Siemensgate: ex-diretor da empresa não merece crédito, mas denúncias devem ser investigadas a fundo

everton_rheinheimer_01Lupa na mão – É no mínimo preocupante o rumo que toma a investigação do caso Siemens, empresa alemã acusada de liderar cartel formado para fornecer material metroferroviário ao Metrô de São Paulo e à Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Ex-diretor da empresa, o engenheiro Everton Rheinheimer prestou depoimento sigiloso à Polícia Federal, mas suas declarações são verdadeiros bambolês. Depois de entregar às autoridades um documento, sem assinatura, em que acusava políticos paulistas de terem recebido propina, Rheinheimer negou a autoria do mesmo. Isso se deu após ter tentado, com integrantes do Ministério da Justiça, um cargo diretivo na companhia Vale.

Alçado à mira da Siemens por sua conduta nada ortodoxa na relação com autoridades paulistas, Everton Rheinheimer se juntou à empresa, o que é estranho, para formar uma fileira de combate à corrupção. Uma atitude circense que tira dos depoimentos qualquer chance de credibilidade.

No novo depoimento, Rheinheimer cita pelo menos dois secretários do atual governo de Geraldo Alckmin (PSDB) e dois outros políticos. Fora acusados de recebimento de propina o tucano Edson Aparecido, chefe da Casa Civil, e Rodrigo Garcia (DEM), secretário de Desenvolvimento Econômico. Ambos são deputados federais licenciados, o que fez com que a Justiça Federal em São Paulo remetesse a investigação para o Supremo Tribunal Federal, com base na prerrogativa do foro privilegiado. Foram também denunciados o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP) e o deputado estadual Campos Machado (PTB-SP).

O ex-diretor da Siemens revelou em seu depoimento que ouviu de um dirigente da CPTM que os denunciados recebiam propina do cartel formado por empresas que atuam no setor metroferroviário. O depoimento surgiu na esteira de uma negociação de delação premiada, mas Rheimheimer negou ter provas contra os políticos citados.

Everton Rheimheimer deveria ser processado por conta das idas e vindas que marcam suas declarações. Não se pode aceitar um depoimento dessa natureza sem provas e que muda de acordo com as necessidades do denunciante. Isso não invalida a investigação que está em curso, pois a corrupção vem corroendo o País há muitas décadas. Contudo, não se pode atirar no patíbulo pessoas que apenas tiveram os nomes citados como possíveis envolvidos no caso.

O ucho.info continua defendendo a tese de que melhor seria se o governador Geraldo Alckmin afastasse os dois secretários dos respectivos cargos, medida que preservaria os próprios acusados e garantiria ao governo de São Paulo maior transparência no caso. No contraponto, é inadmissível a postura do PSDB no Congresso Nacional, que no rastro das acusações se comporta como menina mimada, que ora faz beiço no canto da sala, ora grita para alardear sua suposta inocência. Não há mais como conviver com situação de tamanha instabilidade, uma vez que a corrupção desenfreada vem arruinando o País de forma avassaladora.

O lado petista da moeda

Que o PT quer colocar o tucanato na berlinda todos sabem, mas não se pode esquecer que a legenda mostrou ao longo da última década a sua vocação para o banditismo político. E o Mensalão do PT, o maior escândalo de corrupção da história nacional, é prova inconteste dessa aptidão.

A Siemens não atua apenas no estado de São Paulo e todas as suas relações com governos devem ser investigadas, pois o cometimento de crime não escolhe local e data. Quem estiver disposto a dissecar a relação da empresa alemã com a Hidrelétrica de Itaipu pode atear fogo em um enorme vespeiro que carrega a estrela petista. Outro assunto que merece ser investigado é a construção do Metrô de Salvador, onde a Siemens atua em consonância com o governo petista de Jaques Wagner.