Dinheiro, pra que dinheiro

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13Poder Executivo: o governador paulista Geraldo Alckmin, PSDB, candidato à reeleição, decidiu duplicar a verba de publicidade oficial. Gastando o dobro, imagina, terá mais votos. Há campanhas absurdas: de como o Metrô é bom (é mesmo, mas para que precisa de propaganda? Enfrenta concorrência?), do trabalho da Sabesp (estatal de águas e esgotos, que também não tem concorrência).

Poder Legislativo: a Câmara dos Deputados estuda novas reformas nos apartamentos que oferece aos nobres parlamentares, para que se deem ao sacrifício de morar em Brasília. Nos Estados Unidos, também um país imenso, quem vai para Washington paga sua própria moradia. Na Europa, a Suécia tem apartamentos funcionais em Estocolmo, mas os parlamentares pagam aluguel. No Brasil, um cavalheiro gasta milhões em campanha, percorre milhares de quilômetros para cumprimentar os eleitores, e quando se elege precisa ganhar casa de graça?

Poder Judiciário: o ministro Joaquim Barbosa, como presidente do Conselho Nacional de Justiça, quer criar uma política de comunicação (integrada, claro, um nome bem na moda). Precisará contratar agências, gastar com anúncios. Para quê? Há concorrência? O cidadão pode optar entre o Judiciário e algum outro sistema que dispute o mercado? Não? Então, por que investir em propaganda?

Poder Patronal: a Federação das Indústrias de São Paulo, que recebe verba oficial, multiplicou o gasto de publicidade, sob a direção de Duda Mendonça. Por coincidência, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, é candidato ao Governo paulista.

O nosso na fogueira

Por que os três poderes da República, mais o patronato, gostam tanto de gastar em publicidade? Porque o dinheiro não é deles. E não é só questão de gastos: o PMDB, cujo candidato ao Governo é Paulo Skaf, votou a favor do aumento do IPTU em São Paulo. Skaf, nos anúncios, diz que é contra o aumento do IPTU.

Qual a verdade: de quem foi lá e votou ou de quem diz, de boca, que é contra?

O gato comeu

A Câmara de Vereadores do Rio – que já atendeu pelo sugestivo nome de Gaiola de Ouro – decidiu dar um presente de Natal, com o nosso dinheiro, a seus servidores. Cada funcionário da Câmara, concursado ou não, recebeu um mimo de R$ 868,00, para a ceia de Natal – oficialmente, em linguagem legislativa, “o incremento das despesas de alimentação em decorrência dos gastos necessários para a organização da ceia natalina”.

Custo total: algo como R$ 2 milhões.

É coisa nossa

Jabuticaba, acredite, é exclusiva do Brasil. Também é exclusivo do Brasil o corrupto que, condenado, quer julgar o tribunal. O Brasil tem corrupção sem corruptor (é, na essência, o que alegam os condenados pelo Mensalão; e até hoje não foram denunciados os compradores de parlamentares no caso da reeleição), tem corrupção sem corrompido (como no caso do cartel do Metrô), teve Paulo César Farias, condenado por ser intermediário sem que os corruptores e corruptos que usavam seus serviços tivessem sequer o nome revelado.

E, bem coisa nossa, um caso contado pelo colunista Leandro Mazzini

Assim não dá, doutor!

Um grupo de assaltantes explodiu os caixas da única agência bancária de Paraipaba, no litoral do Ceará. O dinheiro voou, o barulho atraiu o povo e muita gente participou da colheita. Os bandidos ficaram decepcionadíssimos com a ampla participação popular no resultado do assalto. E fizeram então aquilo que, ao menos para os parcos conhecimentos deste colunista, é outra coisa nossa, exclusiva de nosso Brasil: enviaram uma carta à delegacia da cidade, garantindo que lá não pisam mais.

“Gastamos R$ 71 mil com o assalto e só recolhemos R$ 36 mil. Esse povo da cidade é muito ladrão!”

Para esse povo da cidade, cem anos de perdão. E alguma punição: a Polícia investigou o caso e obrigou dois cidadãos a devolver um computador e uma TV de alta definição que haviam pegado na agência, no meio do tumulto.

Manobra quente

O coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que a atriz Bete Mendes apontou como a pessoa que a torturou na prisão, na época da ditadura, deve ser candidato a vice-presidente do Clube Militar, pela chapa Tradição, Coesão e Ação, liderada pelo general Marco Antônio Felício. Brilhante Ustra chefiou o DOI-Codi de São Paulo, centro de tortura do regime militar, de 1970 a 1974; há cinco anos, foi declarado torturador pela Justiça (recorreu e foi derrotado também em segunda instância). É investigado pela Comissão da Verdade. Escreveu dois livros sobre sua atuação no DOI-Codi (Rompendo o Silêncio e A Verdade Sufocada). O general Marco Antônio Felício, que lidera a chapa de Brilhante Ustra, é o autor do manifesto Não Passarão, em que acusa a Comissão da Verdade de revanchismo.

Três é demais

Em 1953, o Taubaté venceu o Comercial e deveria ser promovido. Mas não subiu, por escalar Alcino irregularmente. E passou a ter o apelido de Burro. Mas esqueçamos quem perdeu. Lembremos que é a terceira vez que o tribunal livra o Fluminense do rebaixamento.

Não é meio muito ser tricampeão de inocência?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.