(*) Carlos Brickmann –
Já está no Supremo a denúncia de cartel (e, portanto, de superfaturamento) no Metrô e trens urbanos de São Paulo. Há quatro políticos investigados (Arnaldo Jardim, PPS; e três secretários do Governo Alckmin. Dois do PSDB, José Aníbal e Edson Aparecido, e um do DEM, Rodrigo Garcia). É um bom começo. Mas, considerando-se que o caso começou no Governo Covas e continuou com Alckmin e Serra, não estará faltando gente a ser investigada? Os próprios governadores, por exemplo. Os secretários de Transportes – gente que deve conhecer o ramo e estranhar o preço cobrado. Os secretários de Justiça. Corregedores, promotores, Tribunal de Contas. Serão todos como o pessoal que não viu o Mensalão, não sabia de nada? O cidadão paga este aparato todo para sentir-se seguro com a aplicação de seus impostos. Se não funciona, por que gastar com ele?
Imagine um grande banco. É possível que haja alguma roubalheira. Certamente haverá muitas tentativas de desvio de recursos. Mas o banco tem um sistema de vigilância que reduz seus riscos. Se banco pode, por que Governo não pode?
Há mais, há mais. Não existem no mundo muitas empresas que trabalhem no ramo de transportes ferroviários. As que operam no Brasil terão formado cartel apenas em São Paulo? E seriam corretíssimas com os demais Governos?
Na reunião do PT, diante de Lula e Dilma, houve três gritos de guerra, proclamando Dirceu, Genoíno e Delúbio “guerreiros do povo brasileiro”. Estes já foram apanhados pela Justiça. Mas muitos outros “guerreiros” aguardam sua vez.
Olho de vidro
Há casos muito interessantes de cartel. Um deles envolve duas obras, e duas empresas reunidas em consórcio. Numa das obras, a empresa A tem 93% do consórcio; a outra, 7%. Em outra obra, a empresa A tem 7%, a outra 93%.
A coisa estava tão fácil que as empresas nem se preocupavam mais em disfarçar.
História real
Na década de 80, um grupo europeu queria saber por que sua subsidiária brasileira não vendia para os clientes da matriz. Um dia, o diretor brasileiro resolveu o problema: levou à sede do grupo uma lista dos obstáculos para fornecer às multinacionais aqui instaladas. Não passou um mês, todas essas empresas passaram por ampla reformulação, que envolveu desde a diretoria de suprimentos até a recepção.
Se uma empresa pôde fazer, por que o Governo não pode?
Guerra à Justiça
No congresso do PT, José Genoíno foi aclamado como “guerreiro do povo brasileiro”. Outro guerreiro não foi lembrado: o comandante do Exército, general Enzo Peri. Deve ter ficado feliz com o esquecimento: tudo o que quer, agora, é passar despercebido. Peri é obrigado a retirar a Medalha do Pacificador do “guerreiro do povo brasileiro”, conforme o artigo 10 do decreto 4.207/02, que manda cassá-la em caso de condenação judicial por crime ou atentado contra o Erário.
Se continuar quieto, pode ser alvo de representação judicial de qualquer cidadão.
Quem paga a campanha
O Supremo Tribunal Federal está decidindo se empresas podem ou não contribuir para a campanha eleitoral de candidatos. Já existe gente comemorando a possibilidade de que, depois desse julgamento, venha o financiamento público de campanhas – uma velha reivindicação do PT, pela qual você, cidadão, ganhará o direito de pagar para quem quiser se candidatar. Nem é preciso comemorar: hoje, já existe farto financiamento público de partidos e campanhas. Só o horário eleitoral chamado gratuito custa R$ 600 milhões por ano em isenções fiscais; e, como é o Tesouro que paga, as emissoras cobram tarifa cheia, sem desconto.
Outras verbas, como o Fundo Partidário, dão às legendas uns três bilhões por ano.
A saúde no trabalho
Acaba de ser criada em São Paulo a primeira Liga de Medicina do Trabalho, coordenada por Maicon Ribeiro de Azevedo e orientada pelas professoras Cíntia Yoko Morioka e Mariana Aron. Seu objetivo é elaborar atividades de ensino, pesquisa, extensão e capacitação. A Liga de Medicina do Trabalho foi fundada por alunos da Faculdade de Medicina da Uninove, Universidade Nove de Julho.
Dança fluminense
Chuva é algo natural, temporal traz más consequências em qualquer lugar, os cidadãos mais pobres sempre são mais atingidos. O problema no Rio é que, entra ano sai ano, o noticiário não muda: as obras foram mal feitas (esta de inaugurar uma avenida sem sistema de drenagem de águas de chuva é inacreditável!), os bandidos aproveitam o trânsito congestionado para agir, as casas em áreas de risco desabam – mesmo sabendo-se há anos que estão em áreas de risco. E as regiões atingidas pelos velhos temporais continuam destruídas, a população ainda desalojada pelos desabamentos dos anos anteriores.
É como se as áreas em que moram os cidadãos mais pobres não valham a atenção do Governo fluminense.
Guerra repetida
Dois políticos paranaenses reeditam a batalha do Mensalão. Zeca Dirceu, filho de José Dirceu, é candidato a ser vice de Gleisi Hoffmann, PT. Seu rival é Osmar Serraglio, relator da CPI que levou à perda do mandato de José Dirceu.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.