Perdendo o passo – É no mínimo estranho o comportamento do governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, em relação ao caso do cartel liderado pela Siemens, criado para fornecer material metroferroviário ao Metrô e à Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Quando o suposto escândalo produziu os primeiros rumores, Alckmin de pronto disse que o Estado de São Paulo era vítima e que uma comissão externa e independente investigaria o caso, mas até agora nenhum informação foi repassada.
Em seguida surgiu a denúncia levada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, à Polícia Federal com base em documento escandalosamente fraudado, mas desde então o PSDB tem optado pelo silêncio, após gritaria de ocasião.
Nesta semana, o jornal “Folha de S. Paulo” trouxe novas informações sobre o escândalo, mas como antes o tucanato paulista manteve o silêncio. Principal testemunha das investigações sobre o cartel dos trens, Everton Rheinheimer disse à PF, em depoimento prestado em novembro de 2013, que tratou pessoalmente de propina com o atual secretário de Desenvolvimento Econômico do governo paulista, Rodrigo Garcia (DEM), e um interlocutor do secretário de Energia, José Aníbal (PSDB).
Rheinheimer assinou um acordo de delação premiada com a Justiça e vem colaborando com as investigações sobre formação de cartel e suspeitas de pagamento de suborno a políticos do PSDB e funcionários do Metrô e da CPTM.
O teor do depoimento é mantido em sigilo pelas autoridades, mas parte foi transcrita na decisão da Justiça Federal que encaminhou o caso para o Supremo Tribunal Federal, em dezembro passado, uma vez que alguns dos acusados têm a prerrogativa de foro.
Trata-se de uma acusação extremamente séria, ainda sem comprovação, mas o mínimo que o governador Geraldo Alckmin deveria fazer é afastar os acusados, blindando o governo paulista contra os ataques rasteiros dos adversários políticos e não submetendo os acusados à condenação prévia.
Quem agiu dessa forma, acertada, diga-se de passagem, foi o então presidente Itamar Franco, que afastou temporariamente o amigo Henrique Hargreaves, à época chefe da Casa Civil, acusado de irregularidades no cargo. As investigações correram sem interferência e nada foi provado contra Hargreaves, que voltou ainda mais forte ao comando da Casa Civil.
Alckmin poderia imitar Itamar Franco, evitando que o mais importante estado brasileiro caia nas mãos de um partido que na última década provou ao mundo a sua inconteste vocação para a delinquência política, algo que cresce assustadoramente em todo o País. O governador já sentiu na pele a peçonha do PT e sabe como agem os atuais ocupantes do Palácio do Planalto, sempre sob as ordens de Lula, o lobista e alcaguete.