desvio permitido

A deputada Janira Rocha, do PSOL fluminense, é acusada de exigir parte do salário dos funcionários de seu gabinete e de desviar dinheiro de um sindicato para financiar a campanha. O partido, no Rio, decidiu expulsá-la; mas a direção nacional do PSOL a manteve. Mais dinheiro é melhor que menos dinheiro.

O PSOL faz lembrar o secretário de Estado americano Cordell Hull, questionado pelo apoio ao feroz ditador dominicano Rafael Trujillo: “Pode ser um canalha, mas é o nosso canalha”. Na verdade, ele não disse “canalha”, mas deixa pra lá.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.