Investigação do caso do cartel liderado pela Siemens expõe as conexões da corrupção no País

dolar_25Chave de cadeia – É grave a denúncia feita pelo doleiro Marco Antonio Cursini em depoimento à Polícia Federal, no inquérito que investiga a formação de cartel liderado pela Siemens. Cursini disse que recebia de João Roberto Zaniboni, então diretor de Operações da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), dólares em espécie para serem depositados em conta bancária na Suíça.

Condenado na Suíça por lavagem de dinheiro, Zaniboni é apontado pela PF como o “trem pagador” das propinas a servidores públicos e políticos ligados ao governo paulista. Além isso, o ex-diretor da CPTM (1999-2003) foi indiciado no Brasil por lavagem de dinheiro, formação de cartel, corrupção e crime financeiro.

Acontece que João Roberto Zaniboni escolheu um doleiro enrolado com a Justiça para cuidar da parte final do esquema de corrupção. Marco Antonio Cursini foi condenado, em 2009, a 3 anos e 3 meses de prisão por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e sonegação, no polêmico caso Banestado, cuja CPI instalada no Congresso Nacional terminou em enorme e mal cheirosa “pizza” porque os petistas fizeram um acordo com os os tucanos e com muitos dos que estavam no alvo da investigação.

Dono de impressionante arquivo que contém nomes de clientes e valores transacionados, Cursini se valeu da delação premiada para conseguir reduzir a pena a que foi condenado, além de pagar multa no valor de R$ 4 milhões. Flagrado na Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, o doleiro acabou colaborando com a investigação, que por ordem do Superior Tribunal de Justiça foi anulada. A decisão de anular a operação, tomada pelo ministro César Asfor Rocha (STJ), aconteceu depois que nomes de dezenas de políticos influentes surgiram na lista de pagamentos da Camargo Corrêa e de outras empreiteiras.

A dupla face da interpretação

O magistrado entendeu que o Ministério Público se valeu de denúncia anônima para instalar os grampos para as escutas telefônicas. A anulação do inquérito foi conseguida pelo criminalista Márcio Thomaz Bastos, advogado da Camargo Corrêa.

Entendimento semelhante não foi considerado pelo atual ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, que enviou à Polícia Federal documentos suspeitos para o início da investigação do caso Siemens, que agora está sob a tutela do STF porque alguns dos citados são parlamentares federais.

Quem está conectado com quem

Afinal, quando surgiu pela primeira vez o nome de Marco Antonio Cursini na seara das investigações? Por ocasião da CPI dos Correios, o também doleiro Antônio de Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, que revelou o esquema usado pelo PT para remeter ao exterior o dinheiro da propina de Santo André, negou que tivesse feito qualquer remessa de dinheiro para Márcio Thomaz Bastos, que à época do escândalo era ministro da Justiça. Sem pensar muito, Claramunt sugeriu que Cursini fosse procurado para esclarecer o caso.

É importante salientar que, independentemente da corrente ideológica ou partidária, todos os políticos envolvidos em casos de corrupção devem ser submetidos às garras da lei, inclusive com direito à prisão quando for o caso. Até porque, o Brasil não mais suporta perder R$ 100 bilhões todos os anos por causa da corrupção. Ou os brasileiros dão um basta agora, ou é melhor aceitar a ideia de que o Brasil tornou-se terra de ninguém.