Polarizado, Egito inicia referendo para aprovação de nova Constituição

(Reuters)
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Futuro incerto – Começou nesta terça-feira (14) no Egito um referendo constitucional de dois dias, a primeira votação desde o golpe militar que derrubou o então presidente Mohamed Morsi, em julho de 2013.

O terceiro referendo constitucional desde a queda de Hosni Mubarak no rastro de um levante popular embalado pelo movimento conhecido como Primavera Árabe, em fevereiro de 2011, serve como teste para a popularidade do homem forte do país, o chefe das Forças Armadas, vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa, Abdel Fattah al-Sisi.

Enquanto o governo de transição e a liderança militar pedem aos egípcios a aprovação do texto – descrito como passo importante rumo à democracia no país do norte da África – partidários do deposto Morsi, integrante da Irmandade Muçulmana e primeiro líder a ter sido eleito democraticamente no país mais populoso do mundo árabe, convocaram um boicote à votação. Apesar disso, a previsão é que o documento seja aprovado por ampla maioria.

O projeto que está sendo submetido à população é baseado na Constituição de dezembro de 2012, elaborada sob forte influência da Irmandade Muçulmana e promulgada por Mohamed Morsi após referendo. O novo texto é uma colcha de retalhos feita por funcionários do governo e figuras públicas do país africano. Detalhes controversos de tendência islamita foram retirados do texto, ao mesmo tempo em que foram concedidos mais direitos aos cidadãos e uma nova leva de privilégios à polícia e ao Exército.

“Profunda polarização”

Os críticos acusam a nova versão da Constituição de focar menos a construção de um Estado democrático e fortalecer o poder das Forças Armadas e sua influência sobre a política egípicia.

O texto foi negociado deixando as forças islâmicas praticamente de fora, afirmou Ronald Meinardus, diretor do escritório da Fundação Friedrich Naumann no Cairo, em entrevista à emissora de rádio. O especialista afirma que o projeto de Constituição reflete a profunda polarização existente no país. “Isso não é um bom presságio para o futuro político e para a estabilidade política”, complementou.

O referendo também é importante para reforçar a popularidade do chefe das Forças Armadas, Abdel Fattah al-Sisi. O vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa anunciou no sábado que pretende disputar a eleição presidencial, prevista para este ano, “se o povo assim o desejar” e se ele receber o apoio das Forças Armadas.

Caso o texto seja aprovado, um novo presidente e um novo Parlamento devem ser eleitos em abril.

Bomba atinge tribunal

Duas horas antes da abertura dos locais de votação, um explosivo foi detonado diante de um tribunal, na capital do país, danificando a fachada do prédio, mas sem provocar feridos, segundo as autoridades.

Desde a queda de Mohamed Morsi foi verificado um aumento de ataques a autoridades e forças de segurança. O governo acusa a Irmandade Muçulmana de estar por trás dos ataques. (Com agências internacionais)